sábado, 31 de outubro de 2009

Contando o caso como o caso foi


Do lúcido e certeiro Augusto Nunes:

Sarney precisa saber que o abandono do local do crime não inocenta o criminoso
27 de outubro de 2009



"O Brasil precisa reaprender a contar o caso como o caso foi, usar a palavra justa no lugar do eufemismo malandro e enxergar as coisas como as coisas são. Por exemplo: onde parece haver a Fundação José Sarney existe a fachada de uma organização envolvida em incontáveis bandalheiras. E o que é apresentado como ”impossibilidade de funcionamento” tem cara de queima de arquivo.

Segundo o presidente vitalício, ”os doadores suspenderam suas contribuições pela exposição com que a instituição passou a ser tratada por uma parte da mídia”. Conversa de 171. Os parceiros fugiram antes que o camburão estacione no outro lado da rua. O barulho da sirene começou em junho, quando a Justiça atendeu ao pedido do Ministério Público Federal e determinou a devolução ao governo maranhense do Convento das Mercês".


Leia o restante aqui.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Schwarzenegger is back, em três atos

Ricardo Goldbach

Chill down, Arnold...


Ato 1:

O deputado da Califórnia Tom Ammiano não gostou do fato de Arnold Schwarzenegger ter ido a um jantar do Partido Democrata, em São Francisco, no dia 7 de outubro. Ammiano estava magoado com o governador da Califórnia, que havia promovido cortes em verbas destinadas a causas sociais e não tinha se manifestado a contento em relação a temas de interesse de homossexuais.

Foi o Republicano Schwarzenegger aparecer no jantar do partido para ser recebido por Ammiano aos gritos de "you are a liar" e "kiss my gay ass". Para Ammiano, o governador fazia teatro político com sua presença.


Ato 2:

A Assembléia Legislativa da Califórnia submete ao governador Schwarzenegger o projeto de lei AB1176, de autoria de Ammiano, que dá auxílio ao Porto de São Francisco para enfrentar dificuldades financeiras.


Ato 3:

Alguns dias depois, Schwarzenegger veta o projeto de lei, argumentando que os deputados deveriam se preocupar com temas mais importantes, como reforma dos sistemas penitenciário, de saúde e outros:





Mas, segundo o jornal San Francisco Chronicle, olhando-se a mensagem com mais atenção, é possível ler a verdadeira resposta do governador ao deputado:

To the Members of the California State Assembly:

I am returning Assembly Bill AB1176 without my signature.

For some time now I have lamented the fact that major issues are overlooked while many
unnecessary bills come to me for consideration. Water reform, prison reform, and health
care are major issues my Administration has brought to the table, but the Legislature just
kicks the can down the alley.

Yet another legislative year has come and gone without the major reforms Californians
overhelmingly deserve. In light of this, and after careful consideration, I believe it is
unnecessary to sign this measure at this time.

Sincerely,


Arnold Schwarzenegger

Coincidência? A assessoria do governador diz que sim. Você decide.


quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Quem é essa gente?

ou "quem cheira uma carreira, financia uma bala inteira"


Ricardo Goldbach

"Vamos fazer o que for necessário para limpar a sujeira que essa gente deixa no Brasil inteiro".
Com essa frase Lula pontuou o encontro que teve ontem, em São Paulo, com o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe.



Foto: Globo Online / Marcelo Franco

Aparentemente, ele se referia aos tiroteios entre traficantes, que infernizaram o Rio de Janeiro no fim de semana do dia 17 de outubro, e que tiraram a vida de policiais, criminosos e civis inocentes. Mas quem seria “essa gente”? Olhando de perto, muita gente pode estar sujando o Brasil inteiro:

Os plantadores de coca, dos países companheiros, Colômbia, Bolívia e Venezuela, seriam uma possibilidade.

Ou seriam as FARC, cujo fluxo de caixa depende da exportação de cocaína? Ou novamente as FARC, que trocam o dinheiro da droga por armas, para perpetuar o estado paralelo que criaram?

Ou novamente os produtores de cocaína que, para ajudar seus companheiros dos morros cariocas, exportam para cá fuzis e metralhadoras? Não interessa aos industriais do pó que seus negócios no Brasil e no Rio sejam ameaçados por policiais, isto é claro como água. Vem daí a necessidade de armar a bandidagem, para garantir o fluxo contínuo e tranquilo de drogas e divisas.

Ou Lula se referia aos que costuram, à sombra do Fórum de São Paulo, as alianças entre o petismo brasileiro e o revolucionismo latinoamericano, de matiz e inspiração castro-chavistas, e que desaguam nos projetos de poder do narcotráfico armado que assola a América Latina, como um todo?

Seriam por acaso os dois policiais militares, que durante os conflitos no Morro dos Macacos, se aproveitaram para furtar a arma de um terceiro policial?

Pode ser também que Lula se refira a um preso federal, que de dentro de sua cela no Paraná, dá ordens para invasões de morros.

Seriam os políticos e administradores que dizem, há décadas, que “não se muda nada de um dia para o outro”? Um deles disse isso ontem mesmo, no dia 20/10. Estes poderiam ser muito bem “essa gente” à qual o presidente se refere.

Por último, mas não menos importante, a referência pode ser ao último elo da cadeia criminosa, o consumidor da cocaína que é movida de lá para cá, a custa de muito tiro e muito sangue.

Mas se Lula, em sua tirada enxuta e tosca, estava se referindo a todos os acima, tem a total concordância e apoio deste que, ao longo de quase vinte anos, depositou seus votos e suas esperanças no sonho do PT. Um sonho que virou um pesadelo quando realizado.


segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Para amenizar



Uma flor é uma flor, é uma flor.

Queimaram o Rio de Janeiro

Ricardo Goldbach

Rio 2009 - Bandidos queimam helicóptero da polícia, manifestantes queimam ônibus, a prefeitura de Eduardo Paes queima dinheiro dos contribuintes e energia elétrica, além de colaborar para aquecer o meio ambiente.

São várias faces de uma mesma falência, visíveis neste aglomerado urbano mais desordenado a cada novo amanhecer.

Não há muita diferença entre o banditismo dos traficantes e o dos dirigentes da Rioluz, quando se considera o respeito (ou falta de) aos patrimônios alheios e coletivos. À luz da Constituição Federal (art. 125 e outros), os postes acesos constituem um crime praticado pelo poder público, mais grave ainda porque cometido com recursos de contribuintes. Ok, dos postes não saem balas perdidas - mas isso não é motivo para tolerância 10 ou 30. Tem que ser zero, mesmo, para que cesse de vez o cotidiano estupro da cidadania.

Rio, teu filme está definitivamente queimado.


18/10/2009 - Desperdício nas ruas do Rio, contribuição para o aquecimento global.

domingo, 18 de outubro de 2009

Temos mesmo muito tempo?

Ricardo Goldbach

Declaração otimista do relações públicas da Polícia Militar, major Oderlei Santos: "Nós temos muito tempo para a Copa do Mundo, para as Olimpíadas e até lá certamente a polícia prenderá muitos criminosos".

Ave, Major Santos; nós, os cidadãos que vamos morrer neste meio tempo, o saudamos.


O Rio exibe a tocha olímpica. Foto: Fabiano Rocha

O grande problema aqui é que o mundo está vendo - não vai dar para enganar a todos o tempo todo.


ATUALIZAÇÃO:

O Major Oderlei foi exonerado pelo governador Sergio Cabral, em 23/10, no bojo do escândalo que envolveu o assassinato do Coordenador de Projetos Especiais do AfroReggae, Evandro João Silva.

Aquilo que ficou evidenciado, aos olhos das câmeras de segurança e do bom senso, como omissão de socorro e furto (e talvez cumplicidade em latrocínio) por parte de dois policiais militares - um deles capitão - foi classificado pelo porta-voz da corporação como mero "desvio de conduta".

A legislação brasileira garante que todos sejam considerado inocentes, até prova em contrário. Mas o erro do Major Oderlei foi ter feito péssimo e inoportuno uso da doutrina do "in dubio pro reu".

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Relembrando Lombroso

Ricardo Goldbach



Foto: autoria desconhecida

Mais sobre Lombroso e sua teoria sobre o Homem Delinquente, em texto do promotor de Justiça em Minas Gerais, Lélio Braga Calhau.

Virou moda: pagar para ver propaganda

Ricardo Goldbach

No ano de 2000, Mel Gibson estrelou um filme, What women want ("O Homem que Entendia as Mulheres", no Brasil), que era um belo comercial da Nike, com duração de 1h37. Pagou-se à época para ver a propaganda no cinema, paga-se hoje para revê-la em canais de TV a cabo. É claro que o comercial vem embrulhado em papel bonito: par romântico, climax e anticlimax, as receitas que sempre apelam ao pathos (do grego, paixão, excesso, catástrofe, passagem, passividade, sofrimento e assujeitamento) do espectador - daí vem a expressão "patético".

Nestes tempos bicudos, em que a publicidade deve se esforçar mais do que nunca para enfrentar retrações de mercado e desconfiança de consumidores, Holywood faz mais um gol. Segundo a PC World, o desenho animado Family guy ("Uma Família da Pesada") dedicará um episódio inteiro à promoção do Windows 7, no dia 8 de novembro.

Quando se para e pensa, o que parece ser trivial não acaba mostrando a verdadeira e patética face?


sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Souza Cruz, Carlton e Dunhill - uma estratégia e uma fraude

Ricardo Goldbach

Eu ia escrever um post sobre a estratégia da Souza Cruz, ao reposicionar a marca Carlton como Dunhill. Deste reposicionamento faz parte retirar sete cigarros de cada maço de Carlton, substituindo-os por unidades de Dunhill. No entanto, encontrei excelente texto a respeito, no blog do escritor Paulo Ribeiro e meu post vai ser mais enxuto (e menos literário e saboroso que o de Paulo).

Se fosse a mera substituição de seis por meia dúzia, sem problemas - ou quase, já que cigarro é sempre um veneno. Mas o fato é que a Souza Cruz troca o produto original por outro, com menores teores de nicotina e sabor diferente, e quem fuma constata logo a substituição.

Ser fumante, como sou, já é demonstração de burrice. Sobre esta nova prática, que frauda o consumidor em 35% no mero ato da compra, não há quase nada a falar - a não ser denunciá-la ao Cade, coisa que já fiz.


Atualização - 29/10/2009

Um leitor (acessando via Telesp, IP 187.56.8.213) lembrou-me que neste post faltou eu mostrar evidências. Apesar de a mensagem dele ser um pouco agressiva, tosca e com mais erros de português do que se esperaria de um ser pensante, reconheço que, ao contrário do usual, não postei aqui imagens para corroborar meu texto.

Seguem, portanto, fotos da estratégia de reposicionamento que mencionei.








A parte menor do maço (à esquerda, na foto imediatamente acima) contém sete cigarros reposicionados, com sabor inteiramente diferente dos outros 13. Esta prática seria facilmente detectada através de um blind test, ou por quem fuma a mesma marca há mais de dez anos e reconhece a diferença.

Em tempo: aproveitei que a Souza Cruz retirou do mercado meu cigarro favorito e resolvi abandonar de vez o fumo, faz cerca de uma semana. Na boa, melhoraram meu fôlego, meu paladar, meu sono e minha disposição em geral.

Torço sinceramente para que o escritor Paulo Ribeiro também aproveite a deixa.

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Atualização - 01/01/2010 Confirmando o que já era certo, constato que um dos acessos a este post veio do Google, às 20h50 desta data, com uma auto-explicativa expressão de busca:

"www.google.com.br/search?hl=pt-BR&q=carlton ficou mais fraco&meta="


domingo, 4 de outubro de 2009

Orkut x Facebook: um case de baile funk corporativo

Ricardo Goldbach


No dia 30 de setembro publiquei, em meu perfil no Orkut, uma observação sobre como a disputa por fatia de mercado, que Facebook e Orkut travam atualmente, ignora completamente os interesses de usuários. Naquela data escrevi:


Orkut, uma vergonha
(30/09/09)

Facebook e Orkut estão em plena atividade pela disputa de mercado. Como jogada mais recente, o Facebook introduziu em sua página uma funcionalidade que permite que o usuário importe seus contatos, previamente exportados do Orkut, e os convide para o Facebook.

Como o Orkut respondeu? Esta rede - que se caracteriza pelo mau atendimento do suporte, pela inserção excessiva de anúncios e pela inconstância e instabilidade das aplicações que implementa - aparentemente optou por desfigurar a funcionalidade de exportação de contatos, de modo a sabotar a manobra do Facebook.

A exportação simplesmente não funciona mais; ela gera agora um texto contendo código HTML (sem qualquer dado sobre contatos), em arquivo de extensão CSV (!). Isso pode até ter sido causado por mais um dos erros de desenvolvimento e manutenção da equipe. Mas desconfio muito da coincidência, que atinge resultado tático palpável.

Não é por acaso que o Orkut só deu certo no Brasil, e, possivelmente, nem isso poderá ser dito a respeito dele, em pouco tempo.


Dois dias depois, em 02/10, a publicação PC World confirma minha impressão, comprovando que "um teste realizado pelo IDG Now! mostrou que, ao tentar fazer a exportação, após digitar o código de segurança (captcha), o Orkut redireciona à sua página inicial, sem qualquer outro aviso".

A matéria da PC cita o conceituado TechCrunch, que, por sua vez, diz que "antes da ferramenta do Facebook, a própria ferramenta do Orkut para exportação de contatos em CSV, algo simples e rápido de se fazer, não está mais funcionando, o que dá margem à suspeita de que talvez o Google tenha suspendido a ferramenta".

É isso. Por conta de uma briga por audiência, usuários do Orkut agora estão impedidos de exportar suas listas de contatos. É sabido que em muitas ocasiões as grandes corporações fazem suas táticas assumirem ares de baile funk, mas a constatação é sempre desalentadora.



sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Fraude bancária de última geração

Ricardo Goldbach

Esta é mesmo impressionante. Segundo a revista Wired, saqueadores digitais não se contentam mais em apenas roubar senhas e usá-las para fraudes bancárias, via Internet.

Uma gangue desviou 3oo mil euros de bancos alemães no mês de agosto, de acordo com a empresa de segurança Finjan. Nada de espantoso, isso é coisa que acontece todos os dias.

Neste caso, no entanto, um sofisticado mecanismo inserido no navegador dos correntistas saqueados faz uma maquiagem no relatório de saldo da conta; no momento de uma consulta, ele esconde o saque fraudulento e exibe o saldo esperado pela vítima ao invés do valor real.

A saída é a mesma de sempre: evitar ao máximo a tentação de executar programas recebidos por e-mail, mesmo que venham de remetentes conhecidos. As apresentações em Power Point e as planilhas Excel, igualmente, podem esconder softwares do mal em suas macros. Abrir qualquer arquivo recebido, hoje em dia, equivale a andar sozinho à beira do cais de um porto, às 2 horas da manhã. Você se arriscaria?

Nota de repúdio

Ricardo Goldbach

"Prêmio é para premiar e não para chantagear"
(Carlos Carvalho, citado por Patricia Gouvêa)


Repoduzo aqui correspondência aberta, endereçada pela fotógrafa e sócia do Ateliê da Imagem, Patricia Gouvêa, à organização do Prêmio FOTOARTE 2009.

Após ter recebido Menção Honrosa por ensaio submetido, Patrícia foi surpreendida pela exigência de aceitação, a posteriori, de "2 cláusulas que não constavam do regulamento".

A AFOTO Brasília - Associação de Fotógrafos de Brasília - manifestou-se favoravelmente à posição da fotógrafa, depois de consultar um especialista, no sentido de repudiar tal repactuação de regras.

Patricia solicitou a devolução dos trabalhos originais e proibiu taxativamente que os organizadores fizessem qualquer utilização de suas obras.

É de se observar que até o corpo de jurados manifestou-se solidário à premiada, no sentido de que se respeite o regulamento, mas a organizadora, Karla Osório, aparentemente mostra-se inflexível em sua posição solitária e contrária ao pleito.

Em tempos de apropriação desenfreada e indébita de ideias e patrimônios alheios, presto aqui minha solidariedade à colega.


ATUALIZAÇÃO:

Em 5/10, por volta das 22h30, Patricia Gouvêa informa, via Facebook:




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"À produção da FOTOARTE, Prêmio FOTOARTE 2009 e aos jurados,

Venho por meio desta informar que estou abdicando da Menção Honrosa recebida e que todos os materiais por mim enviados (CD com imagens am alta, biografia etc) devem ser inutilizados ou devolvidos e minhas imagens retiradas de qualquer suporte de divulgação.

Foram inúmeras as minhas tentativas, desde a última segunda-feira e as do júri para que a Sra. Karla Osório concordasse em redigir o termo de cessão de direitos de imagem, onde foram incluídas 2 cláusulas que não constavam do regulamento, cujo teor fere os direitos autorais dos fotógrafos, constituindo, portanto, ato irregular e que apenas beneficia as empresas controladas direta ou indiretamente pela ARTE 21:

4. A CESSIONÁRIA fica expressamente autorizada pelo CEDENTE a executar livremente a montagem das fotografias objeto deste contrato, podendo proceder aos cortes, às fixações e às reproduções necessárias.

6. A CESSIONÁRIA poderá ceder os direitos sobre a(s) fotografia(s) e/ou a conceder autorização de utilização a quaisquer empresas sob seu controle direto ou indireto, bem como a entidade sem fins lucrativos, especificamente à WWF Brasil, sem obrigação de efetuar qualquer pagamento ao CEDENTE.

A primeira é preocupante pois autoriza cortes na imagem, mas a segunda é ainda mais grave: por meio dela as imagens poderão ser usadas por outras empresas sob controle da ARTE 21 e outras ONGs!!!!

Todo o júri (Éder Chiodetto, presidente, Rogério Assis, Suzana Dobal, Marcelo Reis, Milton Guran e Tiago Santana) me apoiou e está pedindo que a Karla refaça os contratos e anule os antigos a partir da minha contestação, mas parece que ela, infelizmente, está optando por ignorar até mesmo o juri e passou a dizer que eu sou a única reclamante sobre o assunto, o que deixou a todos ainda mais perplexos.

Estamos num momento de mudança de paradigmas e as pessoas não podem ser irresponsáveis e precisam pensar de forma coletiva. Decidi então abdicar do prêmio, pois acredito que todos os fotógrafos tem que ter seu contrato revisto e os antigos rasurados, pois este é um problema grave que diz respeito a todos. Anteriormente a AFOTO, associação dos fotógrafos de brasília, já havia feito uma denúncia contra o prêmio, com comentários de um advogado especialista em direitos autorais: http://afotobrasilia.wordpress.com/2009/08/26/2º-premio-foto-arte-brasilia/

Este pedido foi ignorado, assim como agora um pedido coletivo e que envolve o juri do prêmio está sendo ignorado. A Sra. Karla Osório prefere manter uma atitude inflexível e colocar a questão como se fosse um ato isolado de contestação de minha parte, o que demonstrar sua falta de boa vontade com a questão, e que coloca em dúvida suas reais intenções com este prêmio. Muitas tem sido as manifestações em todo o Brasil contra esta atitude. Neste email estão copiados alguns premiados, para que tomem conhecimento da minha decisão: Macia Folleto, A.C. Júnior, Dalton Valério e Charly Techio.

A resposta ontem do presidente do júri, Eder Chiodetto, após mais um email evasivo da Carla foi contundente e simboliza a opinião do júri:

"Olá Karla,

Já foram muitos emails trocados, a posição de todo o corpo do jurado já está absolutamente clara. E nós seguimos estarrecidos com a sua posição inflexível. Nada justifica esse seu comportamento. Se todos estão apontando para uma direção porque você acha que é a única que pode ter razão? Também pedimos para advogados ler o regulamento e a cessão de direitos e o retorno é de que há um claro conflito entre ambos. Que a Cessão de Direitos pode sim prejudicar os fotógrafos que a assinarem da forma como já salientamos. Se não é isso que você quer, como você tem repetido "n" vezes nos emails, porque não alterar as duas cláusulas que desde o início estamos solicitando? Para você não mudaria nada, não é? Faça um comunicado oficial e público de que o Termo de Cessão enviado está anulado mesmo para quem já o enviou pelo correio e reenvie um outro. Mas, antes, submeta ao corpo de jurados, por favor. Porque eu não tenho autoridade para decidir sozinho qualquer coisa com você. É o nome e a reputação de todos do júri que está em jogo. Essa história já está extrapolando e ganhando uma repercussão sem controle.

Eder Chiodetto"


Para encerrar, gostaria de deixar uma frase do Carlos Carvalho, que serve para nossa reflexão: "Prêmio é para premiar e não para chantagear."

Atenciosamente,


--
Patricia Gouvêa"


quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A bagunça começa na falta de preparo

Ricardo Goldbach

Um copy&paste começa a repercutir - e muito mal - na infoesfera. Maria Helena R.R. de Souza, que se qualifica como "colaboradora entusiasmada do Blog do Noblat", fez plágio integral de matéria originalmente publicada no blog Rio Acima, do JB, no dia 7/9/09, intitulada "A praia do carioca começa na Lapa" e assinada pelo editor do caderno Cidade do JB, o jornalista Marcelo Migliaccio.



Matéria original de Marcelo Migliaccio
fonte: blog Rio Acima, do JB

data de publicação: 07/09
acesso em 01/10/09


A obra de Maria Helena foi publicada com o mesmo título, o mesmo texto e as mesmas vírgulas, num blog do Globo Online, em 26/09:



Antes: "Enviado por Maria Helena / ENVIADO POR RIAL".
fonte: reprodução do portal Comunique-se

data de publicação: 26/09


Após alertada por Migliaccio, Maria Helena reeditou o post, incluindo crédito ao JB e ao blog de Migliaccio:



Depois: "Enviado por Maria Helena / DEU NO JB ONLINE - BLOG RIO ACIMA".
fonte: blog citado
acesso em 01/10/09


Quem primeiro pediu desculpas pela lambança não foi Maria Helena, mas o editor do O Globo, Paulo Mussoi. A desculpa dada por ele, segundo matéria de Sérgio Matsuura, publicada no portal de jornalismo Comunique-se, funda-se no fato de Maria Helena não ser jornalista e ter passado adiante, de boa fé, texto que recebeu por e-mail.

Esta alegação de Mussoi é uma das muitas que ainda veremos por aí, nestes tempos de jornalismo sem diploma e sem lei. Estamos vendo um infeliz caso de "aprendizado na prática". Mas Maria Helena mostra que não aprendeu tudo, no entanto; sem a devida autorização para o uso de várias fotografias e sem a atribuição dos devidos créditos, nesta data o material do fotógrafo ainda encontra-se disponibilizado no blog da aprendiz:



Depois: o desrespeito à Lei permanece - o trabalho fotográfico, não autorizado nem creditado, ainda é usado
fonte: blog citado

acesso em 01/10/09


Outra coisa chata nessa história é que nem no JB foram creditadas as fotos que ilustram a matéria de Migliaccio. Nestes tempos forenses é até possível descobrir que a foto de abertura foi feita às 0h44 do dia 8 de fevereiro de 2008, com uma câmera Sony DSC-W55, ISO-320, abertura de 2.8 e exposicão de 1/8s, mas o nome do autor ainda é uma incógnita.

O trabalho do fotógrafo, diga-se, está amparado por dispositivo legal - a Lei Federal nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que protege direitos de autor quanto ao uso "de obras fotográficas e produzidas por qualquer processo análogo ao da fotografia" (art. 7º, VII). Esta mesma lei é clara quando diz que "a fotografia, quando utilizada por terceiros, indicará de forma legível o nome do seu autor" (art. 79º, §1º).



quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Sem comentários


A pérola abaixo foi exibida neste blog, através do sistema de publicidade do Google.

A infelicidade do texto dispensa comentários.


terça-feira, 15 de setembro de 2009

É esse Rio que vamos mostrar aos visitantes em 2014 e 2016?

Ricardo Goldbach

A cada novo dia, o Rio de Janeiro insiste em mostrar que não está pronto para ser palco de arremessos de dardos, saltos ornamentais e decisões de campeonato de futebol.

Em recorrente episódio de violência urbana, Ricardo Wagner Silva, 39, reagiu à tentativa de roubo de sua motocicleta, no cruzamento das ruas Alberto de Campos e Vinicius de Morais, em Ipanema, na manhã desta terça-feira. Baleada no pescoço ao fugir, a vítima ainda colidiu com um veículo estacionado, antes de subir na calçada e tombar. O motociclista faleceu posteriormente, e os três assaltantes, que estavam em duas motocicletas, escaparam.





Fotos: RGold


Já a professora de educação física, Ciléa Cordeiro, 27, encontra-se em coma desde o dia 5 de setembro, quando o parabrisa do carro que dirigia foi atingido por uma pedra de cerca de 10 quilos, na Linha Amarela. Arremessada por bandidos da região, a pedra atravessou o vidro e atingiu a cabeça da motorista, provocando fratura exposta de crânio.





Estes são apenas dois dentre os inúmeros casos que aterrorizam e enlutam os cidadãos do Rio de Janeiro. As ações dos criminosos, que se apossaram de uma cidade que já foi maravilhosa, servem apenas a eles mesmos e à indústria da segurança, para a qual quanto pior melhor.

O estado de guerra civil que o Rio vive vai derrubando, lentamente, o PIB da cidade; o que as autoridades omissas não percebem, em visão de curto prazo, é que quanto mais contribuintes são mortos, menos sobram recolhedores de tributos. E menos turistas se dispõem a visitar o Rio, pois é mundialmente notório que, além do dinheiro a ser gasto em hotéis e restaurantes, podem haver despesas com hospitais e caixões - outros legados previsíveis da Copa do Mundo e das Olimpíadas.

Será que ao menos este argumento, o da falência econômica do Rio, faria as coisas mudarem para melhor? Ou será que os governantes cariocas querem - à semelhança da esposa do presidente da República - obter cidadania em país europeu, para dar melhor futuro aos filhos?

Haverá uma cidade para ser mostrada aos turistas de 2014 e 2016? E se houver, os visitantes farão nas ruas do Rio fotos iguais a estas?

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

No vale-tudo da blogosfera

Ricardo Goldbach

Abomino o copy&paste como forma de jornalismo, apesar de isto ser um lugar comum, nestes tempos em que blogs proliferam como cogumelos após a chuva. Nada contra o blog como ferramenta que sirva a algum propósito, mas tudo contra a publicação de textos do tipo "ouvi dizer que..." ou que sejam apócrifos e desprovidos de citação de fonte.

Se é o caso de se reproduzir algo recebido por e-mail ou lido em um outro blog, que ao menos haja um prudente e responsável trabalho de verificação. Pesquisa e verificação são dois conceitos que devem existir na cabeça do vivente antes mesmo da matrícula em uma faculdade de jornalismo, ou que ao menos sejam absorvidos no decorrer do curso.

O caso aqui é um texto que recebi por e-mail, que chamou minha atenção e me provocou a natural desconfiança quanto à veracidade. Encontrei o mesmo texto - com pequenas variações - em mais de 20 blogs; em nenhum deles há citação de fonte ou outro atributo visível de credibilidade. Todas as ocorrências se iniciam pela frase
"Eu já havia lido sobre a dificuldade de fazer beneficiários do Bolsa Família entrarem no mercado formal de trabalho no Nordeste".

Quem é "Eu"? Talvez eu tenha descoberto; havia uma nota igual, publicada na versão impressa do jornal Diário do Comércio (RS), na edição de 14 de agosto, segundo informa a versão online daquele mesmo jornal. Por estar na coluna Painel Econômico, assinada pelo jornalista Danilo Ucha, considero a nota merecedora de crédito. Fica apenas a dúvida sobre como um jornalista do Rio Grande do Sul teria testemunhado uma reunião da Federação das Indústrias do Estado do Ceará. Mas, ainda acreditando em um jornalista, reproduzo a nota:


"Bolsa Família

Eu já havia lido sobre a dificuldade de fazer beneficiários do Bolsa Família entrarem no mercado formal de trabalho no Nordeste e até achava que havia um pouco de política de oposição na história. Ontem, em reunião na Federação das Indústrias do Estado do Ceará, vi a história, contada e documentada, e bem pior do que eu imaginava. O Sinditêxtil-CE realizou um curso de preparação de mão de obra de 500 costureiras para o setor, onde está faltando gente. Das 500 mulheres que fizeram o curso, nenhuma ficou empregada, para decepção dos organizadores e das empresas que esperavam pelas novas empregadas. “Nenhuma, nenhuma aceitou o emprego porque teria que ter a carteira de trabalho assinada e, assim, perderia o benefício do Bolsa Família”, informou Franze Fontenelle, “foi muito triste para nós.” Todas queriam trabalhar se fosse informalmente, isto é, ficar com dois salários".


fonte: versão online do jornal Diario do Comercio


Então ficamos assim: aparentemente é fato que o Bolsa-Família, ao não prever a situação noticiada, tenha feito jus à pecha de assistencialismo que não raro é atribuída a ele. Mais ainda, o programa também teria servido de alavanca para o desperdício do dinheiro gasto pelo Sindicato com a formação das profissionais que optaram por não trabalhar ao final do treinamento, preferindo receber a esmola oficial.


quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Scientia Brasilis

ou da importância da construção de conhecimento no Brasil

Ricardo Goldbach




Das descobertas serendípticas aos resultados obtidos pela perseverança que contorna obstáculos, a história da caminhada humana na face da Terra registra achados movidos tanto pelos ditames da macroeconomia quanto pelo lampejo nascido de necessidade imediata de resultado. Mas a Ciência vive de alimento - tanto espiritual quanto material - para existir e permanecer. Em troca, novos achados realimentam a possibilidade de novas conquistas. Não à toa, justamente na mais antiga universidade ainda em funcionamento no mundo ocidental, a Universidade de Bologna, foi estabelecida a conotação acadêmica para alma mater (do latim, "mãe que nutre") já em sua fundação, em 1088. A Universidade é uma nutriz.

Em 2008, gravei entrevista com o Chefe do Laboratório de Entomologia do Instituto Oswaldo Cruz e Pós-Doutor em Entomologia Médica pela University of Massachusetts Medical School, Anthony Érico da Gama Guimarães. O gancho era a grande escala atingida pela epidemia de dengue no Brasil e cuja intensidade oscilava entre os períodos de pico, apesar de existir permanente latência da ameaça. Mas a dengue é na realidade uma endemia, como a Secretaria Municipal de Saúde de Campinas (SP) já alertava em 2000, em Boletim Epidemiológico: "Há uma expansão contínua da endemia de dengue no planeta".


Dez anos mais tarde, onde estamos? Num quadro de recrudescimento da expansão da endemia e do aumento do número de notificações e dos óbvios impactos na sociedade, para além dos aspectos da Saúde. Segundo a Agência Brasil, por exemplo, o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, seção Rio de Janeiro (AbihRJ), Alfredo Lopes de Souza Júnior, informou que, em março de 2009, mais de 1.500 sites registravam "em todo o mundo, o nome dengue vinculado ao Rio de Janeiro". Neste mesmo ano de 2009, assistimos o nascimento de uma hecatombe sanitária conhecida como "gripe suína" - novas ameaças surgem, sem que as antigas tenham sido neutralizadas.

Enquanto isso, no Instituto Oswaldo Cruz, o cientista Anthony Érico prossegue em suas pesquisas no sentido de lapidar uma descoberta sua: o efeito biocida de determinadas plantas da Mata Atlântica sobre as larvas do Aedes Egypti, sem quaisquer efeitos nocivos para seres humano ou animais. Há na flora brasileira um insumo para a produção de importante coadjuvante no combate à dengue, cuja fabricação e uso dispensam pagamento de royalties às farmacêuticas multinacionais...

Maior do que o alto custo do combate aos efeitos das doenças, é o preço pago por não se alocar generosamente os recursos de que a Ciência precisa para assentar mais tijolos na construção de conhecimento no Brasil. Tais recursos seriam - suponho - muito menores do que, por exemplo, os custos burocráticos consumidos apenas nas meras atividades administrativas de registro e divulgação das baixas e fatalidades desta guerra sem fim.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

A cada Kilowatt economizado... não acontece nada

Ricardo Goldbach

Em março passado, mais precisamente no sábado, dia 28, o mundo testemunhou um movimento denominado "Hora do Planeta". Simbolicamente, luzes de monumentos e locais públicos foram desligadas, numa tentativa de alerta para a premente causa do aquecimento global.


Segundo a Ong WWF, mais de 80 cidades brasileiras aderiram à ideia, também abraçada por centenas de empresas. Para os políticos, ao menos os do Rio de Janeiro, a adesão não passou de fanfarronice publicitária; as autoridades municipais responsáveis pela iluminação pública continuam a cobrar dos contribuintes a conta dos desperdícios elétrico e térmico. Centenas destas lâmpadas acesas durante o dia aquecem desnecessariamente o meio ambiente, só não vê quem não quer. É possível até que seja o pior - só não vê quem tem interesse na queima e reposição daquelas lâmpadas.



Eduardo Paes, aquele cidadão que o TRE diz ter sido eleito para o cargo de prefeito do Rio de Janeiro, continua a queimar dinheiro, dia e noite, principalmente de dia. Copacabana, Lapa, Ipanema... Dez horas da manhã, três horas da tarde... Escolha-se qualquer bairro, qualquer hora, e constate-se o verdadeiro crime que a Prefeitura comete contra as contas públicas, as reservas energéticas e o cada vez mais insalubre meio ambiente.

Para os técnicos que desconhecem o problema ou a geografia dos bairros cariocas, as fotos, feitas no cruzamento das ruas Tonelero e Mal. Mascarenhas de Moraes, já são um bom começo. Caso o prefeito continue ignorando a Lei (como a ignora em inúmeros outros temas), corre o concreto risco de responder a Ação Civil Pública por infração ao disposto na Constituição Federal, e cujo patrocínio cabe mandatoriamente ao Ministério Público Federal, eis que a CF protege direitos coletivos:



"CAPÍTULO VI
DO MEIO AMBIENTE

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações".

Há alguém do MPF na platéia?

Arquiteto real projeta museu virtual, o Museu da Corrupção

Ricardo Goldbach

Formado em Arquitetura, com direito a Juscelino Kubitschek como paraninfo da turma, o mineiro Rodrigo de Araújo Moreira, de 78 anos, é um premiado profissional do mundo real. Fortemente influenciado por Oscar Niemeyer, Rodrigo é responsável por projetos tais como o escritório da Usiminas, em Itabira, a sede do Clube de Regatas Vasco da Gama, em Santos e a sede do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA) de São Paulo. Desta vez Rodrigo inovou, ao projetar o Museu da Corrupção, transposto da prancheta real para o universo virtual por estudantes de arquitetura contemporâneos.

O museu, que de virtual tem apenas o substrato, foi concebido com base em conceitos arquitetônicos para abrigar a história moderna e concreta da corrupção no Brasil. O visitante pode navegar através dos itens do acervo, dispostos ao longo de salas constantemente abastecidas com novas peças.

Ao contrário das enfadonhas porém tristemente verdadeiras colagens de casos de corrupção que circulam atualmente por e-mail, o Museu da Corrupção tem o mérito de permitir, ao mesmo tempo, a visitação não linear e o aprofundamento em conteúdo textual e infográfico amenizados pela crítica satírica.

Esta iniciativa, patrocinada pelo jornal Diário do Comércio, de São Paulo e sob curadoria da jornalista Regiane Bochichi, reflete com infeliz acerto a necessidade - nestes tempos de inimaginável desgaste das instituições políticas brasileiras - de não se deixar a história contemporânea ficar relegada aos recantos dispersos e voláteis da memória coletiva. Seria melhor que sua existência fosse desnecessária.


quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Glaxo, Novavax, Baxter e Gilead - a nova corrida do ouro?

Ricardo Goldbach

A evolução dos papéis das quatro empresas de biotecnologia mostra trajetórias semelhantes e convenientes. Após o pico atingido em agosto de 2008, os valores de mercado de três daquelas companhias tiveram queda constante, somente estancada pouco antes da eclosão da primeira epidemia da gripe A(H1N1), ocorrida no México em abril de 2009.











GlaxoSmithKline (fonte: stockspy.com, acesso em 06/08/2009)











Gilead Sciences (fonte: stockspy.com, acesso em 06/08/2009)











Novavax (fonte: stockspy.com, acesso em 06/08/2009)











Baxter International (fonte: stockspy.com, acesso em 06/08/2009)


A inglesa GlaxoSmithKline é a fabricante do antiviral Relenza, sob licença da australiana Biota Holdings Ltd., que recebe como royalties 7% dos resultados das vendas. Com a estimativa da Glaxo de aumento de sua produção anual, de 60 para 190 milhões de doses, as ações da Biota tiveram uma valorização de 400% desde o início de 2009.

A Novavax é uma concorrente de peso neste mercado e anunciou, em 5 de agosto de 2009, o início da utilização de processo por ela patenteado - o Virus-like Particle (VLP) - para reduzir de nove para três meses o tempo de fabricação de antivirais contra o H1N1. Além de mais rápido o VLP é mais barato, pois não utiliza ovos de galinha preparados para cultura de virus destinados à produção de antígenos, como nos processos convencionais.

E o que é Baxter International? É a empresa norteamericana de biotecnologia responsável pelo antiviral Celvapan. Foi de uma instalação da Baxter na cidade austríaca de Orth-Donau, que escapuliu acidentalmente, em fevereiro de 2009, uma não totalmente explicada recombinação entre os virus causadores das gripes A(H5N1), a aviária, e A(H3N2), a influenza sazonal comum. O material contaminado foi distribuído para instalações fabris na Eslovênia, República Tcheca e Alemanha, onde foi utilizado na fabricação de vacinas contra o H3N2. Este grave acidente, explicado pelo porta-voz da Baxter alemã, Jutta Brenn-Vogt, e também reportado pelo Toronto Sun (Canadá), pode ser considerado uma catástrofe, pois deu ao H5N1 o grande poder de transmissão do H3N2, quando o primeiro era considerado como estando sob controle. A grande imprensa não deu mais atenção ao episódio, a quantidade e a localização das mortes resultantes da vacinação fatal não foi divulgada, e a Baxter prosseguiu normalmente no business de antivirais, as usual.

Já a Gilead Sciences é a detentora da patente do Tamiflu, fármaco produzido sob licença pela suiça Roche, mediante pagamento de royalties de 10% sobre os resultados comerciais. O Tamiflu tem como princípio ativo o fosfato de oseltamivir, um inibidor da neuraminidase - enzima que viabiliza a reprodução do vírus na célula hospedeira.

A norteamericana Gilead é uma empresa de grande peso, tanto tecnológico quanto político. De acordo com a CNN, o ex-Secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld foi presidente do conselho da Gilead entre 1997 e 2001, quando saiu para assumir a posição na equipe de George W. Bush. Mesmo afastado da direção da empresa, Rumsfeld manteve participação milionária nos reultados na Gilead, na condição de acionista. Foi Rumsfeld quem mostrou, à época da epidemia de gripe aviária de 2007 - ainda na posição de Secretário de Defesa - que os EUA tinham necessidade de estocar bilhões de dólares em vacinas.

O gráfico abaixo mostra que a preocupação de Rumsfeld fazia mais sentido para um acionista do que de para um interessado em salvaguardas da saúde pública.


(dados colhidos até julho de 2009)


quarta-feira, 15 de julho de 2009

Micronoticiário quente

Ricardo Goldbach

Michael van Poppel, um holandês de 19 anos de idade, é o novo fenômeno da mídia online. Ele iniciou, em setembro de 2007, um projeto de jornalismo online colaborativo, o Breaking News Online (BNO).

Poucos meses depois, Michael teve acesso, não se sabe como, a um vídeo inédito contendo uma declaração de Osama Bin Laden. O furo foi oferecido a várias agências, sendo finalmente comprado pela Reuters. O Twitter do BNO conta hoje com mais de 800 mil seguidores, uma audiência maior do que a da ABC News ou da Newsweek.

O que chama a atenção para este case é que não há trabalho de investigação e apuração, apenas o de agregação e difusão de notícias “quentes” (breaking news), a partir de uma rede de colaboradores. Operando com feeds, twitter e mensagens de e-mail, o BNO tem na web um mero ponto de presença, no site http://news.bnonews.com/i5xf

O próximo projeto do BNO é a transmissão de notícias para iPhone, a um custo estimado de 99 centavos de dolar ao mês. O aplicativo para download das mensagens custará 1,99 dolares.


Receita de sucesso para extinguir concorrência

Ricardo Goldbach*

A receita é simples: tente matar a concorrência com falsos anúncios, depois acuse-a falsamente pela mesma prática.

É enfadonhamente comum a desconexão com a realidade que acomete empresas bem-sucedidas. E, nesta época de tecnicalidades que se expandem enquanto dormimos, fica mais difícil ainda tomar as rédeas de nosso dia a dia. A onipresente Microsoft é um caso típico de avassalador cinismo e descaso em relação à clientela - praticamente o planeta inteiro. Esta constatação não é parte de nenhuma campanha de difamação: a Microsoft não precisa de detratores, pois dá conta do recado sozinha.

A companhia cresceu à sombra de práticas predadoras, desde a cópia da interface do Windows como a conhecemos - idéia original da Apple, baseada em objetos e mouse - até a destruição dos negócios de pequenos concorrentes. Usuários do PC-XT, por exemplo, conheciam um ótimo software de desfragmentação de disco, o OPTune, da Gazelle Software. Através de acordo, a Microsoft absorveu o OPTune, incorporou-o - com menos funcionalidades (possibilidade de alteração do interleave de setores, por exemplo) - ao MS-DOS 3.1, e o OPTune independente sumiu. A concorrência saudável desapareceu, assim como era comum sumirem os dados de muitos usuários do péssimo desfragmentador que passou a vir embutido no MS-DOS.

Após terem cometido coisas como o Windows 95 ou o Bob (alguém já ouviu falar desta interface criada por Melinda Gates, esposa de William?), os hunos de Redmond conseguiram finalmente inovar: ao saberem que a concorrência trabalhava em algo, passavam a anunciar - para dentro de meses - produtos superiores, que jamais iriam lançar ou lançariam anos depois. Como consequência, o mercado, sempre de olho num produto com a grife MS, dava preferência ao que não viria, e a concorrência era desestimulada. Esta prática foi muito comum nos anos 80 e 90, mas resiste até hoje. Às vêzes ela nem se destina à aniquilação da concorrência, apenas a iludir consumidores ou encobrir incompetências - como é o caso do WinFS; presente nas especificações do Longhorn em 2004, o supostamente inovador sistema de arquivos sumiu quando aquele sistema operacional, já batizado como Vista, foi lançado em janeiro de 2007. No decorrer daqueles três anos de expectativas em suspenso, cunhou-se, para o Longhorn, o merecido apelido de "Longwait". Já em tentativa de esmagar a concorrência da Novell no segmento de redes, o Microsoft Windows NT 5.0 (ou Windows 2000) teve seu lançamento adiado por três anos, numa estratégia comercial alavancada por problemas técnicos.

Mas o que a Microsoft fez, ao instalar-se confortávelmente na poltrona do virtual monopólio? Passou a ignorar controles de qualidade e marketing (estudo das necessidades do mercado, não confundir com publicidade), perpetrando produtos como o Vista, um erro desde o surgimento; além da ausência de características prometidas (como o WinFS), faltou comunicação proativa com fabricantes de periféricos e respectivos device drivers. Como consequência, era impossível fazer funcionar webcams, scanners, placas de áudio ou vídeo e por aí vai. E o que a Microsoft fez, ao detectar o desastre anunciado? Tentou ganhar fôlego financeiro, inflando artificialmente as vendas do Vista, empurrando-o em operações de venda casada ao redor do mundo, embutido em equipamentos novos. Ouvi pessoalmente a confirmação desta prática, vinda de um atendente de suporte da Dell. Segundo esta fonte, havia um acordo com a Microsoft, no sentido de que a Dell não fornecesse suporte técnico a clientes que optassem pelo XP pré-instalado, ao invés do Vista. Comprador de Vista tinha suporte, comprador de XP não. E, por recusa a fornecer suporte, entenda-se também a recusa em disponibilizar device drivers para instalação de periféricos sob o XP... Assim é fácil vender mais algumas dezenas de milhões de réplicas de um ôvo podre, não é?

Mas tem mais: falhas crônicas e já detectadas no projeto de componentes como o ActiveX ou do Internet Explorer têm sido e continuarão sendo portas escancaradas para ataques de hackers de chapéu preto (os black hats, que se opõem aos white hats, os do bem). O mundo gira e recebo, neste 15 de julho, um alerta de segurança da Computerworld (mais um...), reportando que
"A Microsoft divulgou nesta terça-feira (14/7) seis atualizações de segurança para corrigir nove vulnerabilidades em seu pacote mensal de correções, conhecido como Patch Tuesday".
Uma das falhas corrigidas neste patch é um
"bug no controle ActiveX [que] havia sido relatado à Microsoft há mais de 15 meses" [grifo meu].
Esta brecha que afetava o Internet Explorer e da qual a Microsoft tinha ciência há mais de um ano, vinha sendo cada vez mais explorada em ataques a usuários nos últimos tempos. Já o conserto de outra falha, que também afeta a segurança de usuários do IE, porém descoberta na véspera da distribuição do pacote de remendos, vai ficar para uma outra ocasião. Não parece coisa de quem precise concorrer para sobreviver.

Mas, juntando o desleixo ao condenável, nesta mesma data Steve Balmer, CEO da Microsoft, declara que o anúncio do Chrome OS é "vaporware", segundo o IDG Now. Ora, vaporware é o nome que se dá àquela prática lapidada pela Microsoft, de prometer o que não entregará, visando prejudicar a concorrência. É o software vapor, aquele que se desmancha no ar, que não se pode tocar e muito menos utilizar.

Apenas para alinhar os ponteiros, o Chrome OS é um sistema operacional projetado pelo grupo Google para utilização em netbooks, um forte concorrente de uma futura versão light do Windows 7, o sucessor do Vista. Após o lançamento do Android, para celulares e smartphones, o Google investirá em computadores propriamente ditos, de olho também no mercado de notebooks e desktops.

Mas Balmer vai mais longe e diz que "pelo que sei você não precisa ter dois sistemas operacionais. É bom ter um". Como assim, Steve? Windows Mobile 6.5 (lançado em maio de 2009), Windows Mobile 7 (já anunciado como sucessor do recém-lançado 6.5), Windows HPC Server 2008, Windows Server 2008, Windows Home Server(!), Windows Vista, Windows 7 (que tampona provisoriamente o fiasco do Vista), Windows Azure (voltado a cloud computing, com lançamento previsto para 2010)... as superposições na linha do tempo não são poucas. A Microsoft observa tanto o quintal dos vizinhos, buscando cachorros pequenos, que mal sobra percepção para o elefante às suas costas.

Skype x Messenger, Gmail x Hotmail, Firefox x Internet Explorer, Android x Windows Mobile, Thunderbird x Outlook, Linux x Windows... é bom viver num mundo tecnológico que seja ao menos dual. Um concorrente não desprezível do Windows em alguns nichos de utilização, o Linux é - como talvez o Chrome OS venha a ser - um dos alvos prioritários do desdém da Microsoft e da massa de ecos de um mercado que parece anestesiado. Se Linux fosse realmente um brinquedo hermético de nerds, como se diz, a IBM não se daria o trabalho de pré-instalá-lo em máquinas como o IBM 390, como no caso da Caixa Econômica, por exemplo; ainda que a Caixa use a plataforma OS 390 naquele monstro configurado em dupla redundância, ele é simplesmente o responsável pelo processamento de toda a área não-bancária da Caixa - coisa de gente grande.

Já as táticas fabris, mercadológicas e publicitárias da Microsoft, estas continuam sendo coisa de gente eticamente pequena.

____

* O autor tem mais de 30 anos de experiência em TI, em ambientes de
mainframes, minicomputadores, supermicrocomputadores e microcomputadores, nas atividades de levantamento de requisitos, projeto, desenvolvimento, testes e homologação de sistemas, suporte, administração de dados e de bancos de dados, treinamento e coordenação de equipes de desenvolvimento.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

A artista plástica Lena Bergstein expõe no Rio





Lena Bergstein é pintora, gravadora, professora de desenho e gravura, e programadora visual. Mora no Rio de Janeiro, onde nasceu.

Cursou o Instituto de Belas Artes (hoje Escola de Artes Visuais) e o atelier de Gravura do Museu de Arte Moderna do Rio;

Participou das mais importantes bienais de gravura nacionais e internacionais, como Curitiba, Ljubljana, Miami, Fredrikstad, Bradford, Taiwan e Montevideo;

Expôs gravuras e pinturas na Petite Galerie, pinturas na galeria Cândido Mendes, montou a instalação Tenda no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Expôs pinturas e os originais do livro "Enlouquecer o Subjétil" no Paço Imperial;

Expôs ainda na Galeria Segno Grafico (Itália), Centro Internazionale di Grafica (Itália), Biblioteca Wittockiana (Bélgica), e Galeria Debret (Paris);

Morou dois anos em Paris, onde participou dos seminários de Jacques Derrida: "Questions de Responsabilité: Du secret au témoignage" e "Hospitalité et Hostilité";

Ganhou o Prêmio Jabuti pela melhor produção editorial de 1999 com o livro "Enlouquecer o Subjétil", criado em parceria com Jacques Derrida;

Lecionou técnicas alternativas de gravura e iniciação à gravura na PUC/RJ, entre 1980 e 1983;

Lecionou desenho de observação, no Departamento de Artes da PUC/RJ, entre 1997 e 1998;

Deu aulas na Escola de Artes Visuais do Parque Lage;

Apresentou, em janeiro de 2003, "Tramas", exposição de pinturas na Sílvia Cintra Galeria de Arte, e "Amarelo Cromo", exposição de gravuras, no Museu da Chácara do Céu;

Expôs telas e gravuras, no Istituto Ítalo Latino-Americano (Roma) e na Scuola Internazionale di Gráfica (Veneza), em 2004;

Participou da exposição coletiva “Só Pintura”, na galeria Mercedes Viegas, Arte Contemporânea, em 2006;

Participou da exposição “Manobras Radicais” no CCBB de São Paulo, em 2006;

Expôs "A Escrita do Silêncio", em 2004, no Solar de Grandjean de Montigny (PUC-RIO), trabalho sobre o qual escreveu:


A Escrita do Silêncio

Muitas coisas se passaram nesses últimos anos e meu trabalho foi gradualmente mudando. Reparei que as escritas de letras e palavras que impregnavam o trabalho foram se tornando mais espaçadas, mais esgarçadas, e foram pouco a pouco desaparecendo, dando lugar a uma outra escrita, bem diferente, mas que já aparecia pontualmente em desenhos e telas anteriores. Eram costuras, primeiro à mão, depois à máquina, à mão e a máquina, uma tessitura de pontos, linhas, nós, cerzidos, alinhavos, pespontos, pontos em ziguezague.

Se a escrita fonética de textos e palavras me parecia agora excessiva, barulhenta, as costuras a substituíam por um certo silêncio, uma pausa, um vazio povoado de possibilidades."Este é um livro silencioso, e fala, fala baixo", escreve Clarice Lispector, ou ainda como diz Rabi Nahman de Bratislav, numa de suas parábolas, "ele tocava um violino mudo - ou quase, pois o rei acabou por captar uma nota extremamente delicada".

O único ruído que se ouvia era o toque toque toque, da máquina costurando, os ritmos cadenciados do costurar, do cerzir, do levantar a sapatilha que, por sua vez, levantava a agulha e a linha principal, o retrós, do virar o tecido mudando o rumo da costura. Às vezes era necessário enrolar outra vez a linha da carretilha, ou bobina, que ficava embaixo do retrós. O ruído da carretilha enrolando a linha a toda velocidade e depois recolocá-la numa espécie de caixinha, fechar a tampa, abaixar a sapatilha, descer a agulha e a linha e outra vez toque toque toque.

Apesar de não se chamar retrós ou linha mestra, era a linha mais fina da carretilha (ou bobina) que dava solidez e consistência à costura. Mesmo que só aparecesse inteiramente no avesso do tecido, era ela que estruturava a costura e que a prendia ao tecido, arrematando-a.

A busca de uma extrema simplicidade, um quase nada trabalhado que desse a impressão de um se despir, era a trajetória que o trabalho tomava. E eu o seguia.

Através dessas linhas trançadas e costuradas, uma outra questão foi de repente vislumbrada. No texto Un Ver à Soie, de Jacques Derrida, do livro Voiles, me fascina a frase "une femme tisserait comme um corps secrète pour soi son propre textile". Comecei a pensar que a partir das linhas costuradas estaria tecendo uma tessitura, uma veste, um xale, o meu próprio, o meu xale.

Esse xale seria de um tecido da Babilônia, do linho mais puro, bordado de jacintos, de anêmonas violetas, de escarlate e de púrpura, das flores silvestres que traziam o índigo. Seria têxtil, táctil, "doçura mais doce que a própria doçura", uma outra pele, incomparável a qualquer outra pele. Ele não velaria nem esconderia, não mostraria nem anunciaria - ao contrário, ele traria a memória.

Meu xale, todo singular, sensível e calmo, que ia se criando a partir do meu trabalho, uma manufatura de telas, um entrelaçar de fios e fibras...

A leitura do texto Un ver à soie foi da ordem de um acaso, de um encontro que estimula e provoca, que vem se acrescentar a uma elaboração já em andamento abrindo novas nuances de horizontes possíveis. Ampliou minha relação com as tramas, as urdiduras, a tecelagem, fios torcidos e retorcidos, trançados, tecidos sucessivos e infinitos.

O que também ecoou dentro de mim, e "que se joga no tecido desse texto", é sua relação com o fazer da arte, com a criação, ao mesmo tempo com a subjetividade do artista. Constante e lenta elaboração, no diminuir e aumentar os pontos de uma trama, no fazer e desfazer das malhas. Transformação incessante e permanente, pela qual as coisas se criam e se dissolvem em outras coisas, algo que não é, mas se torna, que existe em constante alteração. Um se perder e se reencontrar, nascimento contínuo, que conduz a arte através da noite, mais longe que o visível ou o previsível, experiência muda de um sentido mudo.


sábado, 4 de julho de 2009

Jânio Quadros - um acerto e um erro

Ricardo Goldbach

Em saborosa matéria de Augusto Nunes sobre Jânio Quadros, publicada na Veja de 4 de junho de 1980, um box traz impressões do ex-presidente sobre pessoas e temas.

É impressionante constatar, neste final da primeira década dos anos 2000, como Jânio conseguiu acertar e errar tanto, ao mesmo tempo.



reprodução do acervo digital da revista Veja, originalmente sem as marcações

terça-feira, 30 de junho de 2009

Ações afirmativas, resultados negativos

Ricardo Goldbach

(foto de Christopher Capozziello, The New York Times)
O Corpo de Bombeiros de New Haven, cidade do estado de Connecticut, realizou, no ano de 2003, exames para promoção aos postos de tenente e capitão. Como nenhum candidato negro conseguiu ser aprovado, a prefeitura houve por bem anular o exame, alegando que não queria ferir as leis dos direitos civis, vigentes desde a década de 1960. Em português claro, a administração temia processos judiciais por discriminação racial. Os 19 bombeiros brancos aprovados recorreram à Corte de Apelações e foram derrotados, mas uma decisão tomada pela Suprema Corte norte-americana neste dia 29 de junho reverteu a primeira sentença, por cinco votos contra quatro, expondo os limites do que se convencionou chamar de ação afirmativa, também conhecida como "discriminação positiva". De acordo com o voto do juíz Anthony M. Kennedy,
fear of litigation alone cannot justify an employer’s reliance on race to the detriment of individuals who passed the examinations and qualified for promotions.
(o mero receio de litígio não justifica que um empregador tome decisões com base em questões raciais, em detrimento dos indivíduos que foram aprovados e se qualificaram para as promoções).
Uma coisa é lutar para que seja assegurado a um cidadão negro o direito de sentar-se em um ônibus, sem a obrigatoriedade de cessão do lugar a um branco, como o fez Martin Luther King, com o posterior apoio de John F. Kennedy, nas décadas de 1950 e 1960. Outra coisa seria considerar válidos somente os concursos que tivessem representantes da etnia negra ou de qualquer outra, "positivamente discriminada", entre os aprovados.

Aparentemente, na raíz das distorções cometidas em nome da democracia está justamente a distorção do conteúdo semântico de "democracia". Com o significado original de "governo exercido em nome do povo" (demos kratein), "democracia" passou, por corruptela, a designar incorretamente o exercício da democracia direta (governo exercido diretamente pelo povo), o que termina por abrigar reivindicações de direitos abusivos, ou mesmo imaginários.

Um bom exemplo desta distorção são as eleições para elaboração da lista de candidatos a reitor das universidades públicas brasileiras. Votam alunos, professores, funcionários de segurança e conservação patrimonial, ainda que com pesos diferentes por categoria. Esta assim chamada "congregação" não tem plenas condições de avaliar os méritos administrativos e acadêmicos dos candidatos, e por vezes tornam-se dócil massa de manobra de movimentos sindicalistas, cujos projetos de poder ultrapassam as fronteiras da academia. Esta também é a opinião de Jacques Schwartzman, professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG e ex-membro da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional da Educação:
"... com algumas exceções, só disputa a eleição quem tem capacidades histriônicas e políticas. Pouco importa a qualidade como administrador. A equipe do reitor também acaba por refletir a composição política que o elegeu, e não necessariamente os mais aptos".
Basta conversar com alunos que convivem com os agraciados pelo sistema de cotas, nas universidades, para se constatar o quão perverso é o resultado. Aulas de "nivelamento" são insuficientes para dotar os quotistas de capacidade para acompanhamento das aulas convencionais, e o resultado é o nivelamento do conteúdo, por baixo. Que profissionais podem sair de tal sistema de ensino, senão os frutos estragados deste nivelamento? Pode parecer "politica" ou "racialmente" incorreto, mas o fato é que cabe ao Estado prover melhor preparo ao ingresso na universidade, ao invés de loteá-la, num processo de diminuição da qualidade de ensino. A pretensa compensação não vale, em absoluto, o irreparável estrago causado.

Enquanto as vagas nas universidades públicas brasileiras são franqueadas - num grotesco e populista processo de mea culpa - a quem não tem mérito intelectual minimamente suficiente, em New Haven, pelo menos, os mais aptos comandarão os bombeiros. Independentemente da pigmentação da pele, como deve ser, já que o fogo não reconhece políticas de cotas.


sábado, 20 de junho de 2009

Sobre jornalistas não diplomados

Ricardo Goldbach

As discussões sobre a discutível decisão do STF são muitas vezes temperadas por paixões; de um lado, citações a Fernando Gabeira e Ricardo Kotscho, ambos bem-sucedidos representantes da ala dos sem-diploma, numa argumentação contrária à necessidade de graduação específica. Do outro lado estão posições apaixonadas em defesa do que poderia passar por uma legitimação de reserva de mercado ou por grita classista de igual teor.

Mas é preciso lembrar que o STF não está a serviço apenas do lógico, do razoável, do esperado ou do óbvio previamente codificado; como a própria instituição tem demonstrado nos últimos tempos, interesses políticos, patronais, menores mesmo, são ali fatores de determinação, numa evidência da falibilidade - de boa ou má-fé - que caracteriza os feitos humanos.

Se o que alegadamente se consegue agora, com a decisão do STF, é a universalização da liberdade de expressão, eu pergunto: se um julgamento em tribunal é uma manifestação argumentativa de posições contraditórias, porque não posso me candidatar ao exercício da função de Defensor Público? Ou de Promotor de Justiça? Afinal, possuo capacidades mínimas de expressão e argumentação que me permitissem a aventura. Mas já conheço a resposta: o exercício daquelas funções pressupõe conhecimentos acerca dos códices, da teoria, da praxis e da ritualística envolvidas nas lides processuais. Não seria o caso, então, de o STF informar-se melhor - isso mesmo, informar-se melhor - e levar em conta o que a ementa de um curso de Jornalismo efetivamente acrescenta ao cidadão que, a princípio, tem apenas mero gosto pela coisa? Do domínio das técnicas de reportagem à compreensão fundamental das categorias éticas e jurídicas envolvidas na abordagem jornalística de uma pauta, passando pelo estudo e meditação sobre os aportes humanísticos oferecidos por saberes tais como o da filosofia, sociologia e antropologia, não é pouco o que difere um escrevinhador de um jornalista, e para muito melhor, no caso em questão.

O exemplo de jornalistas famosos e não-diplomados, como Gabeira e Kotscho, não deve ser tomado como pá de cal no debate, uma vez que já houve um tempo na História no qual absolutamente nenhuma profissão era regulamentada. Ainda assim casas eram construidas, gado era transportado, abatido e vendido, mercadorias eram comercializadas em feiras, curandeiros curavam. Mas a ausência de regulamentação prévia não aboliu a necessidade de estabelecimento de códigos e normas de conduta profissional ou exigência de formação específica. Pelo contrário, qualquer profissão que hoje envolva responsabilidade moral ou material é muito bem regulamentada. E no que consiste o exercício do jornalismo, senão no fornecimento de um produto - informação apurada e tratada, com linguagem adaptada ao veículo - que pode causar danos morais e materiais em caso de defeito de fabricação?

Vejo também muita confusão ser causada pela mistura, em um único saco, das funções de repórter e de articulista, por exemplo. O primeiro cumpre pautas pré-definidas, sendo levado às tarefas de pesquisa, apuração de fatos e entrevistas, tudo para relatar algo de interesse da sociedade, com objetividade que rejeite os "achismos" e opiniões do profissional. A linguagem deve ser direta e correta, em texto bem encadeado e fiel a fontes gabaritadas e documentos idem. Já ao articulista, categoria em que são encontrados os contra-exemplos da atualidade, é permitida a expressão de opinião, em função de sua própria e notória trajetória pessoal ou profissional. Desta forma, se vê diariamente artigos escritos por médicos, advogados, filósofos, economistas e clérigos, sem que isso configure exercício ilegal de profissão.

A argumentação favorável à liberalização do exercício da profissão de jornalista, segundo a qual a Lei de Imprensa era um entulho do autoritarismo a ser removido, também não se sustenta. Pelo contrário, o "é proibido proibir", que surgiu na França como resposta aos tempos de treva dos anos 60, tem desaguado cada vez mais em leniência e permissividade, num movimento pendular oposto, que confunde autoridade com autoritarismo, e que produziu efeitos até na educação de crianças e adolescentes, uma vez que reprimir "é feio", passou a ser politicamente incorreto.

Como subproduto benéfico da decisão do STF, tenderão a sobreviver as instituições realmente capacitadas e dedicadas à formação de profissionais; aquelas a que se convencionou chamar de caça-níqueis tenderão a desaparecer, sepultadas pelo ainda menor valor dos diplomas que imprimem e vendem em prestações mensais.

Por fim, como exemplo extremo de ataque a uma suposta reserva de mercado, descubro texto no site do Observatório da Imprensa, de autoria do jornalista Maurício Tuffani. A peça é coalhada de citações, reproduções e até mesmo de expressões matemáticas - que se estendem por três estéreis parágrafos - tudo em formato reconhecidamente acadêmico. Chega a lembrar o que o psicanalista Eduardo Mascarenhas, opositor intelectual de José Guilherme Merquior, classificava de "terrorismo bibliográfico", tamanha a intenção de fazer o leitor perder-se ao acompanhar a ancoragem dos argumentos em terceiros eruditos.

Vertendo para a forma textual minha resposta à Lógica Proposicional de Primeira Ordem empregada por Tuffani para desqualificar por completo a necessidade de diploma para o exercício da profissão de jornalista, e igualmente empregando aquela lógica, me restou concluir, em resposta ao autor, que:
  1. favelas consistem de uma enormidade de edificações erguidas em encostas de substrato rochoso, de configurações topográficas e geológicas de contorno sabidamente não trivial;

  2. as ditas edificações, como também se sabe, são erigidas por pedreiros, carpinteiros, mestres de obra e assemelhados;

  3. logo, não é necessário que alguém seja diplomado em Engenharia Civil para construir, com sucesso, casas em encostas de formação geológica rochosa, quod erat demonstrandum.

Mas prefiro me alinhar com o professor de Legislação e Ética no curso de Jornalismo da Univali (SC), doutorando em Jornalismo na USP e Assessor de Comunicação do Ministério Público da Federal, Rogério Christofoletti, quando ele diz que:

"Dispensar o diploma hoje é como rasgar o documento do obstetra e reconvocar a parteira em seu lugar. Ela pode ser hábil, atenciosa e certeira, mas não teve acesso aos conhecimentos do médico, não dispõe das mesmas condições de operação e expõe as gestantes a riscos maiores. Tempos atrás, quase não havia obstetras, e sempre se recorria às parteiras. Mas o tempo passou, e jogar o diploma do médico no lixo é voltar atrás, permitir-se involuir".

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Economia e Sincronicidade


Num desses acasos que insistem em acontecer, imediamente após o post sobre Franco Modigliani recebo por e-mail a fábula abaixo, que faço questão de compartilhar aqui.

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"Numa pequena vila na costa sul da França chove e nada de especial acontece. A crise é sentida. Todo mundo deve a todo mundo. A população está carregada de dívidas...

Subitamente, um rico turista russo chega ao foyer do pequeno hotel local. Ele pede um quarto e coloca uma nota de cem Euros sobre o balcão. Pede uma chave de quarto e sobe ao 3º andar para inspecionar o quarto que lhe indicaram, na condição de desistir se não lhe agradar.

O dono do hotel pega a nota de €100 e corre ao fornecedor de carne a quem deve €100. O talhante pega o dinheiro e corre ao fornecedor de leitões a pagar €100 que devia há algum tempo.

Este, por sua vez, corre ao criador de gado que lhe vendera a carne e este corre a entregar os €100 a uma prostituta que lhe cedera serviços a crédito. Esta recebe os €100 e corre ao hotel a quem devia €100 pela utilização casual de quartos para atender clientes.

Neste momento, o russo desce à recepção e informa ao dono do hotel que o quarto proposto não lhe agrada, pretende desistir e pede a devolução dos €100. Recebe o dinheiro e sai.

Não houve neste movimento qualquer lucro ou valor acrescido. Contudo, todos liquidaram as suas dividas e estas pessoas da pequena vila costeira agora encaram o futuro com otimismo.

Dá o que pensar..."


Abrindo uma exceção, para Franco Modigliani

ou "uma previsão sobre o estouro da 'bolha' econômica"

Ricardo Goldbach

Vou fazer um Ctlr-C / Ctrl-V, apesar do motto deste blog.

O caso é que o laureado com o Prêmio Nobel Honorário de Economia de 1985, Franco Modigliani, merece ser reconhecido por sua visão inteligente e premonitória, apesar de a premonição não ser aqui um dom metafísico, mas antes uma capacidade de interpretar fenômenos e acontecimentos dos processos econômicos que, queiramos ou não, regulam nossas vidas. Reproduzo aqui uma brilhante antecipação daquele economista, falecido em 2003, do momento que vivemos, em tempos de crise econômica de escala planetária, na forma de matéria de Floyd Norris, originalmente veiculada no The New York Times em 01/04/2000, e posteriormente reproduzida no Estado de São Paulo e no site do Observatório da Imprensa. É leitura de qualidade.

Observação: o prêmio ao qual a matéria de Norris faz alusão, o Nobel Memorial Prize de Economia, não tem associação direta com os desígnios originais de Alfred Nobel ou com o Prêmio que leva seu nome. À época da concessão, tal distinção levava o nome de Prêmio Sveriges Riksbank de Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel. Esta associação entre o prêmio concebido pelo Banco da Suécia e o nome de Nobel é repudiada pelos herdeiros do inventor sueco, segundo matéria do Le Monde Diplomatique veiculada na edição online de 12/02/2005, assinada por Hazel Henderson. Uma versão traduzida desta matéria pode ser encontrada aqui, sob o título "A impostura do Nobel de Economia". No entanto, o site oficial do Prêmio Nobel faz menção a Modigliani como sendo o laureado em Economia, no ano de 1985.

Vamos ao Ctrl-V da matéria de Floyd Norris, que é o que interessa.

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Nobel de economia prevê estouro da ‘bolha’


"Franco Modigliani afirma que a atual mania por ações da Internet e de outras companhias de tecnologia não é irracional. Entretanto, é uma bolha, e vai explodir. ‘Posso mostrar, com precisão, que há dois preços para uma ação’, afirmou Modigliani, em entrevista telefônica. O preço que ele prefere é o baseado em fatores fundamentais, como lucros e índices de crescimento.

‘Mas’, acrescentou, ‘a bolha é racional, de certa forma.’ A expectativa de crescimento produz o crescimento, que confirma a expectativa. As pessoas comprarão a ação porque seu valor aumentou. ‘O problema é que o preço de bolha é naturalmente instável’, admitiu. ‘Ele só continuará a aumentar enquanto as expectativas continuarem a crescer’, diz. ‘Mas assim que os investidores se convencem de que determinada ação não está aumentando, nenhum deles estará disposto a manter um papel pelo fato de ele estar supervalorizado.’ Farão questão de vendê-lo e a ação cairá abaixo do preço determinado pelos fundamentos.

Modigliani sabe alguma coisa sobre isso. Atualmente com 81 anos, ele recebeu o Nobel Memorial Prize de Economia em 1985, em parte por causa do seu trabalho pioneiro, desenvolvido justamente em torno da análise dos fundamentos.

Um de seus ‘insights’ - que pareciam estranhos na década de 50, quando ele propôs suas teses pela primeira vez - foi o de que o preço dos valores mobiliários de uma companhia, inclusive o de ações e obrigações, deveria basear-se nos lucros esperados, descontados a uma taxa de juros apropriada. Isso também se aplica ao mercado de ações como um todo.

Sob essa luz, não é fácil racionalizar as gigantescas relações preço/lucro.

Modigliani argumenta que é impossivel, para a economia, crescer tão rapidamente quanto o mercado parece estar prevendo, ainda que algumas companhias venham a ter resultados muito bons.

‘Não se pode acreditar que os lucros das companhias continuarão a aumentar, sempre, na proporção de 7%’, enfatizou Modigliani. ‘Em algum momento, toda a renda nacional será tomada pelos lucros.’ Esses cálculos podem ser ignorados quando os investidores julgam estar testemunhando a chegada de uma nova era brihante, como ocorreu na década de 20 com o broadcasting e está acontecendo agora com a Internet. O presidente Bill Clinton será o anfitrião da Conferência sobre a Nova Economia, que se realizará na Casa Branca, na próxima semana.

Modigliani não é um homem dado a falar muito sobre o mercado de ações com freqüência. Telefonei-lhe depois de ouvir dizer que ele havia falado sobre bolhas em um discurso pronunciado na sede da Boston Security Analysts Society. No único discurso que havia dirigido anteriormente àquele grupo, em 1976, Modigliani havia caçoado de Wall Street por subvalorizar as ações.

Ele acha que as ações que compõem a Média Industrial Dow Jones poderiam cair para 8.000 ou 9.000 pontos, mas acha que as ações de companhias de tecnologia são muito mais vulneráveis. No caso da Internet, é muito dificil determinar os fundamentos para compreender até que ponto se trata de uma bolha’, afirmou. ‘Na minha opinião, há muito de bolha nessas ações.’ E então? ‘Não há bolha que se esvazie sem fazer barulho. Por sua própria natureza, a bolha tem de explodir. Eu não sei quando.’ Mas isso acontecerá e a dor será maior se a bolha for grande. Ele acredita que o Federal Reserve (o Banco Central dos EUA) tem razão em aumentr as taxas de juros, mas talvez esteja agindo lentamente demais.

Não é dificil encontrar administradores que admitam, em particular, que estão petrificados, mas seus portfólios estão plenamente investidos. A maioria deles estudou Modigliani na Escola de Administração de Empresas. A maioria viu seus pares que não compraram as ações mais ‘quentes’ perderem os respectivos empregos. Seu nervosismo aumenta com a volatilidade do mercado.

Modigliani começou a vender ações há cerca de um ano e não se desculpa por isso. ‘As únicas pessoas que se saíram bem em 1929 foram aquelas que venderam cedo demais’, afirmou. ‘O teste final ocorrerá se houver um colapso. Se não houver, eu estou enganado.’"