Ricardo Goldbach
Assistindo à cobertura do acidente, testemunhei o de sempre durante as transmissões do dia 24/03, mais do mesmo: amadorismo, despreparo e desrespeito ao assinante. Fico aqui apenas com as pérolas do canal GloboNews, já que nesse campeonato de incompetências é impossível zapear para a Band TV, que se superou de vez ao convidar um piloto de monomotor para fazer comentários técnicos sobre o Airbus A320.
Sem mais delongas, segue a última safra de pérolas da GloboNews.
(Legítimo case de anóxia profissional.)
Um âncora: "[o piloto] não manteve a nivelização, aliás, nivelação."
(Faltaram "niveladura" e "nivelismo". Fica para a próxima.)
Uma jornalista: "(...) não alcançou a maneta na cabine."
(Manetas na cabine? São permitidos? Não será perigoso que um maneta pilote um avião? De qualquer modo, mesmo que a -- digamos -- profissional quisesse se referir a "manete" ou "manche", estaria redondamente desinformada, em ambos os casos.)
Um jornalista: "Após uma caída brusca, (...)".
("Caída brusca"? Ele se referia à qualidade dos cursos de jornalismo?)
Uma jornalista: "(...) não viram as vítimas visualmente."
(Há outro modo de ver?)
Um jornalista: "O avião estava na velocidade de cruzeiro, ou seja, na velocidade máxima."
(Chutando como chuta, o ex-estagiário estaria melhor em um campo de futebol; uma coisa é uma coisa, a outra coisa é outra coisa.)
Uma jornalista: "Qual a distância do gabinete de crise até o local do acidente?"
(Sejamos sinceros e realistas: que diferença faz?)
Uma jornalista: "(...) como acaba de dizer aquele senhor da Lufthansa."
("Aquele senhor" tem um cargo: ele é simplesmente o presidente da companhia.)
Além dos baixos graus de alfabetização e cultura geral dos profissionais ex-estagiários globais, a falta de apuração é vergonhosa, na pressa de veicular qualquer coisa que seja: o comandante ora tem 60 mil horas de voo, ora 6 mil; o copiloto ora tem 600 horas de voo, ora 3.600. No meio tempo, dá para saber que a aeronave tinha "dois comandantes".
Paradoxal é que, entra ano sai ano, os veículos publicam religiosamente "pérolas do Enem" e "pérolas do vestibular", sem perceber que, com o baixíssimo nível educacional e cultural de suas próprias equipes de jornalismo, só fazem contribuir para a perpetuação daquelas pérolas, ao desensinar hoje os vestibulandos e ex-estagiários de amanhã.