quarta-feira, 8 de julho de 2009

A artista plástica Lena Bergstein expõe no Rio





Lena Bergstein é pintora, gravadora, professora de desenho e gravura, e programadora visual. Mora no Rio de Janeiro, onde nasceu.

Cursou o Instituto de Belas Artes (hoje Escola de Artes Visuais) e o atelier de Gravura do Museu de Arte Moderna do Rio;

Participou das mais importantes bienais de gravura nacionais e internacionais, como Curitiba, Ljubljana, Miami, Fredrikstad, Bradford, Taiwan e Montevideo;

Expôs gravuras e pinturas na Petite Galerie, pinturas na galeria Cândido Mendes, montou a instalação Tenda no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Expôs pinturas e os originais do livro "Enlouquecer o Subjétil" no Paço Imperial;

Expôs ainda na Galeria Segno Grafico (Itália), Centro Internazionale di Grafica (Itália), Biblioteca Wittockiana (Bélgica), e Galeria Debret (Paris);

Morou dois anos em Paris, onde participou dos seminários de Jacques Derrida: "Questions de Responsabilité: Du secret au témoignage" e "Hospitalité et Hostilité";

Ganhou o Prêmio Jabuti pela melhor produção editorial de 1999 com o livro "Enlouquecer o Subjétil", criado em parceria com Jacques Derrida;

Lecionou técnicas alternativas de gravura e iniciação à gravura na PUC/RJ, entre 1980 e 1983;

Lecionou desenho de observação, no Departamento de Artes da PUC/RJ, entre 1997 e 1998;

Deu aulas na Escola de Artes Visuais do Parque Lage;

Apresentou, em janeiro de 2003, "Tramas", exposição de pinturas na Sílvia Cintra Galeria de Arte, e "Amarelo Cromo", exposição de gravuras, no Museu da Chácara do Céu;

Expôs telas e gravuras, no Istituto Ítalo Latino-Americano (Roma) e na Scuola Internazionale di Gráfica (Veneza), em 2004;

Participou da exposição coletiva “Só Pintura”, na galeria Mercedes Viegas, Arte Contemporânea, em 2006;

Participou da exposição “Manobras Radicais” no CCBB de São Paulo, em 2006;

Expôs "A Escrita do Silêncio", em 2004, no Solar de Grandjean de Montigny (PUC-RIO), trabalho sobre o qual escreveu:


A Escrita do Silêncio

Muitas coisas se passaram nesses últimos anos e meu trabalho foi gradualmente mudando. Reparei que as escritas de letras e palavras que impregnavam o trabalho foram se tornando mais espaçadas, mais esgarçadas, e foram pouco a pouco desaparecendo, dando lugar a uma outra escrita, bem diferente, mas que já aparecia pontualmente em desenhos e telas anteriores. Eram costuras, primeiro à mão, depois à máquina, à mão e a máquina, uma tessitura de pontos, linhas, nós, cerzidos, alinhavos, pespontos, pontos em ziguezague.

Se a escrita fonética de textos e palavras me parecia agora excessiva, barulhenta, as costuras a substituíam por um certo silêncio, uma pausa, um vazio povoado de possibilidades."Este é um livro silencioso, e fala, fala baixo", escreve Clarice Lispector, ou ainda como diz Rabi Nahman de Bratislav, numa de suas parábolas, "ele tocava um violino mudo - ou quase, pois o rei acabou por captar uma nota extremamente delicada".

O único ruído que se ouvia era o toque toque toque, da máquina costurando, os ritmos cadenciados do costurar, do cerzir, do levantar a sapatilha que, por sua vez, levantava a agulha e a linha principal, o retrós, do virar o tecido mudando o rumo da costura. Às vezes era necessário enrolar outra vez a linha da carretilha, ou bobina, que ficava embaixo do retrós. O ruído da carretilha enrolando a linha a toda velocidade e depois recolocá-la numa espécie de caixinha, fechar a tampa, abaixar a sapatilha, descer a agulha e a linha e outra vez toque toque toque.

Apesar de não se chamar retrós ou linha mestra, era a linha mais fina da carretilha (ou bobina) que dava solidez e consistência à costura. Mesmo que só aparecesse inteiramente no avesso do tecido, era ela que estruturava a costura e que a prendia ao tecido, arrematando-a.

A busca de uma extrema simplicidade, um quase nada trabalhado que desse a impressão de um se despir, era a trajetória que o trabalho tomava. E eu o seguia.

Através dessas linhas trançadas e costuradas, uma outra questão foi de repente vislumbrada. No texto Un Ver à Soie, de Jacques Derrida, do livro Voiles, me fascina a frase "une femme tisserait comme um corps secrète pour soi son propre textile". Comecei a pensar que a partir das linhas costuradas estaria tecendo uma tessitura, uma veste, um xale, o meu próprio, o meu xale.

Esse xale seria de um tecido da Babilônia, do linho mais puro, bordado de jacintos, de anêmonas violetas, de escarlate e de púrpura, das flores silvestres que traziam o índigo. Seria têxtil, táctil, "doçura mais doce que a própria doçura", uma outra pele, incomparável a qualquer outra pele. Ele não velaria nem esconderia, não mostraria nem anunciaria - ao contrário, ele traria a memória.

Meu xale, todo singular, sensível e calmo, que ia se criando a partir do meu trabalho, uma manufatura de telas, um entrelaçar de fios e fibras...

A leitura do texto Un ver à soie foi da ordem de um acaso, de um encontro que estimula e provoca, que vem se acrescentar a uma elaboração já em andamento abrindo novas nuances de horizontes possíveis. Ampliou minha relação com as tramas, as urdiduras, a tecelagem, fios torcidos e retorcidos, trançados, tecidos sucessivos e infinitos.

O que também ecoou dentro de mim, e "que se joga no tecido desse texto", é sua relação com o fazer da arte, com a criação, ao mesmo tempo com a subjetividade do artista. Constante e lenta elaboração, no diminuir e aumentar os pontos de uma trama, no fazer e desfazer das malhas. Transformação incessante e permanente, pela qual as coisas se criam e se dissolvem em outras coisas, algo que não é, mas se torna, que existe em constante alteração. Um se perder e se reencontrar, nascimento contínuo, que conduz a arte através da noite, mais longe que o visível ou o previsível, experiência muda de um sentido mudo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário