sexta-feira, 24 de abril de 2009

"Após a chuva" - homenagem ao Mestre Dylmo Elias


Homenagem a Dylmo, que partiu numa noite chuvosa e foi devolvido à terra em dia de sol.





Dylmo Elias - Missa de sétimo dia


A missa de sétimo dia em intenção da alma de Dylmo Elias será realizada às 19h da próxima segunda-feira (27/04), na Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, situada à Praça Edmundo Rego nº27, Grajau.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Ao Mestre, com carinho

Ricardo Goldbach

É muito comum que uma pessoa parta da vida e tenha suas virtudes, qualidades e conquistas imediatamente ampliadas pela lente que separa este mundo do próximo, mas não é isso o que acontece no caso da ida do Dylmo. O Dylmo Elias da Rádio MEC, dos palcos de teatro onde dirigia as peças que escrevia, da sala de técnica de onde acompanhava os trabalhos de seus alunos.

Quer saber o quão as palavras estão próximas - ou distantes - do personagem que descrevem? Converse com as pessoas que o conheceram no dia a dia. Leia o que se escreveu sobre ele, ainda em vida, ou mesmo depois. Avalie o legado que deixou, as impressões dos agraciados que o receberam. Ainda assim, dê um certo desconto e veja o que sobra depois.

Não sobra pouca coisa, no caso do Dylmo. Marido amantíssimo, deixou uma companheira de vida, parceira de lutas descritas em livro e em conversas. Não teve filhos, mas se os tivesse tido teria sido mais que um pai para eles; teria sido o educador e amigo que seus alunos tiveram a felicidade e o prazer de conhecer. Melhor dizendo, Dylmo não tinha alunos, tinha equipes que trabalhavam na rádio dele; a sala não era local de aula, mas de redação e produção. E o marcante brilho nos olhos pontuava todos os momentos, o espírito sempre inquieto e criativo.

Lúcido e de memória afiada no alto de seus 80 anos (estreou na vida em 16 de setembro de 1928), o Mestre se recordava de nomes, fatos e histórias da Era de Ouro, e contava tudo com inegável misto de prazer e saudade. Dylmo homenageou outros veteranos do rádio - com a humildade que só os grandes sabem ter - custeando do próprio bolso despesas com placas alusivas. Não que lhe sobrassem recursos; era remunerado com menos que valia, e, mesmo assim, nem sempre em dia.

Muitos beberam lições de seus lábios; não apenas de radiojornalismo, mas também de vida. Era procurado por jovens recém-saídos da adolescência, com suas angústias, incertezas e dificuldades. E ouvia muito, empatia era um de seus fortes. E tinha palavras de consolo, alento ou orientação, conforme o caso.

É bom que se saiba que, com a cumplicidade de D. Glacy, Dylmo deixou muitos filhos - além de amigos e irmãos - por esse mundo afora...


Dylmo, você fez a diferença, você já faz muita falta. Até um dia. Ou, como eu encerrava nossos telefonemas, "... até qualquer momento, em edição extraordinária".

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Arquivos RAW - afinal, o que é a realidade?

Ricardo Goldbach
com informações de Jens Tønnesen

O fotojornalista dinamarquês Klavs Bo Christensen foi excluído, em janeiro passado, do concurso "Foto do ano", promovido na Dinamarca. A competição tem no juri membros do Danish Union of Press Photographers, o sindicato de classe local, e o fato é inédito nos 35 anos de existência do concurso. O motivo alegado foi a existência de "Photoshop demais" nas imagens de Christensen, cujos originais foram captados durante viagem ao Haiti.

O jurado Peter Dejong alegou que "ele deliberamente selecionou uma cadeira e tornou-a amarela, além de ter selecionado uma parede e tê-la feito azul". "Para mim isso é inaceitável", completou Dejong.

Observando-se a imagem citada (fig. 2) é possível constatar o aumento de saturação e constraste. Isto acentuou a tonalidade amarela original que, no entanto, não foi "criada" - já existia na imagem (fig. 1). O mesmo se pode dizer do tom azul da parede. A ampla gama tonal da imagem processada sugere que Christensen tenha empregado a técnica de HDR (high dynamic range), com a qual se mescla várias imagens, obtidas com diferentes compensações de EV, em uma única.



fig. 1 - imagem RAW


fig. 2 - imagem processada

Na foto seguinte encontra-se outro exemplo de "puxada" de imagem, através de aumento de saturação e contraste (fig. 4) de cores e tons pré-existentes (fig. 3). Neste caso, especificamente, os efeitos acrescentaram dramaticidade à cena original, não somente pelo maior impacto cromático obtido, como também pela acentuação das características de insalubridade e precariedade sanitária do local. No meu entendimento, esta foto não tem atributos que a tornem uma vencedora, quer na versão RAW, quer na versão manipulada. Contra ela pesam vários fatores, inclusive o erro primário de enquadramento, que a fez ficar inclinada, como é usual em fotos de amadores.



fig. 3 - imagem RAW


fig. 4 - imagem processada

Outro jurado, Miriam Dalsgaard, disse que "isso não significa que não aceitemos ou não reconheçamos edição em Photoshop, mas este exemplo realmente é extremo". Em seu favor, Christensen alegou que os formatos RAW, NEF, DNG e CR2 não refletem necessáriamente os parâmetros originais de uma imagem captada. Ele também não aceita que o confronto com a imagem RAW sirva como parâmetro de avaliação da imagem submetida ao juri. O fotógrafo afirmou, ainda, que percebeu diferenças significativas entre as imagens RAW obtidas por equipamentos Canon, Nikon e Leica, além das diferenças entre os algoritmos de diversos aplicativos de conversão a partir do formato RAW, bem como entre os perfis de gerenciamento de espaço cromático que podem ser configurados antes de uma edição.

Christensen vai mais além e diz que, mesmo quando se emprega filmes, a especificação técnica dos mesmos pode levar a exposição de uma mesma cena a ter resultados diferentes. Segundo ele, o registro de uma cena reflete diretamente as configurações de exposição do equipamento - abertura do diafragma, velocidade do obturador e ISO, por exemplo. A meu ver, neste ponto Christensen tem razão: RAW e realidade que se apresenta ao olho humano não estão necessariamente atrelados.

O que vejo aqui, como subproduto do celeuma, são os efeitos deletérios de normas difusas e subjetivas*. Elas permitem que conceitos como "extremo", "demais", "normal" e "boa prática" sirvam como argumentos de exclusão, apesar da subjetividade inerente a eles. No entanto, é salutar que, aos 35 anos de existência do concurso, as fotos de Christensen tenham suscitado debate tão intenso na comunidade. Ele, por sua vez, decidiu que de agora em diante apenas participará de concursos com fotos P&B.

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* "
Photos submitted to Picture of The Year must be a truthful representation of whatever happened in front of the camera during exposure. You may post-process the images electronically in accordance with good practice. That is cropping, burning, dodging, converting to black and white as well as normal exposure and color correction, which preserves the image's original expression. The Judges and exhibition committee reserve the right to see the original RAW image files, RAW tape, negatives and/or slides. In cases of doubt, the photographer can be pulled out of competition".

Tradução:

"As fotos submetidas ao [concurso] "Foto do ano" devem ser representações reais do que quer que tenha ocorrido diante da câmera durante a exposição. Você pode pós-processar as imagens eletrônicamente, de acordo com a boa prática. Isso significa croping, burning, dodging, conversão para P&B, bem como correção de cor e exposição normais, que preservem a expressão original da imagem. Os juízes e o comitê da mostra se reservam o direito de verificar arquivos RAW originais, fitas RAW originais, negativos e/ou slides. Em caso de dúvida, o fotógrafo pode ser excluído da competição".