Ricardo Goldbach
Notícia e opinião. Separados e identificados. É assim que a cartilha do bom jornalismo define os dois tipos de conteúdo de um veículo impresso ou online, além do terceiro, o anúncio publicitário, que é essencial à sobrevivência financeira da empresa jornalística.
A notícia nos traz um relato sobre algo atual, do interesse de uma significativa parcela da sociedade. É encimada por um título que informa o leitor sobre o conteúdo do texto em si, da matéria. Ao ler o título, o leitor decide o quanto o texto interessa a ele, se prefere ler ou seguir adiante.
Já a opinião é o pensamento de alguém em particular, um pensamento que pode estar baseado em crença, interesse, experiência própria ou qualquer outro viés pessoal. Este alguém pode ser o editor, um especialista em tema relevante ou mesmo o leitor. A opinião é usualmente identificada por estar em um editorial, numa coluna assinada, na seção de cartas de leitores ou ainda representada por uma charge. Mas o que acontece quando um título de matéria expressa uma opinião?
Nessa hora acaba o jornalismo e começa a panfletagem ideológica. Nessa hora o leitor é poupado de ler nas entrelinhas, já está tudo nas linhas, sem maiores vergonhas. Com o acirramento das tensões políticas, que no frigir dos ovos representam mera briga por reserva de mercado, simples luta despudorada entre interesses comerciais – um situado na máquina governamental corrompida, outro na empresa privada - fica exposta uma face daninha da imprensa. Nessa hora o fazedor de opinião vira empurrador de opinião, abaixo de goelas que vão se acostumando a olhar sem ver, a ver sem pensar, a pensar sem criticar. Opinião e notícia não devem jamais se misturar, pelo bem da informação, que nunca é transmitida com isenção, mas que também não pode ser tão contaminada assim. Parece constatação romântica? Parece. É pétrea verdade fundamental? Também.
Tudo isso é muito aparente, óbvio demais, até. Mas não custa lembrar, não custa pensar. Quando o Globo traz uma matéria com o título Governo federal prepara novo ataque à mídia, ele me lembra, mais uma enfadonha vez, que o ano de 2010 terminará, mas o de 1984 não, neste bordel onde não há virgens. Com esse tipo de autofagia da imprensa, não são necessários ataques governamentais interesseira e grosseiramente dirigidos - a mídia faz o serviço sozinha.
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