Ricardo Goldbach
Escalação que conquistou o 1º Campeonato Brasileiro do Colorado
(foto: site de Milton Neves)
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Nosso primeiro contato, um cafezinho para avaliarmos o que poderíamos fazer juntos, foi marcante. Aquele querido ex-zagueiro do Internacional era a simpatia em pessoa, ao mesmo tempo que simples, franco e perspicaz. Com o início da popularização dos PCs, ele havia enxergado uma oportunidade de negócio na qual eu me encaixava como a terceira peça. Assim, durante algum tempo, os três tocamos a vida profissional juntos, na 99 Computer (não me lembro de onde veio o nome da empresa, mas eu brincava com ele, dizendo que só não éramos “100” porque ninguém é perfeito).
Por motivos outros, que não passaram por falta de competência ou de clientela, a coisa não chegou a durar muito. Entre mim e Hermínio, no entanto, permaneceu a forte amizade, o respeito e a confiança: pouco depois do fim da 99, ele me contratou para informatizar os processos administrativos da Gymania, indústria de vestuário que possuía em Itaboraí, juntamente com mais dois sócios. Mais adiante, depois do fechamento da fábrica – arrastada pela falência da Mesbla, maior cliente e maior devedora – matávamos a saudade em ocasiões esparsas: um churrasco em Papucaia, uma visita à casa dele, durante recuperação de problema circulatório na perna, alguns telefonemas para marcar o almoço que jamais aconteceu.
Desde nosso último e longínquo contato, volta e meia Hermínio me vinha à cabeça. “Preciso saber dele, como andam a saúde e a vida”, eu me impunha. Ao mesmo tempo, as cobranças da vida cobravam mais alto (ou ao menos eu acreditava nisso).
Neste maio de 2013, decidido a pagar o débito para comigo mesmo, dou uma googlada em “Hermes Rianelli” para recuperar dados de contato. O jornalista esportivo Milton Neves me dá a notícia, através da seção “Que Fim Levou”, do blog “3º Tempo”:
"Ex-zagueiro do Coritiba, Internacional e São Paulo, Hermes Rianelli, o Hermínio, morreu no dia 12 de setembro de 1988. Ele chegou a atuar no Colorado ao lado de Carpegiani, Falcão, Valdomiro e outras feras."
Buscando um pouco mais, descubro que após aquela data Hermínio havia sido presidente do Sindicato dos Treinadores de Futebol Profissional do Estado do Rio de Janeiro. Segundo o site da entidade, Hermínio foi o segundo presidente, tendo exercido o mandato entre 1997 e 1999, ano este em que teria se dado sua morte.
Não sei quando nem como Hermínio se foi, mas pretendo descobrir. Nesse meio tempo, fico com a memória de um episódio que ele me contou, que bem mostra o faro e a determinação que possuía. No início dos anos 70, jogador consagrado do Internacional, Hermínio era consultado pelos dirigentes do clube quanto a contratações de novos talentos. Tendo assistido a uma partida de aspirantes, o zagueiro foi categórico: “Aquele garoto ali tem um tremendo futuro, ele tem cancha de campeão!”
Os dirigentes foram unânimes em discordar, ao que Hermínio me disse ter respondido: “Se ele não entrar no Inter, saio eu. E vou para o clube que o aceitar”. O garoto acabou sendo contratado, e não se passaram muitos anos até que o Brasil e o mundo reconhecessem o que Hermínio já havia identificado: a categoria e a raça do craque Paulo Roberto Falcão.
Descanse em paz, grande Hermínio.