domingo, 8 de dezembro de 2013

Não custa googlar: ShiftN - uma maravilhosa solução para correção de perspectiva fotográfica

Ricardo Goldbach

Ao se usar uma objetiva grande angular é inevitável que ocorra o efeito Keystone, quando os paralelismos presentes na imagem passam a divergir ou convergir em direção ao topo, dependendo de a câmera estar apontada para baixo ou para cima, respectivamente. Em ambos os casos, quanto mais o eixo da objetiva estiver inclinado, maior será a distorção. Esse efeito também pode ocorrer em objetivas de maior distância focal, mas nas grandes angulares a coisa é muito mais dramática.

Uma solução é o uso de uma objetiva do tipo PC, do inglês perspective correction (correção de perspectiva). Ocorre que, além de uma PC Nikkor 24mm f3.5 custar cerca de US$ 2 mil, o fotógrafo deve se familiarizar (e muito) com as funções de shift, tilt e rotação, através das quais o eixo da objetiva é fisicamente deslocado ou girado de sua posição natural, o que altera o ângulo de incidência do círculo de imagem sobre o sensor (com a desvantagem de não poder haver tilt e shift ao mesmo tempo):

Objetiva manual PC-E Nikkor 24mm f/3.5D ED (imagem: B&H Photo)

Vendo os resultados de imagens que fiz com uma Tokina AT-X Pro 17mm f/3.5, não gostei da distorção exagerada que algumas fotos tinham. É bem verdade que o Photoshop dispõe de funcionalidades para corrigir o keystoning, como o filtro de correção de objetivas e a transformação de perspectiva, mas nunca fiquei satisfeito com os resultados. Foi quando deu o estalo: será que há coisas melhores por aí?

Googlei. Googlei e achei uma joia chamada ShiftN (download aqui), que pretendo manter sempre por perto. Trata-se de uma software autônomo, gratuito e de código-fonte aberto, e não de um filtro para o PS. Com apenas um clique, é possível obter o alinhamento das paralelas, ou mesmo forçar o ligeiro e agradável desalinhamento que transmite a sensação de perspectiva.

Assim, peguei minha imagem original, converti para JPG (o ShiftN não lê arquivos RAW),


e abri no ShiftN:


Pressionando o botão "Automatic correction", obtive o resultado abaixo. As linhas verdes, na imagem à direita, são as que o programa levou em consideração ao determinar a correção necessária, e as roxas são as que não contribuíram para a decisão. O ângulo limite para que uma linha seja considerada é configurável por parâmetro, em "Adjust correction", e é possível retirar uma ou mais linhas do conjunto originalmente identificado pelo algoritmo. Mais ainda, shift, rotação, distorção esférica e expansão da horizontal podem ser manualmente configurados de acordo com o grau de intervenção desejado.

A área em cor preta, à esquerda, corresponde à região (sem informação de imagem) que resultou da rotação do plano original:


O arquivo salvo, automaticamente cropado para eliminar a região escura, ficou assim:



Após uma leve correção de horizonte e um crop (via PS), o resultado final foi este:



Eu tenho uma relação algo purista com meu equipamento: sempre procuro deixar o mínimo de trabalho possível para a etapa de pós-produção; prefiro "fazer a foto" no instante do clique, por meio de posicionamento, composição e do óbvio triângulo ISO+abertura+velocidade. Mas é inegável que em casos como o acima o ShiftN é solução bem mais prática do que ter um kit de objetivas PC, a cerca de US$ 2 mil cada uma. Sem dúvida alguma.

Muito obrigado pela sua criação, Marcus Hebel.


Em tempo: é miraculosa a ausência de distorção esférica dessa AT-X Pro no corpo D300 (não FF), apesar da pequena distância focal: não há o que corrigir.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Creditar? Não acredito mais

ou "Lançar pândegas! Arrebitar os mequetrefes! Içar maçaricos e pleonasmos... Abordar!"  

por Ricardo Goldbach
 

Composição minha, de duas imagens de autoria desconhecida


O acaso é poderoso: muita coisa acontece por causa dele, por acaso. Há pouco tempo descobri, e por acaso, que uma foto de minha autoria foi usada para ilustrar cerca de 2/3 da primeira página de um jornal, o house organ de um daqueles megacondomínios da Barra da Tijuca.

Coisa bacana! Só faltou eu ter autorizado o uso do meu material. Com um exemplar em mãos, descobri mais: a "editora responsável"  -- não a conheço pessoalmente e refiro-me a ela assim, entre aspas, pelo fato de o expediente não identificar um jornalista sequer -- atribui a si mesma, genericamente, a autoria das fotos publicadas, salvo os casos em que ela decide dar crédito a um ou outro autor. Não foi meu caso. Coisa chata.

Deixei o assunto de lado, até porque (acho que eu já disse isso)
o expediente do veículo não identifica um jornalista sequer. Logo, eu não seria compreendido ao citar categorias tais como ética jornalística, direito de propriedade intelectual e outras. Deixei de lado. Coisa que acontece.

No dia de hoje, folheando a oferta de cursos da plataforma Coursera, um tema despertou meu interesse: "The Camera Never Lies", ministrado pelo Dr. Emmett Sullivan, do Departamento de História do Royal Holloway, University of London. "Já é!", pensei, "quero acompanhar o próximo".




Fiz uma rápida busca no Google para localizar referências mais específicas a respeito de um dos textos de leitura recomendada. Achei. Achei uma instituição chamada KayaLabs, que oferece o mesmo conteúdo programático, com idêntica apresentação (palavra por palavra, letra por letra) e idêntico programa (idem, idem) e até o mesmo erro de gramática -- sem qualquer referência que seja ao curso ou ao nome do Dr. Sullivan. A favor dos piratas, a atenção que demonstraram ao excluir a referência à universidade inglesa. Ah, sim, também tiraram o "The", do nome do curso, que é para não dar muito na vista:

 

Constatação (que novidade...): a Terra, que já foi chamada de "nave-mãe" de nossa jornada pelo espaço sideral, torna-se mais e mais uma nave pirata, em jornada através dos mares cheios de lodo e sargaço da amoralidade, da generalização fomentada pela internet, segundo a qual "se está ali é de graça, não tem dono, posso dizer que é meu".

Coisas às quais é preciso se acostumar.


sábado, 9 de novembro de 2013

George, sempre Harrison

"Watch out now, take care,
Beware of soft shoe shufflers
Dancing down the sidewalks
As each unconscious sufferer
Wanders aimlessly
Beware of Maya" 

(trecho de "Maya")

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Não é saudável, nem belo, nem dá para negociar

por Ricardo Goldbach

O blog "Saude Beleza e Negocio" (assim mesmo, sem acentuação nem vírgula) é mais uma das iniciativas amadorísticas a adotar a odiosa tática de fazer spam via celular. Coisa apócrifa, site sem dono nem link para contato, dá apenas para saber que uma tal Alessandra posta coisas por lá.

O tom de aviso de nova mensagem, em um celular, costumava representar comunicação de amigo ou familiar, ou então de business. Chamava a atenção, valia a interrupção da rotina de trabalho, mas não mais. Agora aquele tom também pode ser manifestação de gente sem noção, que acha que o mundo real é um grande Facebook, onde se entra na casa dos outros sem a menor cerimônia, ou cutuca-se o ombro de um desconhecido, como se amiguinho de balada ele o fosse.

PS: vai sem link para o site, que é para não gerar os page hits mercenários que Alessandra quer contabilizar no Adsense. Sempre desconfio de quem não mostra a cara. Comigo não, violão.

sábado, 26 de outubro de 2013

Enquanto isso, em Washington...

(imagem: transmissão da C-Span)


Com legendas em português, as vozes de outros denunciantes da atualidade, além das palavras do lendário Daniel Ellsberg (The Pentagon Papers, 1971):


"Stop Watching Us"

 

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

DIY - Cabo de disparo da Nikon D300 (D300 trigger cord)

Ricardo Goldbach

Com a pinagem do soquete à mão, é fácil improvisar um cabo de disparo. Difícil é dar um acabamento bonito -- mas isso é outro projeto. Tenha cuidado ao encaixar e manusear os fios. O risco é seu.

It's a piece of cake when you know the pins' signals, but do it at your own risk. As for a nice looking assembly, that's a whole other story.








quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Desgoverno e niilismo

por Ricardo Goldbach

Como epílogo do deplorável espetáculo de despreparo que o governador Sérgio Cabral ofereceu ao Rio e ao mundo na noite de 15 de outubro, chega notícia, via Ancelmo, segundo a qual entre os presos pela PM (manifestantes que se encontravam na escadaria da Câmara dos Vereadores), está o pesquisador da Fiocruz Paulo Roberto de Abreu Bruno. O cientista, com quem não tenho a mais remota ligação, tem um nada magro currículo nas áreas de Engenharia Sanitária, Saúde Coletiva, Saúde Ambiental e Saneamento, além de passagens por História, Geografia e Antropologia Social, segundo me informa a Plataforma Lattes.

Pelo que aparenta ser falta de assunto (e de estofo suficiente para tratar de algum assunto), Rodrigo Constantino dedica-se, já em 16/10, ao seguinte trecho da Coluna do Ancelmo:

"Entre as 182 pessoas presas durante os conflitos entre polícia e manifestantes no Centro do Rio, ontem, está o professor e pesquisador Paulo Roberto de Abreu Bruno, da Escola Nacional de Saúde Pública/Fiocruz. Segundo a entidade, ele tem como um dos principais objetos de estudo a pesquisa de movimentos populares urbanos. Desde junho, vem recolhendo material de campo e fazendo registro fotográfico das manifestações no Rio de Janeiro. Paulo Bruno atua também no campo da saúde coletiva e ambiental tanto em comunidades indígenas amazônicas como em favelas."

Num desafio simultâneo ao Direito e ao Jornalismo, o articulista da Veja conclui:

"E agora temos isso: um representante, professor e pesquisador da entidade envolvido com criminosos, baderneiros, vândalos que atacam a polícia e quebram coisas nas ruas."

Estranha e precipitadamente, Constantino esperava da Fiocruz uma "nota de repúdio pela participação de um dos seus nesses atos vergonhosos e criminosos".

Baixando a bola e indo por partes, começando pelo Direito: atribuir falsamente um crime a alguém é em si o crime de calúnia, previsto no art. 138 do Código Penal, e seu autor está sujeito a pena de detenção de 6 meses a 2 anos, além de multa. Não é à toa que o Estado de Direito (não confundir com estado de direita) promove a atuação dos tribunais e o estabelecimento do contraditório, alimentados, por um lado, por inquéritos instaurados pela Polícia Civil e apreciados pelo Ministério Público e, por outro lado, pelo direito à defesa. Passados apenas dois dias, ainda se está em fase de inquérito e de indiciamentos (espera-se também que haja inquérito sobre disparos de armas de fogo com munição letal, por parte da PM). Por enquanto, qualquer imputação de crime é... mera imputação de crime.

Quanto à ótica jornalística, nenhuma novidade para quem conhece os fundamentos do Jornalismo, ou mesmo para quem aprecia estar informado sobre o mundo ao seu redor: toda e qualquer veiculação de informação dever ser precedida por apuração, pela minuciosa verificação dos fatos reportados. Pelo bom senso, o preceito deve valer também para conteúdos autorais, de opinião; caso contrário, é descrédito para quem escreve e para quem veicula.

No texto publicado na Veja, há mera releitura distorcida do texto de outrem. Nesse ponto, Constantino desvia-se de um de seus ídolos, Ludwig von Mises, economista e filósofo austríaco, refratário ao nazismo, um dos pilares da Escola de Viena, que condenou a lógica do polilogismo (trabalhar com hipóteses antagônicas como se harmoniosas o fossem): "A humanidade precisa, antes de tudo, se libertar da submissão a slogans absurdos e voltar a confiar na sensatez da razão". Segundo esse apelo, "o polilogismo é tão intrinsecamente sem sentido que ele não pode ser levado consistentemente às suas últimas consequências lógicas". Dadas as carências de sensatez e razão no libelo que Constantino brande contra Paulo Roberto e a Fiocruz, sobra apenas um polilogístico tiro no próprio pé. Dizendo de outra forma, quem distorce o que quer atacar, acaba dando sopapos no ar.

Quanto á presença do cientista na Cinelândia, nada há de estranho em ele ter estado lá para recolher "material de campo e fazer registro fotográfico das manifestações no Rio de Janeiro", à luz da informação de que o preso tem "como um dos principais objetos de estudo a pesquisa de movimentos populares urbanos". Se é verdade ou mentira, a conclusão caberá a um tribunal, não a um economista afoito. A princípio, não vejo por que duvidar da Fiocruz. Como certeza, fica o fato de a PM só ter começado a agir horas depois do início do vandalismo, optando por deixar escapar o flagrante de arruaceiros  aí sim  em pleno quebra-quebra. E o governador Sérgio Cabral, diga-se, deve ser chamado às falas para responder por isso.

Outra coisa estabelecida até aqui é que atuar no setor financeiro não instrumentaliza alguém, automaticamente, a ler e interpretar corretamente uma simples nota do Ancelmo. Quanto à exacerbação desmedida de vieses ideológicos, isso já é material para outra enfermaria, basta comparar os títulos dos dois textos.

Afirmação de Ancelmo Gois: "Entre os presos, professor da Fiocruz, que pesquisa protestos"

Conclusão de Rodrigo Constantino: "Fiocruz tem representante entre os criminosos presos nas 'manifestações'"

Fica o convite à reflexão: vamos de informação ou de deformação?



sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Ritalina, Rivotril, todo mundo ri

De vez em raramente, um copy&paste:

"Pills"
(Alan Sherman, 1964)

There are pills that make you happy
There are pills that make you blue
There are pills to kill your streptococci
There are pills to cure your cockeye too

There are folks whose pills have made them healthy
There are folks whose pills have cured their chills
But the folks whose pills have made them wealthy
Are the folks who make all those pills



quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Eduardo Paes, Sérgio Cabral e os Blackbacas -- tudo a ver?

Ricardo Goldbach

Chamam a atenção a passividade e a omissão do Estado, nas figuras de Eduardo Paes e Sérgio Cabral, diante da previsível baderna que tem acompanhado toda e qualquer uma das recentes manifestações da sociedade civil no Rio de Janeiro. Aquele policiamento ostensivo,  competente em forjar flagrantes e espancar jornalistas, é mandado ficar ao longe ou ausente, como se tem visto, quando se trata de evitar o crime.

O que esse descerebrado acha que conseguiu? (foto: Pablo Jacob)
O que esse descerebrado acha que conseguiu? (foto: Pablo Jacob)

Pensando bem, aquelas duas autoridades(?) devem apreciar -- e muito -- ver as manifestações populares contrárias às suas pífias atuações transformarem-se numa grande mudança de assunto, nessa unânime condenação aos rebeldes sem causa, a esses idiotas que até agora não disseram a que vieram, a não ser saquear estabelecimentos comerciais e emporcalhar monumentos e prédios históricos. Pivetes mascarados, Blackbacas que tendem a esvaziar e calar a legitimidade das ruas, é o que são, além de covardes, já que precisam pegar carona nos movimentos dos outros.

Pronto, Eduardo e Sérgio: o assunto deixou de ser a remoção de dezenas de comunidades ao avesso da Justiça, não são mais as Construtoras Delta da vida, deixou-se de lado as licitações cinzentas e as fortunas duvidosas que surgem da noite para o dia com os eventos desportivos que se avizinham. Os Blackbacas já fizeram a parte deles, tirando da pauta temas que causam incômodo a vocês. Está de bom tamanho, ou vão continuar a ser cúmplices dessa baderna?



terça-feira, 10 de setembro de 2013

Cultura no lixo e lixo cultural

Ricardo Goldbach

Há poucos dias, tive a oportunidade de conhecer o escritor Cláudio Murilo Leal. Ouvi pequena palestra desse professor itinerante de Literatura (Brasil, Inglaterra, França e Espanha), finda a qual ele apresentou duas pilhas de livros, de duas obras poéticas suas. Com ar constrangido, explicou que os exemplares estavam à venda, que não os havia trazido como presentes. Mais que explicações, praticamente ofereceu pedido de desculpas por estar a vendê-los, dando relato de um evento daqueles que não precisava ter acontecido -- ou que, em tendo acontecido, melhor teria sido não presenciar.

Em ocasião passada, ao receber de editora em situação falimentar um grande lote de livros de sua autoria, Murilo havia optado por dá-los de presente ao final de aulas, palestras e conferências. Um dia, viu um dos contemplados dar uma rápida folheada no regalo e em seguida atirá-lo ao lixo. Desde então, o poeta abre mão do elegante gesto de presentear pessoas desconhecidas com suas obras.

Que tipo de pessoa atira um presente ao lixo? Mais que um presente, um livro? Me ocorre uma explicação fantasiosa, ainda que plausível: deve ser alguém que, ao invés de achar que o presente não está à sua altura, não se considera à altura do presente que ganha. Tem que ser isso, só pode ser isso, pois, do contrário, a indústria cultural – de novelas e enlatados, principalmente -- terá dado mais um passo no processo de alienação identificado por Adorno: produtos ditos culturais se destinariam apenas a fazer o trabalhador entreter-se com superficialidades entre duas jornadas de trabalho, tirando dele um de seus ativos mais preciosos, que é a capacidade de discernir o mundo por seus próprios olhos, coisa não fertilizável por, digamos, uma novela das oito (das nove?) -- cuja eficácia em sentido oposto, aliás, pode vir justamente do excesso de fertilizante oferecido.

Como diria aquele filósofo romeno, "tá danado". "Concerteza", responderia um de seus pares.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

NSA-ruled UK dumps the rule of law

by Ricardo Goldbach

Meanwhile in a former western democracy, a time machine sends David Miranda back to 1984, as government officials issue an ad hoc regulation:



A hat tip goes to Glenn Greenwald:
If the goal of the UK in detaining my partner was - as it now claims - to protect the public from terrorism by taking documents they suspected he had (and why would they have suspected that?), that would have taken 9 minutes, not 9 hours. Identically, the UK knew full well that forcing the Guardian UK to destroy its hard drives would accomplish nothing in terms of stopping the reporting: as the Guardian told them, there are multiple other copies around the world. The sole purpose of all of that, manifestly, is to intimidate. As the ACLU of Massachusetts put it:
"The real vengeance we are seeing right now is not coming from Glenn Greenwald; it is coming from the state."

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

O rei morreu, viva o rei. Subtitle Workshop vs. VisualSubSync

Ricardo Goldbach

Como usuário do Subtitle Workshop há cerca de 7 anos, achava eu que todas as instabilidades do produto haviam sido sanadas com a liberação da versão 1.0.4.0 da SubtitleAPI.dll.

Não era o caso. Na última tradução que fiz ("Cartas de Iwo Jima", belíssima direção de Clint Eastwood, para o canal Fox), percebi que o SW havia corrompido mais de 1.500 tempos de entrada/saída, com a geração de frames inválidos, superiores a 29 (para um frame rate de 29.97).


Foi a gota d'água. Após um dia inteiro de retrabalho para liberar o produto, fiz uma varredura do cenário atual de aplicativos disponíveis. Dei de cara com uma joia chamada VisualSubSync. Dentre outras coisas, o VSS permite timear olhando-se a onda do áudio, e fazer a sintonia fina deslocando-se, com o mouse, as extremidades do intervalo de onda correspondente à legenda. Em cerca de 1s, crava-se entrada e saída, sendo possível a adoção de sugestão automática para a duração, em função do reading speed estipulado por parâmetro -- a produtividade sobe incrivelmente. Num dos campos de informação da interface é exibida, em tempo real, uma comparação entre o RS corrente e o ideal, à medida em que se estica ou se contrai a duração.

A gama de erros apontados e de suas características, quando se solicita um relatório, é superior tanto à do Subtitle Workshop quanto à do Horse.

Além de tudo isso, também é possível a customização das funcionalidades, pois os plugins são escritos em javascript. Por exemplo, alterei o plugin de verificação de timing para que aceite legendas coladas, e não somente as que tenham distância superior ao mínimo parametrizado. Agora meu VSS rejeita distâncias inferiores a 500ms, mas aceita as menores que 2ms (em termos práticos, zero frames), bastando eu ter alterado a linha 43 do script overlapping.js, localizado no subdiretório jsplugin do aplicativo:

de
      if ((OverlapInMs > 0) && (OverlapInMs >= VSSCore.MinimumBlank)) {

para
      if ((OverlapInMs < 2) || (OverlapInMs >= VSSCore.MinimumBlank)) {

O VSS é freeware e está disponível no Source Forge.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Beware, Zorpia scamming ahead - Cuidado, golpe do Zorpia à frente

by Ricardo Goldbach
Centuries have passed, Occam Razor still rules: Zorpia is definitely a spamming site. That' s the most simple and straightforward conclusion accounting for the spam spree fueled by Jeffrey Ng and his bad-famed, Hong-Kong based, so-called "social network", when one faces the evidences.
I've just received an e-mail from Zorpia as for some gorgeous babe having left me a message. Out of the blue, just as recommended on "Scamming 101". And, yes, I would have to go to the site address and login in order to read it. As a rule of thumb, I googled the scamming operation site's name and confirmed my first thoughts: either Zorpia is the like of another Badoo’s scamming engine or the 1.000th doomed Facebook wannabe.

C. Custer, at Tech In Asia Online Community, carried out a thorough investigative job,  comprising even personal e-mail exchange with Ng, who assured he was a good guy and unaware of  complaints. Faced with factual and solid evidences, Ng replied that "even if we assume there were 500 complaints, that represents a complaint to user ratio of only 0.0018%”. I say thousands of users and negative reviews (and still counting) dispute that claim.

One of the zillion samples out there

Wikipedia entry for the stenchy operation denounces this guy's evildoings: “Account deletion requests are not honoured and [people's] data is continuously used for outbound invitations”.
An eyebrow raise goes to the fact that Zorpia doesn’t seem to face ban issues in China. Huh? Facebook and Twitter do, but Zorpia doesn't?
Moral Decency in doing business Sheer greed Privacy concerns set aside, just figure out the mess a “friend invitation” — especially if attached to the profile picture of a smiling beauty — could bring to a jealous wife/fiancee/girlfriend’s paranoid mind. I don’t need to think about it, as I’ve been there and seen that. You really don’t need that pain in the ass; just go get yourself another wife/fiancee/girlfriend. Or not. Life goes on.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Atualização de firmware da Nikon D300 - não faça isso em casa

Ricardo Goldbach

Sobre-exposição -- o novo default da Nikon D300
(imagem: exposureguide.com)
Em maio de 2013, a Nikon liberou atualização de firmware para a D300 (de 1.10 para 1.11), anunciando suporte à AF-S NIKKOR 800mm f/5.6E FL ED VR. Embora eu não pense em gastar os mais de US$ 17 mil que a B&H pede por esta joia, sei que a Nikon embute melhorias não declaradas em suas atualizações (já tive gratas surpresas com update da D80). Assim, sem medo de ser feliz, instalei a 1.11 na D300.

Como dizem naqueles programas em que pessoas fazem coisas arriscadas, meu conselho é: "Não tente fazer isso em casa". O fotômetro encontra-se agora completamente alucinado, gerando sobre-exposições de até 3 pontos. Downgrade para a versão anterior? Nem pensar: a versão anterior não está disponível para download, já que é a originalmente instalada em máquinas novas (ao menos à época do lançamento deste modelo). O reset de 2 botões não faz qualquer diferença, o full também não. A solução, como sempre, é esperar por uma versão de correção -- que não traga novos bugs.

I decided to install the new firmware update (1.11) Nikon released for the D300 as of May, 2013, the sole benefit been announced as the support for the AF-S NIKKOR 800mm f/5.6E FL ED VR, a US$ 17K+ beast which I don't consider buying at all. But, as Nikon is known for bundling undisclosed bug fixes and minor enhancements in new firmware releases, I gave the 1.11 a try.

As they say on some TV shows, "don't do this at home" -- light metering has gone wild, with overexposure amounting to 3 EV points. As 1.10 version download is not available, here's to you, Nikon: kudos for messing with the delicate guts of my D300. Can't wait for the 1.12 amended version (or should I say 2.00?).

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[UPDATE - RESOLVIDO] / [UPDATE - SOLVED]

D300 A/B:1.10 firmware update: 
https://support.nikonusa.com/app/answers/detail/a_id/16149

Noto que o download não está disponível na página de "firmware downloads", mas na de respostas a dúvidas de usuários. Ou seja, há que garimpar muito -- ao longo das dúvidas de outros usuários -- para a solução de problemas. Mesmo assim, cheguei a esse link através de um outro fórum, não de pesquisas no site da Nikon.

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sexta-feira, 12 de julho de 2013

"O Globo" ou "O Funk"?

Ricardo Goldbach

Não trabalho no Globo nem quero isso. Sou "de fora", mas vou 'chamar a atenção para o fato' e 'criticar a forma como as coisas são feitas'. Em tempos em que a garotada pratica leitura no Facebook e escrita no Twitter, há jornalistas(?) que ainda não sabem usar corretamente os verbos de nosso idioma.

Ler um jornal escrito por gente letrada está cada vez mais difícil. E sem essa de que o Português é idioma vivo, que se transmuta e se adapta a novos tempos, usos e costumes. Lingugem falada é uma coisa, escrita é outra. Há que haver fronteiras entre baile funk e redação de jornal, como vejo a coisa.

Para mal da Comunicação, o Globo não preza o idioma, e seus funcionários (soa melhor que "jornalistas") primam por ir contra um papel secundário de um veículo de comunicação -- servir de referência para a boa escrita -- como se vê no aconselhamento abaixo, publicado em 11/07/13:
















4. Não critique a forma como as coisas são feitas. Preze pela diplomacia. Mesmo que os profissionais da empresa saibam que algumas coisas não são feitas da melhor maneira, ninguém gosta que alguém “de fora” chame atenção para o fato.


Se os funcionários (soa melhor que "jornalistas") globais ainda não entenderam a mensagem -- o que é plausível -- aí vai:
Prezar - v.t.d. (apreciar algo) - "Prezar um bom papo", "Prezar as amizades".

Primar - v.t.i.   (caracterizar-se por algo) - "Ele prima pela boa educação", "O prefeito prima pelo desrespeito às leis".
Desconhecer essas regências é coisa que não se deve fazer num jornal -- nem na primeira semana, nem nunca.

terça-feira, 9 de julho de 2013

O atendimento de emergência na visão dos profissionais de saúde

Matéria produzida a partir de entrevista que fiz, em setembro de 2008, com o prof. Jorge de Campos Valadares, pesquisador da Fiocruz/ENSP.

por Ricardo Goldbach
Estudo liderado pela psicóloga Marilene de Castilho Sá, da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz, e publicado na edição de junho dos Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, conclui que trabalhar em um hospital de emergência é lidar com uma demanda que não se esgota na busca por assistência médica num sentido estrito. “Usuários desses serviços também buscam sentido e amparo, pois são uma população em grande parte à margem da cidadania e das redes sociais de apoio e solidariedade”, esclarece Marilene.
"O paciente chega ao hospital procurando um amparo que vai além do atendimento médico".
Segundo o doutor em Saúde Pública pela Fundação Instituto Oswaldo Cruz/ENSP - onde é pesquisador titular - Jorge de Campos Valadares, “esse quadro não tende a se alterar enquanto não forem reestruturadas as condições de atenção primária e a infra-estrutura de oferta de serviços na área de saúde”. Valadares concorda com a autora do estudo, no sentido de que “o atendimento de emergência, especificamente, tem como ônus extra o estado emocional do paciente, que chega ao hospital procurando um amparo que vai além do atendimento médico”.
O especialista diz que a “procura pela estrutura hospitalar poderia ser reduzida com a implementação de atividades e programas de acolhimento, com esclarecimento e prevenção, fundamentados na atenção primária, regionalizada, incluindo aí o trabalho de saúde ambiental”. Não pensar desta forma, segundo Valadares, implica em “se estar continuamente apagando incêndios pontuais”, com as conseqüências recaindo sobre a população e a estrutura de atendimento.
Nas reuniões entre especialistas "muita coisa se dá de forma não transmissível, inclusive os jogos de poder."
“As políticas de saúde pública no Brasil favorecem a manutenção de uma demanda em muito superior à oferta”, diz Valadares. Para o especialista, uma política completa deveria incluir uma prática não somente pluridisciplinar, mas transdisciplinar. Segundo ele, “essa prática implica em uma travessia de confrontos, em que os investimentos afetivos são expressos e reavaliados pelo grupo multidisciplinar, composto por médicos, psicanalistas, enfermeiros, antropólogos, sociólogos, assistentes sociais, dentre outros, além da necessária disposição política de promover a transformação. Isto vai além dos dispositivos técnicos das diversas teorias”. Para o pesquisador, “o trabalho transdisciplinar é um trabalho de grupo que implica a mencionada experiência de confronto, não somente de teorias como também de experiências”, e ele lembra que “a arte da argumentação consiste em trazer a discussão para o seu próprio campo de saber”, segundo o ex-presidente da Fiocruz, Prof. Dr. Luis Fernando Ferreira.
Valadares afirma que “esses trabalhos transdisciplinares, incluindo-se aí a captação de fomento, são muito subalternos à prática política como um todo, e que a saúde pública ainda está num nível pré-freudiano. O ser humano age e produz ‘atuações’, negando que atua”. “Há comportamentos humanos que não são passíveis de ‘esclarecimentos’, pois se dão em ato e não são teorizáveis, se dão na prática dos encontros e dos desencontros”, acrescenta. Nas reuniões entre especialistas “muita coisa se dá de forma não transmissível, inclusive os jogos de poder. Em muitos hospitais se decide quem vai morrer, como uma conseqüência da escassez e do contingenciamento de verbas feitos em instâncias superiores” diz Valadares. Ele afirma ainda que “no âmbito local o investimento poderia ser melhorado através de conselhos municipais de saúde, pois as verbas seriam direcionadas para onde são necessárias, no nível da ação”.
Nosso entrevistado cita Foucault, dizendo que "não há saber sem poder", mas completa afirmando que "mesmo havendo este cuidado com os meandros do poder, pode haver a cooptação, no exercício da política de distribuição de verbas".
Quanto às pesquisas, “as decisões cabem aos pesquisadores mais articulados”, diz. “Isto poderia ser equacionado com a participação de especialistas com experiência consagrada em psicologia social, nas etapas de pesquisa, ensino e planejamento. O pensamento não pode ser baseado em certezas. Para que se tenha uma prática que não seja pré-freudiana, é necessário que se tenha em mente a afirmação de Heidegger: ‘a dúvida é a piedade do pensamento’”, afirma o cientista. “A cada minuto as certezas devem ser abaladas para que os conceitos não se transformem em preconceitos”, diz. Nosso entrevistado cita Foucault, dizendo que “não há saber sem poder”, mas completa afirmando que “mesmo havendo este cuidado com os meandros do poder, pode haver a cooptação, no exercício da política de distribuição de verbas”.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Prism, o Echelon 2.0

Ricardo Goldbach

Quem não tem lido jornais nas últimas décadas pode surpreender-se com o sistema de espionagem eletrônica Prism e seus objetivos, que o presidente Barack Obama tanto busca esconder ou minimizar. Trata-se de mais um aparato de dominação global dos EUA, operado por serviços de inteligência, a ganhar atenção da mídia, desta vez com a exposição dada por Edward Snowden.

O fato é que o Prism é como um sucessor do Echelon, turbinado com algo de Big Data. O Echelon é uma rede de coleta e processamento de dados de telefonia, fax e e-mail implementada com a cumplicidade dos governos do Canadá, Inglaterra, Austrália e Nova Zelândia. O sistema chegou a ser usado para espionagem industrial, de modo a dar às empresas sediadas nos países-membros vantagens competitivas sobre os concorrentes europeus. Foi essa a natureza da denúncia da então ministra da Justiça da Franca, Elizabeth Guigou, nos idos de 2000, segundo a BBC, em matéria com o título “França acusa EUA de espionagem”:
The Echelon surveillance network - which can intercept private telephone conversations, faxes and e-mails worldwide - had apparently been diverted to keep watch on commercial rivals.
A BBC explica:
Her comments came as a report commissioned by the European Parliament alleged that the UK was helping the US to spy on its European partners.
Um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, James Rubin, fez seu papel – mentiu: "US intelligence agencies are not tasked to engage in industrial espionage or obtain trade secrets for the benefit of any US company or companies", no que foi acompanhado pelo então primeiro-ministro britânico Tony Blair.

Ainda em 2000, a Wired deu atenção ao caso, sob o título “França perplexa e aterrorizada com o Echelon”.

No Wall Street Journal, em 17 de março daquele mesmo ano, James Woolsey, ex-diretor da CIA durante a administração Clinton, explica, com arrogância, “Por que espionamos nossos aliados”, em artigo que tem precisamente este título. Já no primeiro parágrafo Woolsey mostra a que veio e desmente o porta-voz do Departamento de Estado:
Yes, my continental European friends, we have spied on you. And it's true that we use computers to sort through data by using keywords. Have you stopped to ask yourselves what we're looking for?
Curiosa e inocentemente, a explicação de Woolsey diz que a espionagem permitiu que se descobrisse casos de corrupção, que então foram levados aos governos interessados, o que por sua vez alterou o resultado de concorrências. Assim, o projeto Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia) foi ganho pela Raytheon, em 1995, porque a francesa Thomson havia subornado autoridades brasileiras. Igualmente, segundo Wolsey, numa concorrência para a aquisição de aviões pela Arábia Saudita, o consórcio europeu Airbus perdeu a vez para a Boeing porque havia subornado autoridades sauditas. O fato é que em ambos os casos empresas norte-americanas saíram-se bem.

Woolsey termina sua peroração com uma recomendação:
Get serious, Europeans. Stop blaming us and reform your own statist economic policies. Then your companies can become more efficient and innovative, and they won't need to resort to bribery to compete.
And then we won't need to spy on you.
Algo como, “Europa, pare de nos culpar e modifique suas políticas econômicas estatizantes. Se suas empresas forem mais eficientes e inovativas, não precisarão recorrer a subornos para poder competir, e nós não precisaremos espionar vocês”. Um primor de cinismo, não?

Em maio de 2001, o jornal The Guardian ainda se dedicava ao tema, fazendo um descrição sucinta do Echelon e trazendo links diversos sobre os ecos do escândalo.

Em julho de 2008, a CSN informa que o Parlamento Europeu abrirá investigação sobre o caso.

Somente agora, em meados de 2013, a exposição de Snowden consegue colocar o assunto nas primeiras páginas de todo o mundo. Old news, pode-se dizer. Mas pelo menos foi reaceso um tema sobre o qual a Casa Branca e seus cúmplices de além-mar tanto mentiram ao longo dos últimos anos. E provavelmente continuam mentindo, pois faz pouco sentido investir bilhões de dólares na coleta e filtragem de metadados, mas deixar de lado a coleta da informação propriamente dita -- o áudio de um telefonema ou o corpo de um e-mail, por exemplo -- quando relevante.


terça-feira, 18 de junho de 2013

Brazilian major cities set on fire - part 1

understanding the June, 2013 riots

by Ricardo Goldbach (reporting from Rio de Janeiro)

The stunning outburst of violence that raided São Paulo, Rio de Janeiro and other major Brazilian cities presented two kinds of players. Small groups of hooligans and looters took advantage of the protests of a much larger group, the latter comprising students and workers concerned with the buildup of the corruption that is endemically spread throughout Brazilian political elites -- including the once left winged, now dominant Labor Party.


Photo by Marcelo Carnaval (Agência O Globo)
Brazilian media says that masses negative feelings were ignited by an average R$ 0,20 bus fare raise. But there is something missing here: the public transport business was recently granted some tax exemptions, provided that fares would go cheaper accordingly. However, that compensation didn't see the light and authorities played dead. Nonetheless, the mere fare raise is considered to be the initial movement's flagship, per se.

Besides that, a buildup of several factors lies behind the scenes that led to the social unrest we now see, the first of them being related to the big sporting events Brazil is going to host.

The Fifa World Cup, the Confederations Cup and The Olympics

Since Fifa first disclosed its rules regarding both World Cup and Confederations Cup, it was clear that they were kind of taking Brazil on lease. Among other things, Fifa was firm as for beverage being sold inside Brazilian arenas. National laws established a veto on liquor vending at major sporting venues, an effort to prevent violence among spectators, but Fifa won this round; Brazilian laws were revised as to comply with Fifa sponsors' needs (here, here, here, here and here). On a shameful move, federal government let to each involved city the task of handling the issue, on a local basis.

The rules imposed by Fifa established an exclusion zone of 100m radius around places holding official Fifa events, which extends to 2km when it comes to the sporting venues, where the selling of food and beverage of non-official sponsors brands is precluded.

Photo by Tiago Di Araujo (redebahia.com.br)
































Most surprisingly, "baianas" (women named after Bahia state), who sell a typical dish known as "acarajé", both on streets and at sporting venues, were forbidden to run their business inside the arenas. As popular outcry was huge, some arrangements took place in order to honor the most valuable tradition of the "baianas" (here and here). But the damage is visible, since Fifa proved able to make way through -- and even against -- Brazilian laws and traditions.

On a side note, few days ago Brazilian president Dilma Roussef was heavily booed when, sided by Fifa president Joseph Blatter, attended the opening of the Fifa Confederations Cup.


    

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Sobre charretes e computadores

Ricardo Goldbach

O portal de jornalismo Comunique-se traz, no dia 04/06/13, uma matéria sobre a onda de demissões que atingiu jornalistas do grupo Folha -- um "passaralho", como se costuma chamar.

Dos fatores que podem contribuir para estreitar o mercado de trabalho de jornalistas, dois são determinantes:  a existência de um governo avesso ao papel investigativo da imprensa e a irreversível migração dos veículos para o meio digital. Ficarei com este último.

À época em que eu trabalhava na Cobra -- para quem nasceu depois nos 70, naqueles anos a Cobra Computadores Brasileiros S.A. desenvolvia desde projetos de placas até compiladores e linguagens de programação, passando por assistência técnica em campo -- o Brasil vivia uma onda desenfreada de informatização dos negócios. Com a mesma intensidade, os sindicatos gritavam alertas de que a informatização levaria à redução da oferta de postos de trabalho.

Talvez, por eu ter viés de um trabalhador da indústria de computadores, eu comprava um peixe que era muito vendido: "Os postos de trabalho não vão desaparecer; haverá apenas a necessidade de os trabalhadores se adaptarem para preencher os novos postos de trabalho". A falácia ia além, descendo a exemplos: "Quando o automóvel surgiu, bastava que os charreteiros aprendessem a dirigir. O emprego não desapareceu, apenas mudou de cara".

Acreditei nisso por algum tempo, até que estendi um pouco aquele raciocínio. Com os motores a explosão não vieram apenas os automóveis; vieram também os ônibus, que levavam, de uma só vez, mais passageiros do que as antigas charretes e carruagens. Apenas como exercício de raciocínio, suponhamos que uma charrete levasse quatro pessoas, ao passo que um ônibus primitivo conduzisse, digamos, uns vinte passageiros. Assim, um charreteiro virou motorista de ônibus, enquanto quatro outros tiveram que inventar outro modo de ganhar a vida.

Enquanto isso, na época das cavernas...

Anúncio de emprego publicado no JB (18/12/1969)
Trazendo aquele cenário para época mais recente, lembro-me de quando as agências bancárias tinham listagens, atualizadas diariamente, contendo os saldos de todos os correntistas. Desse modo, quando eu queria sacar dinheiro da minha conta, na boca do caixa, o funcionário ia consultar meu saldo e anotava na listagem o valor que eu queria sacar. Antes disso, ele conferia visualmente minha assinatura, é claro, comparando-a com a que constava na minha ficha de correntista, que estava armazenada num armário, em algum canto da agência. Ao final do dia, as listagens contendo as anotações feitas à mão eram devolvidas ao CPD (centro de processamento de dados) do banco, onde digitadores (provavelmente em perfuradoras IBM 026, antecessoras das saudosas 029) preparavam as massas de cartões que atualizariam os saldos armazenados nos computadores.

É fácil olhar para essa cena e associá-la à época das cavernas, diante dos atuais cartões bancários chipados cuja senha é a palma da minha própria mão. Por outro lado, desapareceram funções administrativas tais como confrontar assinaturas, anotar saldos e perfurar cartões para atualização de contas. No lugar daqueles funcionários estão hoje os programadores de Visual Basic, COBOL e CICS, além de batalhões de analistas e gerentes de projeto, mas em muito menor quantidade, comparando-se relativamente.

Voltando à imagem dos charreteiros, é como se os quatro desempregados tivessem que ir estudar Odontologia, por exemplo. Antigos trabalhos são extintos, novos surgem em seus lugares, mas a quantidade de postos de trabalho é reduzida. Neste cenário não há lugar para adaptação; trata-se, mesmo, de reorientação profissional, se é que isso está ao alcance de um trabalhador técnico ou administrativo de nível médio.

Os Jetsons chegaram. E agora?

Quando os Jetsons encarnavam o divertido paradigma da sociedade do futuro (inclusive com a empregada Rosie, uma robô que, profeticamente, dispensava carteira de trabalho, férias e FGTS), dizia-se que com a automação do cotidiano as pessoas teriam mais tempo fazer o que quisessem. O futuro chegou, e é grande o contingente de pessoas que dedicam o tempo que têm a mais (o dia inteiro) às atividades de procurar emprego ou estudar desesperadamente para prestar concursos públicos. Isso é visível, tanto nas matérias de comportamento quanto nas de economia -- as publicadas em veículos digitais, é claro, já que rádio e jornal impresso estão em vias de extinção, no mundo inteiro. Com o progresso, os jornalistas daquelas mídias, da Folha e de outro veículos, agora têm mais tempo... para procurar novos empregos, cada vez mais escassos, ou para mudar de carreira, se tiverem o fôlego suficiente.

Esse não é pensamento de um ludita. Mas, como diz aquele filósofo romeno do século XIV, não custa pensar no assunto.

Feliz 2038.