quarta-feira, 27 de maio de 2009

Terra de ninguém

Ricardo Goldbach

Quanto mais evolui a chamada inclusão digital ao redor do planeta, mais iniciativas surgem na esteira das oportunidades comerciais. É coisa absolutamente normal, manifestação do espírito empreendedor que já existia antes dos textos marxistas, antes mesmo de o capitalismo reconhecer-se pelo próprio nome.

O problema é que rede está infestada com as mesmas práticas apelativas, quando não antiéticas ou ilegais, que se vê no mundo de tijolo e cimento. Agora mesmo, mais uma rede de relacionamentos online começa a se promover no Brasil e as mesmas táticas condenáveis de sempre são usadas na empreitada.

Desta vez é a inglesa Badoo que quer disputar fatia de mercado com as operações já estabelecidas. Este clone das redes sociais famosas usa o resultado de phishing para se promover. "Phishing" é o nome que se dá ao uso de práticas e artifícios que enganam os usuários e acabam viabilizando o arrastão de endereços que volta e meia infecta nossas caixas postais com worms, que por sua vez enviam os endereços de todos os nossos contatos para os malfeitores. Algumas vêzes o phishing é alimentado pela ingenuidade de uns poucos (?), aqueles que repassam para seus contatos mensagens que trazem expostos todos os endereços dos destinatários anteriores. As consequências? Os endereços acabam nas bases de dados de spammers ou nos CDs vendidos a R$1,99 pelos camelôs. Estes dados, por sua vez, são comprados por marketeiros inescrupulosos, no Brasil e em Shangai, ou então na Inglaterra, pelo povo do Badoo, e assim a maré de lixo postal reflui de volta à nossa porta.

Comecei a receber recentements mensagens de gente de quem nunca ouvi falar, me convidando para aderir à rede Badoo de fulano, que mora na Itália, ou de sicrano, habitante da Tunísia. Uma das mensagens continha, sintomaticamente, convite de uma pessoa que me incluiu, à revelia, em sua lista de mensagens melosas, aquelas compostas em Power Point e repassadas ad nauseam por este mundão afora. Tudo com os nomes dos destinatários à mostra, contrariando a netiqueta que recomenda o uso de cópia oculta. Só que depois que a pasta de dentes sai do tubo não há mais volta, não há bispo com quem se possa queixar.

A Internet, como já se imaginava em meados da década de 90, virou um universo paralelo onde se copia as práticas do asfalto. Não é sintoma de paranóia proteger nossos dados pessoais e os de nossos amigos, evitando a disseminação indesejada deles. O delírio paranóide é uma reação temorosa diante de uma ameaça imaginária, mas não há nada de imaginário aqui; com o crescimento exponencial da Internet, aumenta também a incidência de práticas antiéticas ou criminosas através dela. A Internet virou mesmo terra de ninguém.

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