Ricardo Goldbach
Aí ela veio e bateu. Bateu forte. A insônia. Do tipo terminal, sabe? Não, insônia terminal não é aquela que antecede o final, a do cara que está tão mal de saúde que já nem consegue mais dormir. Não é essa. Insônia terminal é outra, é a que faz a gente acordar antes da hora. Sabe aquela hora em que a gente acha que tem que resolver todos os problemas? Aquela hora em que eles ficam ali, desfilando provocantes, um atrás do outro, se oferecendo naquela passarela do escuro? Pois é, a gente acorda justamente na hora em que não dá para resolver nenhum deles, não dá para resolver nada, a não ser ir até a janela. Pois é, resolvi ir. A insônia veio e eu fui. Fui até a janela, ver a madrugada. Um cigarro? Não, estou resistindo. E vai que fui até a janela, visitar a madrugada.
E vai que eu fiquei ali, olhando em volta, para a rua e para o céu, para o céu e para a rua. E o que são aqueles pássaros voando baixo, pouco abaixo das copas das árvores de Copa? Nunca sei se são morcegos tardios ou pombos cedios. Existe cedios? Não? Agora existe. Mas vai que entre o céu e a rua tem mais coisas do que a gente imagina, além daqueles pombos que podem ser morcegos que podem ser pombos. Tem também um monte de janelas, nos prédios, com aquela luzinha azulada fraca lá dentro, aquela luzinha que dá uma tremida de quando em vez. Sei, conheço isso, a minha está ligada também.
Uma, duas, oito, quinze. Então lá fora tem mais um monte de gente que também não pode resolver nada a essa hora e resolveu ligar a luzinha azulada. Como tem gente que gosta da companhia dela. Ou então não gosta, mas também isso não é hora de ligar para alguém e bater papo, imagina só... Então fica ali, diante daquele colorido que de longe é azul. Parece que de longe tudo é azul, até a Terra. E quem mais é azul, a fraternidade ou a igualdade? Não me lembro, droga de memória. Mais um problema. Vou para a cama, dormir, esquecer, talvez sonhar. Um abraço, um beijo, bom dia.
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