quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O ambiente hospitalar é vetor de disseminação do estafilococo aureus resistente à meticilina?


por Ricardo Goldbach

De acordo com artigo publicado no American Journal of Nursing, de março 2008, volume 8, número 3, páginas 72DD - 72DD, que comenta trabalho publicado por Wilson AP, et al. (Crit Care Med 2007;35(10):2275–9), a transmissão do Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) não está ligada à higiene inadequada de funcionários de UTIs. O trabalho comentado no artigo baseou-se em testes realizados em dois hospitais universitários londrinos. Foram testadas mais de 2.400 amostras de utensílios tais como teclados de computador, telefones, monitores cardíacos, maçanetas, além de aventais, torneiras e canetas.

Por outro lado, a infectologista, mestra em epidemiologia, coordenadora da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) e Gerente de Risco do Instituto Nacional de Cardiologia, Marisa Santos, diz que, tanto no Rio de Janeiro quanto no Brasil, as mãos dos profissionais de saúde são o principal vetor de transmissão do MRSA. O estudo em questão levou em consideração os utensílios ambientais, mas não as mãos dos profissionais, propriamente ditas. Santos diz também que, “apesar de os pacientes contaminarem seu entorno, não há identificação de casos de contaminação de um paciente por outro”.

Santos discorda da interpretação contida no artigo, dizendo que “não é verdade que se o profissional de saúde não higienizar as mãos não haverá risco de transmissão de infecção, pois as bactérias são transmitidas primordialmente pelas mãos dos profissionais de saúde”.

A especialista diz que o Brasil tem tradição em pesquisa e publicação de trabalhos na área de Controle de Infecção Hospitalar. Quando em muitos países do mundo o MRSA ainda não era objeto de preocupação, “no Brasil já se efetuava o rastreamento, a identificação e o isolamento de pacientes contaminados, de modo a se evitar a disseminação do estafilococo”. Santos diz também que “este histórico de conhecimento e de ação sobre o MRSA faz com que as atenções mais recentes tenham se voltado para pseudômonas e acinetobacters”.

Em oposição ao MRSA tradicional ou H-MRSA, onde “H” designa a origem hospitalar da contaminação, Santos cita que “existe hoje o CA-MRSA, (community acquired MRSA), que migrou de comunidades aborígenes australianas em direção às instituições de saúde, e atualmente está disseminado pelo mundo”.

Nossa entrevistada afirma que “a identificação do CA-MRSA entre jogadores de futebol norte-americanos permite inferir que toalhas, antibióticos e aparelhos de barbear compartilhados sejam possíveis vetores de transmissão”. Ela preconiza o uso de toalhas individuais de ou de papel, como forma de se evitar o contágio. “Como o combate ao MRSA não se dá através da administração de antibióticos orais, mas apenas de injetáveis, é mais caro impedir sua disseminação”, diz.

Santos afirma que “dentre os pesquisadores da área básica, há pouca gente dedicada ao controle de infecções hospitalares”.  Segundo ela, esta é uma área importante, “na qual se daria o necessário acompanhamento da evolução das bactérias”.

No entanto, segundo a especialista, “a indústria farmacêutica não lança novos antibióticos, por conta de eles não terem uso continuado, não serem comercialmente interessantes”. Santos conclui que “menos antibióticos devem ser usados, ou voltaremos à era pré-antibióticos, quando as infecções não eram passíveis de tratamento e controle”.


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