sexta-feira, 26 de julho de 2013

Atualização de firmware da Nikon D300 - não faça isso em casa

Ricardo Goldbach

Sobre-exposição -- o novo default da Nikon D300
(imagem: exposureguide.com)
Em maio de 2013, a Nikon liberou atualização de firmware para a D300 (de 1.10 para 1.11), anunciando suporte à AF-S NIKKOR 800mm f/5.6E FL ED VR. Embora eu não pense em gastar os mais de US$ 17 mil que a B&H pede por esta joia, sei que a Nikon embute melhorias não declaradas em suas atualizações (já tive gratas surpresas com update da D80). Assim, sem medo de ser feliz, instalei a 1.11 na D300.

Como dizem naqueles programas em que pessoas fazem coisas arriscadas, meu conselho é: "Não tente fazer isso em casa". O fotômetro encontra-se agora completamente alucinado, gerando sobre-exposições de até 3 pontos. Downgrade para a versão anterior? Nem pensar: a versão anterior não está disponível para download, já que é a originalmente instalada em máquinas novas (ao menos à época do lançamento deste modelo). O reset de 2 botões não faz qualquer diferença, o full também não. A solução, como sempre, é esperar por uma versão de correção -- que não traga novos bugs.

I decided to install the new firmware update (1.11) Nikon released for the D300 as of May, 2013, the sole benefit been announced as the support for the AF-S NIKKOR 800mm f/5.6E FL ED VR, a US$ 17K+ beast which I don't consider buying at all. But, as Nikon is known for bundling undisclosed bug fixes and minor enhancements in new firmware releases, I gave the 1.11 a try.

As they say on some TV shows, "don't do this at home" -- light metering has gone wild, with overexposure amounting to 3 EV points. As 1.10 version download is not available, here's to you, Nikon: kudos for messing with the delicate guts of my D300. Can't wait for the 1.12 amended version (or should I say 2.00?).

---

[UPDATE - RESOLVIDO] / [UPDATE - SOLVED]

D300 A/B:1.10 firmware update: 
https://support.nikonusa.com/app/answers/detail/a_id/16149

Noto que o download não está disponível na página de "firmware downloads", mas na de respostas a dúvidas de usuários. Ou seja, há que garimpar muito -- ao longo das dúvidas de outros usuários -- para a solução de problemas. Mesmo assim, cheguei a esse link através de um outro fórum, não de pesquisas no site da Nikon.

---

sexta-feira, 12 de julho de 2013

"O Globo" ou "O Funk"?

Ricardo Goldbach

Não trabalho no Globo nem quero isso. Sou "de fora", mas vou 'chamar a atenção para o fato' e 'criticar a forma como as coisas são feitas'. Em tempos em que a garotada pratica leitura no Facebook e escrita no Twitter, há jornalistas(?) que ainda não sabem usar corretamente os verbos de nosso idioma.

Ler um jornal escrito por gente letrada está cada vez mais difícil. E sem essa de que o Português é idioma vivo, que se transmuta e se adapta a novos tempos, usos e costumes. Lingugem falada é uma coisa, escrita é outra. Há que haver fronteiras entre baile funk e redação de jornal, como vejo a coisa.

Para mal da Comunicação, o Globo não preza o idioma, e seus funcionários (soa melhor que "jornalistas") primam por ir contra um papel secundário de um veículo de comunicação -- servir de referência para a boa escrita -- como se vê no aconselhamento abaixo, publicado em 11/07/13:
















4. Não critique a forma como as coisas são feitas. Preze pela diplomacia. Mesmo que os profissionais da empresa saibam que algumas coisas não são feitas da melhor maneira, ninguém gosta que alguém “de fora” chame atenção para o fato.


Se os funcionários (soa melhor que "jornalistas") globais ainda não entenderam a mensagem -- o que é plausível -- aí vai:
Prezar - v.t.d. (apreciar algo) - "Prezar um bom papo", "Prezar as amizades".

Primar - v.t.i.   (caracterizar-se por algo) - "Ele prima pela boa educação", "O prefeito prima pelo desrespeito às leis".
Desconhecer essas regências é coisa que não se deve fazer num jornal -- nem na primeira semana, nem nunca.

terça-feira, 9 de julho de 2013

O atendimento de emergência na visão dos profissionais de saúde

Matéria produzida a partir de entrevista que fiz, em setembro de 2008, com o prof. Jorge de Campos Valadares, pesquisador da Fiocruz/ENSP.

por Ricardo Goldbach
Estudo liderado pela psicóloga Marilene de Castilho Sá, da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz, e publicado na edição de junho dos Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, conclui que trabalhar em um hospital de emergência é lidar com uma demanda que não se esgota na busca por assistência médica num sentido estrito. “Usuários desses serviços também buscam sentido e amparo, pois são uma população em grande parte à margem da cidadania e das redes sociais de apoio e solidariedade”, esclarece Marilene.
"O paciente chega ao hospital procurando um amparo que vai além do atendimento médico".
Segundo o doutor em Saúde Pública pela Fundação Instituto Oswaldo Cruz/ENSP - onde é pesquisador titular - Jorge de Campos Valadares, “esse quadro não tende a se alterar enquanto não forem reestruturadas as condições de atenção primária e a infra-estrutura de oferta de serviços na área de saúde”. Valadares concorda com a autora do estudo, no sentido de que “o atendimento de emergência, especificamente, tem como ônus extra o estado emocional do paciente, que chega ao hospital procurando um amparo que vai além do atendimento médico”.
O especialista diz que a “procura pela estrutura hospitalar poderia ser reduzida com a implementação de atividades e programas de acolhimento, com esclarecimento e prevenção, fundamentados na atenção primária, regionalizada, incluindo aí o trabalho de saúde ambiental”. Não pensar desta forma, segundo Valadares, implica em “se estar continuamente apagando incêndios pontuais”, com as conseqüências recaindo sobre a população e a estrutura de atendimento.
Nas reuniões entre especialistas "muita coisa se dá de forma não transmissível, inclusive os jogos de poder."
“As políticas de saúde pública no Brasil favorecem a manutenção de uma demanda em muito superior à oferta”, diz Valadares. Para o especialista, uma política completa deveria incluir uma prática não somente pluridisciplinar, mas transdisciplinar. Segundo ele, “essa prática implica em uma travessia de confrontos, em que os investimentos afetivos são expressos e reavaliados pelo grupo multidisciplinar, composto por médicos, psicanalistas, enfermeiros, antropólogos, sociólogos, assistentes sociais, dentre outros, além da necessária disposição política de promover a transformação. Isto vai além dos dispositivos técnicos das diversas teorias”. Para o pesquisador, “o trabalho transdisciplinar é um trabalho de grupo que implica a mencionada experiência de confronto, não somente de teorias como também de experiências”, e ele lembra que “a arte da argumentação consiste em trazer a discussão para o seu próprio campo de saber”, segundo o ex-presidente da Fiocruz, Prof. Dr. Luis Fernando Ferreira.
Valadares afirma que “esses trabalhos transdisciplinares, incluindo-se aí a captação de fomento, são muito subalternos à prática política como um todo, e que a saúde pública ainda está num nível pré-freudiano. O ser humano age e produz ‘atuações’, negando que atua”. “Há comportamentos humanos que não são passíveis de ‘esclarecimentos’, pois se dão em ato e não são teorizáveis, se dão na prática dos encontros e dos desencontros”, acrescenta. Nas reuniões entre especialistas “muita coisa se dá de forma não transmissível, inclusive os jogos de poder. Em muitos hospitais se decide quem vai morrer, como uma conseqüência da escassez e do contingenciamento de verbas feitos em instâncias superiores” diz Valadares. Ele afirma ainda que “no âmbito local o investimento poderia ser melhorado através de conselhos municipais de saúde, pois as verbas seriam direcionadas para onde são necessárias, no nível da ação”.
Nosso entrevistado cita Foucault, dizendo que "não há saber sem poder", mas completa afirmando que "mesmo havendo este cuidado com os meandros do poder, pode haver a cooptação, no exercício da política de distribuição de verbas".
Quanto às pesquisas, “as decisões cabem aos pesquisadores mais articulados”, diz. “Isto poderia ser equacionado com a participação de especialistas com experiência consagrada em psicologia social, nas etapas de pesquisa, ensino e planejamento. O pensamento não pode ser baseado em certezas. Para que se tenha uma prática que não seja pré-freudiana, é necessário que se tenha em mente a afirmação de Heidegger: ‘a dúvida é a piedade do pensamento’”, afirma o cientista. “A cada minuto as certezas devem ser abaladas para que os conceitos não se transformem em preconceitos”, diz. Nosso entrevistado cita Foucault, dizendo que “não há saber sem poder”, mas completa afirmando que “mesmo havendo este cuidado com os meandros do poder, pode haver a cooptação, no exercício da política de distribuição de verbas”.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Prism, o Echelon 2.0

Ricardo Goldbach

Quem não tem lido jornais nas últimas décadas pode surpreender-se com o sistema de espionagem eletrônica Prism e seus objetivos, que o presidente Barack Obama tanto busca esconder ou minimizar. Trata-se de mais um aparato de dominação global dos EUA, operado por serviços de inteligência, a ganhar atenção da mídia, desta vez com a exposição dada por Edward Snowden.

O fato é que o Prism é como um sucessor do Echelon, turbinado com algo de Big Data. O Echelon é uma rede de coleta e processamento de dados de telefonia, fax e e-mail implementada com a cumplicidade dos governos do Canadá, Inglaterra, Austrália e Nova Zelândia. O sistema chegou a ser usado para espionagem industrial, de modo a dar às empresas sediadas nos países-membros vantagens competitivas sobre os concorrentes europeus. Foi essa a natureza da denúncia da então ministra da Justiça da Franca, Elizabeth Guigou, nos idos de 2000, segundo a BBC, em matéria com o título “França acusa EUA de espionagem”:
The Echelon surveillance network - which can intercept private telephone conversations, faxes and e-mails worldwide - had apparently been diverted to keep watch on commercial rivals.
A BBC explica:
Her comments came as a report commissioned by the European Parliament alleged that the UK was helping the US to spy on its European partners.
Um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, James Rubin, fez seu papel – mentiu: "US intelligence agencies are not tasked to engage in industrial espionage or obtain trade secrets for the benefit of any US company or companies", no que foi acompanhado pelo então primeiro-ministro britânico Tony Blair.

Ainda em 2000, a Wired deu atenção ao caso, sob o título “França perplexa e aterrorizada com o Echelon”.

No Wall Street Journal, em 17 de março daquele mesmo ano, James Woolsey, ex-diretor da CIA durante a administração Clinton, explica, com arrogância, “Por que espionamos nossos aliados”, em artigo que tem precisamente este título. Já no primeiro parágrafo Woolsey mostra a que veio e desmente o porta-voz do Departamento de Estado:
Yes, my continental European friends, we have spied on you. And it's true that we use computers to sort through data by using keywords. Have you stopped to ask yourselves what we're looking for?
Curiosa e inocentemente, a explicação de Woolsey diz que a espionagem permitiu que se descobrisse casos de corrupção, que então foram levados aos governos interessados, o que por sua vez alterou o resultado de concorrências. Assim, o projeto Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia) foi ganho pela Raytheon, em 1995, porque a francesa Thomson havia subornado autoridades brasileiras. Igualmente, segundo Wolsey, numa concorrência para a aquisição de aviões pela Arábia Saudita, o consórcio europeu Airbus perdeu a vez para a Boeing porque havia subornado autoridades sauditas. O fato é que em ambos os casos empresas norte-americanas saíram-se bem.

Woolsey termina sua peroração com uma recomendação:
Get serious, Europeans. Stop blaming us and reform your own statist economic policies. Then your companies can become more efficient and innovative, and they won't need to resort to bribery to compete.
And then we won't need to spy on you.
Algo como, “Europa, pare de nos culpar e modifique suas políticas econômicas estatizantes. Se suas empresas forem mais eficientes e inovativas, não precisarão recorrer a subornos para poder competir, e nós não precisaremos espionar vocês”. Um primor de cinismo, não?

Em maio de 2001, o jornal The Guardian ainda se dedicava ao tema, fazendo um descrição sucinta do Echelon e trazendo links diversos sobre os ecos do escândalo.

Em julho de 2008, a CSN informa que o Parlamento Europeu abrirá investigação sobre o caso.

Somente agora, em meados de 2013, a exposição de Snowden consegue colocar o assunto nas primeiras páginas de todo o mundo. Old news, pode-se dizer. Mas pelo menos foi reaceso um tema sobre o qual a Casa Branca e seus cúmplices de além-mar tanto mentiram ao longo dos últimos anos. E provavelmente continuam mentindo, pois faz pouco sentido investir bilhões de dólares na coleta e filtragem de metadados, mas deixar de lado a coleta da informação propriamente dita -- o áudio de um telefonema ou o corpo de um e-mail, por exemplo -- quando relevante.