sábado, 31 de janeiro de 2009

Escrevinhança

Posto aqui um texto que escrevi em 2007. É ainda - e cada vez mais - atual.

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Acabou-se o isqueiro, acabou-se o casamento, acabou-se o emprego - e agora?


Fumo há mais tempo do que deveria. Isto me leva a uma convivência diária com isqueiros. No início, de grife - Ronson et caterva. Depois, os descartáveis mesmo.


Ao longo do tempo o paralelo entre isqueiros e relacionamentos foi ficando claro ao meu redor, no círculo de amizades e de conhecimentos, no mundo. Não mais a restauração do que se estragou, não mais o reabastecimento do que se esgotou. "- Este já deu o que tinha que dar, onde consigo outro"? Não se procura uma nova pedra - nem são mais encontráveis facilmente, nem se compra mais fluido - idem. Consertar? É mais barato comprar outro, mais barato ainda se fabricado na China e, seja qual for a origem, certamente durará menos.


Pensar nos relacionamentos ou ficares de hoje é inevitável. A procura por novos é grande e a oferta também. Mas serão realmente novos? Não trarão consigo os mesmos problemas de antes, aqueles que causaram o descarte anterior? Está cada vez mais difícil encontrar pessoas e cada vez mais trivial constatar a vazia busca por "espelhos mágicos", no frenetismo da night.


Trabalho há bastante tempo, desde uma época em que entrar na universidade era sinônimo de futuro garantido. Atualmente até estágio demanda esforço de procura. O emprego, como o conhecíamos, também está no final. Sou agora o escritório e a vitrine, o vendedor e o produto - no meio tempo, faço e trago para mim mesmo o cafezinho. A parte boa é que, de acordo com a "síndrome do sapo fervido", somos capazes de nos acostumar a quase tudo, mas nem tudo.


A demanda por "fazer mais com menos" está trazendo cada vez menos - felicidade, prazer, senso de realização.


É preciso consertar mais, reclamar menos e aproveitar os resultados. Eles vêm, isso é certo.


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