quinta-feira, 11 de junho de 2009

Abrindo uma exceção, para Franco Modigliani

ou "uma previsão sobre o estouro da 'bolha' econômica"

Ricardo Goldbach

Vou fazer um Ctlr-C / Ctrl-V, apesar do motto deste blog.

O caso é que o laureado com o Prêmio Nobel Honorário de Economia de 1985, Franco Modigliani, merece ser reconhecido por sua visão inteligente e premonitória, apesar de a premonição não ser aqui um dom metafísico, mas antes uma capacidade de interpretar fenômenos e acontecimentos dos processos econômicos que, queiramos ou não, regulam nossas vidas. Reproduzo aqui uma brilhante antecipação daquele economista, falecido em 2003, do momento que vivemos, em tempos de crise econômica de escala planetária, na forma de matéria de Floyd Norris, originalmente veiculada no The New York Times em 01/04/2000, e posteriormente reproduzida no Estado de São Paulo e no site do Observatório da Imprensa. É leitura de qualidade.

Observação: o prêmio ao qual a matéria de Norris faz alusão, o Nobel Memorial Prize de Economia, não tem associação direta com os desígnios originais de Alfred Nobel ou com o Prêmio que leva seu nome. À época da concessão, tal distinção levava o nome de Prêmio Sveriges Riksbank de Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel. Esta associação entre o prêmio concebido pelo Banco da Suécia e o nome de Nobel é repudiada pelos herdeiros do inventor sueco, segundo matéria do Le Monde Diplomatique veiculada na edição online de 12/02/2005, assinada por Hazel Henderson. Uma versão traduzida desta matéria pode ser encontrada aqui, sob o título "A impostura do Nobel de Economia". No entanto, o site oficial do Prêmio Nobel faz menção a Modigliani como sendo o laureado em Economia, no ano de 1985.

Vamos ao Ctrl-V da matéria de Floyd Norris, que é o que interessa.

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Nobel de economia prevê estouro da ‘bolha’


"Franco Modigliani afirma que a atual mania por ações da Internet e de outras companhias de tecnologia não é irracional. Entretanto, é uma bolha, e vai explodir. ‘Posso mostrar, com precisão, que há dois preços para uma ação’, afirmou Modigliani, em entrevista telefônica. O preço que ele prefere é o baseado em fatores fundamentais, como lucros e índices de crescimento.

‘Mas’, acrescentou, ‘a bolha é racional, de certa forma.’ A expectativa de crescimento produz o crescimento, que confirma a expectativa. As pessoas comprarão a ação porque seu valor aumentou. ‘O problema é que o preço de bolha é naturalmente instável’, admitiu. ‘Ele só continuará a aumentar enquanto as expectativas continuarem a crescer’, diz. ‘Mas assim que os investidores se convencem de que determinada ação não está aumentando, nenhum deles estará disposto a manter um papel pelo fato de ele estar supervalorizado.’ Farão questão de vendê-lo e a ação cairá abaixo do preço determinado pelos fundamentos.

Modigliani sabe alguma coisa sobre isso. Atualmente com 81 anos, ele recebeu o Nobel Memorial Prize de Economia em 1985, em parte por causa do seu trabalho pioneiro, desenvolvido justamente em torno da análise dos fundamentos.

Um de seus ‘insights’ - que pareciam estranhos na década de 50, quando ele propôs suas teses pela primeira vez - foi o de que o preço dos valores mobiliários de uma companhia, inclusive o de ações e obrigações, deveria basear-se nos lucros esperados, descontados a uma taxa de juros apropriada. Isso também se aplica ao mercado de ações como um todo.

Sob essa luz, não é fácil racionalizar as gigantescas relações preço/lucro.

Modigliani argumenta que é impossivel, para a economia, crescer tão rapidamente quanto o mercado parece estar prevendo, ainda que algumas companhias venham a ter resultados muito bons.

‘Não se pode acreditar que os lucros das companhias continuarão a aumentar, sempre, na proporção de 7%’, enfatizou Modigliani. ‘Em algum momento, toda a renda nacional será tomada pelos lucros.’ Esses cálculos podem ser ignorados quando os investidores julgam estar testemunhando a chegada de uma nova era brihante, como ocorreu na década de 20 com o broadcasting e está acontecendo agora com a Internet. O presidente Bill Clinton será o anfitrião da Conferência sobre a Nova Economia, que se realizará na Casa Branca, na próxima semana.

Modigliani não é um homem dado a falar muito sobre o mercado de ações com freqüência. Telefonei-lhe depois de ouvir dizer que ele havia falado sobre bolhas em um discurso pronunciado na sede da Boston Security Analysts Society. No único discurso que havia dirigido anteriormente àquele grupo, em 1976, Modigliani havia caçoado de Wall Street por subvalorizar as ações.

Ele acha que as ações que compõem a Média Industrial Dow Jones poderiam cair para 8.000 ou 9.000 pontos, mas acha que as ações de companhias de tecnologia são muito mais vulneráveis. No caso da Internet, é muito dificil determinar os fundamentos para compreender até que ponto se trata de uma bolha’, afirmou. ‘Na minha opinião, há muito de bolha nessas ações.’ E então? ‘Não há bolha que se esvazie sem fazer barulho. Por sua própria natureza, a bolha tem de explodir. Eu não sei quando.’ Mas isso acontecerá e a dor será maior se a bolha for grande. Ele acredita que o Federal Reserve (o Banco Central dos EUA) tem razão em aumentr as taxas de juros, mas talvez esteja agindo lentamente demais.

Não é dificil encontrar administradores que admitam, em particular, que estão petrificados, mas seus portfólios estão plenamente investidos. A maioria deles estudou Modigliani na Escola de Administração de Empresas. A maioria viu seus pares que não compraram as ações mais ‘quentes’ perderem os respectivos empregos. Seu nervosismo aumenta com a volatilidade do mercado.

Modigliani começou a vender ações há cerca de um ano e não se desculpa por isso. ‘As únicas pessoas que se saíram bem em 1929 foram aquelas que venderam cedo demais’, afirmou. ‘O teste final ocorrerá se houver um colapso. Se não houver, eu estou enganado.’"

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