por Ricardo Goldbach
De acordo com artigo publicado no American Journal of Nursing, de março 2008, volume 8, número 3, páginas 72DD - 72DD, que comenta trabalho publicado por Wilson AP, et al. (Crit Care Med 2007;35(10):2275–9), a transmissão do Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) não está ligada à higiene inadequada de funcionários de UTIs. O trabalho comentado no artigo baseou-se em testes realizados em dois hospitais universitários londrinos. Foram testadas mais de 2.400 amostras de utensílios tais como teclados de computador, telefones, monitores cardíacos, maçanetas, além de aventais, torneiras e canetas.
Santos discorda da interpretação contida no artigo, dizendo que “não é verdade que se o profissional de saúde não higienizar as mãos não haverá risco de transmissão de infecção, pois as bactérias são transmitidas primordialmente pelas mãos dos profissionais de saúde”.
A especialista diz que o Brasil tem tradição em pesquisa e publicação de trabalhos na área de Controle de Infecção Hospitalar. Quando em muitos países do mundo o MRSA ainda não era objeto de preocupação, “no Brasil já se efetuava o rastreamento, a identificação e o isolamento de pacientes contaminados, de modo a se evitar a disseminação do estafilococo”. Santos diz também que “este histórico de conhecimento e de ação sobre o MRSA faz com que as atenções mais recentes tenham se voltado para pseudômonas e acinetobacters”.
Em oposição ao MRSA tradicional ou H-MRSA, onde “H” designa a origem hospitalar da contaminação, Santos cita que “existe hoje o CA-MRSA, (community acquired MRSA), que migrou de comunidades aborígenes australianas em direção às instituições de saúde, e atualmente está disseminado pelo mundo”.
Nossa entrevistada afirma que “a identificação do CA-MRSA entre jogadores de futebol norte-americanos permite inferir que toalhas, antibióticos e aparelhos de barbear compartilhados sejam possíveis vetores de transmissão”. Ela preconiza o uso de toalhas individuais de ou de papel, como forma de se evitar o contágio. “Como o combate ao MRSA não se dá através da administração de antibióticos orais, mas apenas de injetáveis, é mais caro impedir sua disseminação”, diz.
Santos afirma que “dentre os pesquisadores da área básica, há pouca gente dedicada ao controle de infecções hospitalares”. Segundo ela, esta é uma área importante, “na qual se daria o necessário acompanhamento da evolução das bactérias”.
No entanto, segundo a especialista, “a indústria farmacêutica não lança novos antibióticos, por conta de eles não terem uso continuado, não serem comercialmente interessantes”. Santos conclui que “menos antibióticos devem ser usados, ou voltaremos à era pré-antibióticos, quando as infecções não eram passíveis de tratamento e controle”.