sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Antes que você corra para o iPad, saiba que…

... não é a maravilha que a Apple sugeria ao mercado.

por Ricardo Goldbach

Você tem o costume de plugar o pen drive na entrada USB do seu computador? Gosta de usar câmera embutida para tirar fotografias ou usar aplicativos com reconhecimento de face? Tem o hábito de rodar vários programas ao mesmo tempo? Gosta de ler arquivos em PDF ou rodar aplicativos em Flash?

Então esqueça o iPad. Com ele você só lerá livros digitais compatíveis com o padrão específico da Apple, e não poderá fazer backups no pen drive. Nem pense, também, em usar um HD externo ou qualquer outro dispositivo USB. Mais ainda, este iPod vitaminado não sabe o que fazer diante de um arquivo Flash ou PDF. Como se isso fosse pouco, se você quiser consultar a agenda vai ter que parar de ouvir música - ele executa apenas um aplicativo de cada vez.

É hora de aguardar o futuro anunciado deste que parece ser o equivalente Apple do Windows Vista, um fracasso anunciado com muito estardalhaço mas que já é mal percebido pelos acionistas, que estão perdendo dinheiro. Infelizmente, muita gente irá atrás da propaganda, sem ler as letrinhas miúdas, e perderá dinheiro também.

Resumindo a história, você certamente comprará coisa melhor com os 500 dolares que este brinquedo custa - na configuração mínima.

Uma alternativa anunciada, para quem prefere esperar a poeira baixar, é um dispositivo semelhante, um projeto conjunto das empresas Microsoft e HP. Certamente rodará alguma versão de Windows, provavelmente haverá compatibilidade no que diz respeito a arquivos. Para a HP pode ser uma boa alternativa à sua fonte de receita mais evidente, que é a venda de tinta para impressoras.

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O autor tem mais de 30 anos de experiência em TI, em ambientes de mainframes, minicomputadores,supermicrocomputadores e microcomputadores, nas atividades de levantamento de requisitos, projeto, desenvolvimento, testes e homologação de sistemas, suporte, administração de dados e de bancos de dados, treinamento e coordenação de equipes de desenvolvimento.


segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

1984 - um ano que nunca termina

Ricardo Goldbach


Notícia e opinião. Separados e identificados. É assim que a cartilha do bom jornalismo define os dois tipos de conteúdo de um veículo impresso ou online, além do terceiro, o anúncio publicitário, que é essencial à sobrevivência financeira da empresa jornalística.

A notícia nos traz um relato sobre algo atual, do interesse de uma significativa parcela da sociedade. É encimada por um título que informa o leitor sobre o conteúdo do texto em si, da matéria. Ao ler o título, o leitor decide o quanto o texto interessa a ele, se prefere ler ou seguir adiante.

Já a opinião é o pensamento de alguém em particular, um pensamento que pode estar baseado em crença, interesse, experiência própria ou qualquer outro viés pessoal. Este alguém pode ser o editor, um especialista em tema relevante ou mesmo o leitor. A opinião é usualmente identificada por estar em um editorial, numa coluna assinada, na seção de cartas de leitores ou ainda representada por uma charge. Mas o que acontece quando um título de matéria expressa uma opinião?

Nessa hora acaba o jornalismo e começa a panfletagem ideológica. Nessa hora o leitor é poupado de ler nas entrelinhas, já está tudo nas linhas, sem maiores vergonhas. Com o acirramento das tensões políticas, que no frigir dos ovos representam mera briga por reserva de mercado, simples luta despudorada entre interesses comerciais – um situado na máquina governamental corrompida, outro na empresa privada - fica exposta uma face daninha da imprensa. Nessa hora o fazedor de opinião vira empurrador de opinião, abaixo de goelas que vão se acostumando a olhar sem ver, a ver sem pensar, a pensar sem criticar. Opinião e notícia não devem jamais se misturar, pelo bem da informação, que nunca é transmitida com isenção, mas que também não pode ser tão contaminada assim. Parece constatação romântica? Parece. É pétrea verdade fundamental? Também.

Tudo isso é muito aparente, óbvio demais, até. Mas não custa lembrar, não custa pensar. Quando o Globo traz uma matéria com o título Governo federal prepara novo ataque à mídia, ele me lembra, mais uma enfadonha vez, que o ano de 2010 terminará, mas o de 1984 não, neste bordel onde não há virgens. Com esse tipo de autofagia da imprensa, não são necessários ataques governamentais interesseira e grosseiramente dirigidos - a mídia faz o serviço sozinha.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Ady Gil x Shonan Maru II - crônica sobre um tiro no pé


Ricardo Goldbach

As imagens são impressionantes. Um catamarã futurista, que à primeira vista parece mais a lancha do Batman, é abalroado no dia 6 de janeiro por um navio de porte respeitável, em águas australianas.

O barco Ady Gil, pertencente à organização ambientalista Sea Shepherd (pastor do mar) teve mais de dois metros de sua proa arrancados, mas a tripulação, composta por quatro neozelandezes, um australiano e um holandês, conseguiu salvar-se. O navio agressor, o baleeiro japonês Shonan Maru II, seguiu seu rumo sem dar maior atenção ao incidente - veja as imagens aqui e aqui.


Estas são novas cenas de uma guerra que a Sea Shepherd Conservation Society - braço da organização Greenpeace - vem travando contra a matança de espécies de baleias ameaçadas de extinção. Apesar de o Shonan Maru II trazer escrita a palavra "research" (pesquisa) em seu costado, trata-se de um barco de caça a baleias.

Mas o que chamou minha atenção na tarde de hoje, enquanto eu procurava entender um pouco mais sobre os propósitos e atividades da Sea Shepherd, foi o fato de esta organização adotar as práticas daqueles que pretende combater. Em 18 de dezembro passado, outro barco mantido por ela, o Bob Barker, aproximou-se de baleeiros japoneses, navegando sob bandeira norueguesa. Ao aproximar-se do alvo, a tripulação ambientalista arriou a bandeira que usava, substituindo-a por outra que em muito lembra a de um navio pirata: um crânio sobre fundo negro, e, ao invés de duas tíbias cruzadas, um tridente de Netuno e um cajado de pastor. Em seguida, o Bob Barker e o Shonan Maru II (o mesmo do incidente de hoje) trocaram tiros de canhão.

Uma pergunta não cala: os milhões de dolares gastos na compra de helicóptero de apoio, bem como na aquisição e aparelhamento bélico de navios, não trariam retorno maior caso empregados em campanhas de conscientização e boicote, no estilo "don't buy japanese" ou coisa que o valha?

É uma pena ver um barco tão bonito quanto o Ady Gil afundar em mais uma escaramuça desta guerra. É uma pena ver tantos dolares doados a uma causa ambientalista perderem-se no mar desta forma. Mas, como diz um baiano amigo meu, "if you can't do the time, don't do the crime".

Será que preciso dizer que não tenho interesses diretos ou indiretos na atividade dos matadores de baleias e muito menos apoio o que fazem? Não? Então tá. De qualquer forma, fica o disclaimer.



Créditos das imagens:
Ady Gil - blog Imensidão / Globo online
Shonan Maru II - blog Imensidão / Globo online
Símbolo da organização Sea Shepherd - blog Imensidão / Globo online