segunda-feira, 6 de maio de 2013

Bitcoins: a moeda do futuro tem futuro?

Entusiasmos, pragmatismos e ameaças

Ricardo Goldbach

Muitos kWh e pouco retorno (autor desconhecido)
Apesar de a garimpagem de moedas digitais ser um mau negócio nos dias que correm, os adeptos (eu inclusive, por mero diletantismo e curiosidade) continuam descobrindo moedas e perdendo dinheiro no processo. A aritmética mostra que o investimento torna-se deficitário na medida em que os blocos tornam-se mais raros: gasta-se mais com energia elétrica e depreciação do computador do que se ganha com a remuneração pelo esforço computacional dedicado. O ponto de equilíbrio já foi alcançado, em algum momento do passado. Ponto.

Em que pese o obstinado entusiasmo, os garimpeiros de Bitcoins (BTC) têm mais um motivo para perceber que o jogo está com os dias contados. Fabricantes de ASICs (application-specific dedicated chips, chips voltados a aplicações específicas) e de FPGAs (field-programmable gate arrays, circuitos genéricos, com as configurações de hardware sendo programáveis pelo usuário), começam a oferecer boxes com capacidades de processamento antes inimagináveis.

A Butterfly Labs oferece um produto com capacidade de 50 Gh/s (50 bilhões de hashes são calculados por segundo), e a Avalon promete mais de 65 Gh/s, o equivalente a 1000 desktops parrudos, com Intel Core i7. Em termos comparativos, um i7 3930k está limitado a cerca de 65 Mh/s. Se a máquina contar com uma placa de vídeo ATI 6870, por exemplo, cerca de 280 Mh/s serão acrescentados ao poder de fogo: os processadores das atuais placas de vídeo turbinam um PC, sendo mais poderosos do que a própria CPU, quando se trata de cálculos criptográficos. No setor de mineração com placas de vídeo (GPU mining), a nVidia está perdendo feio.

No entanto, mesmo considerando-se os pools de garimpagem -- aos quais usuários se unem para somar esforços de CPU e dividir resultados -- um único ASIC conectado à rede é capaz de morder significativa parcela dos ganhos obtidos coletivamente por um pool.

We Accept Bitcoin Only – Bitcoin allow us to collect large sum of assets in a short period of time, and due their nature the bitcoins can also be move to where they are suppose to go in a similar time frame. It also make sense as the Avalon units mine bitcoins so they should be priced as such accordingly.
E por que prefiro o universo dos Litecoins (LTC)? É mera questão de bom senso. Por questões técnicas -- diferenças entres os algoritmos de criptografia usados na geração dos blocos originais de BTC (SHA-256) e de LTC (Scrypt), a garimpagem de LTC, seja individual seja coletiva, não sofrerá a concorrência desleal dos ASICs que começam a sair do forno: é impossível garimpar LTC com os princípios que fundamentam a arquitetura usada naqueles monstros capazes de dezenas de Gh/s. Quanto a ASICs dedicados a LTC, tendo a achar que são inviáveis, mas, se já é possível fabricar armas de fogo em casa, com impressoras 3D, há que se desconfiar de certezas tecnológicas.

Já os analistas de tecnologia e mercado têm um enfoque mais pragmático e realista: trata-se de uma bolha, que hipnotiza gente que não percebe que os tempos áureos de um BTC valer menos de US$10 (e ser bem mais fácil de ser encontrado) já se acabaram, além de haver o insofismável critério de custo x benefício. Neste exato momento (06/05/2013, 12h45) um BTC está cotado a cerca de US$ 110, mas de 40 dias para cá já registrou valores que oscilaram entre US$ 40 e US$ 260.

O raciocínio, realista, deve também apoiar-se no fato de que num futuro próximo (por volta de 2030, podendo ser antes, com a evolução de hardware e a adesão de novos mineradores), não haverá mais blocos a descobrir:

Curva assintótica de novas descobertas, assumindo-se intervalo constante de 10 minutos
entre cada dois achados (fonte: Wikipedia)

O que importa é que nada disso importa muito: as moedas digitais não têm na garimpagem seu objetivo último; a ideia é a disseminação e o uso corrente do BTC, com a descentralização do controle dos meios de pagamento, aí incluída a impossibilidade de rastreamento das transações. É na ameaça aos bancos centrais e às legislações vigentes que se concentram as atenções, nestes tempos em que traficantes mexicanos usam BTC como moeda corrente, empresas começam a dar aos empregados a opção de receber salários em BTC e os esforços regulatórios das autoridades monetárias dos EUA estão a todo vapor.

O grande temor da comunidade, por outro lado, está na "ameaça dos 51%": quem detiver isoladamente mais de 50% do poder computacional da rede, pode, em tese, adulterar blocos de transações mais rapidamente do que eles sejam autenticados pelo esforço coletivo. Por enquanto, o agente fiscalizador e disciplinador é a própria rede, mas até isso pode mudar.

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PS 1: A título de curiosidade, os sólidos e elegantes fundamentos conceituais por trás do Bitcoin estão neste paper produzido em 2009 por Satoshi Nakamoto, seja este o nome de uma pessoa, um apelido, ou mesmo o nome de um coletivo de desenvolvedores -- ninguém sabe ao certo, até agora.

PS 2: As referências que fiz a Bitcoins aplicam-se igualmente a Litecoins, à exceção do que diz respeito às particularidades dos algoritmos empregados. De resto, o panorama é o mesmo.

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