terça-feira, 14 de maio de 2013

Lamento, Hermínio. Cheguei muito atrasado.

ou “tempo é aquilo que a gente só descobre que tinha depois de ter perdido”

Ricardo Goldbach

Escalação que conquistou o 1º Campeonato Brasileiro do Colorado
(foto: site de Milton Neves)
Conheci Hermes Rianelli – o Hermínio – no início dos anos 90, por meio de um contato em comum. Hermínio tinha um casarão de dois andares, vazio, na Rua Pedro Alves, no bairro de Santo Cristo, e queria dar a ele alguma destinação. Quem nos aproximou foi um “executivo de fronteira” (apelido dado naqueles tempos ao “importador” de peças para a montagem de PCs) que já havia me atendido a contento –  à época, eu era gerente de sistemas de uma empresa dedicada à gestão terceirizada de processos de administração e engenharia de manutenção.

Nosso primeiro contato, um cafezinho para avaliarmos o que poderíamos fazer juntos, foi marcante. Aquele querido ex-zagueiro do Internacional era a simpatia em pessoa, ao mesmo tempo que simples, franco e perspicaz. Com o início da popularização dos PCs, ele havia enxergado uma oportunidade de negócio na qual eu me encaixava como a terceira peça. Assim, durante algum tempo, os três tocamos a vida profissional juntos, na 99 Computer (não me lembro de onde veio o nome da empresa, mas eu brincava com ele, dizendo que só não éramos “100” porque ninguém é perfeito).

Por motivos outros, que não passaram por falta de competência ou de clientela, a coisa não chegou a durar muito. Entre mim e Hermínio, no entanto, permaneceu a forte amizade, o respeito e a confiança: pouco depois do fim da 99, ele me contratou para informatizar os processos administrativos da Gymania, indústria de vestuário que possuía em Itaboraí, juntamente com mais dois sócios. Mais adiante, depois do fechamento da fábrica – arrastada pela falência da Mesbla, maior cliente e maior devedora – matávamos a saudade em ocasiões esparsas: um churrasco em Papucaia, uma visita à casa dele, durante recuperação de problema circulatório na perna, alguns telefonemas para marcar o almoço que jamais aconteceu.

Desde nosso último e longínquo contato, volta e meia Hermínio me vinha à cabeça. “Preciso saber dele, como andam a saúde e a vida”, eu me impunha. Ao mesmo tempo, as cobranças da vida cobravam mais alto (ou ao menos eu acreditava nisso).

Neste maio de 2013, decidido a pagar o débito para comigo mesmo, dou uma googlada em “Hermes Rianelli” para recuperar dados de contato. O jornalista esportivo Milton Neves me dá a notícia, através da seção “Que Fim Levou”, do blog “3º Tempo”:
"Ex-zagueiro do Coritiba, Internacional e São Paulo, Hermes Rianelli, o Hermínio, morreu no dia 12 de setembro de 1988. Ele chegou a atuar no Colorado ao lado de Carpegiani, Falcão, Valdomiro e outras feras."
Buscando um pouco mais, descubro que após aquela data Hermínio havia sido presidente do Sindicato dos Treinadores de Futebol Profissional do Estado do Rio de Janeiro. Segundo o site da entidade, Hermínio foi o segundo presidente, tendo exercido o mandato entre 1997 e 1999, ano este em que teria se dado sua morte.

Não sei quando nem como Hermínio se foi, mas pretendo descobrir. Nesse meio tempo, fico com a memória de um episódio que ele me contou, que bem mostra o faro e a determinação que possuía. No início dos anos 70, jogador consagrado do Internacional, Hermínio era consultado pelos dirigentes do clube quanto a contratações de novos talentos. Tendo assistido a uma partida de aspirantes, o zagueiro foi categórico: “Aquele garoto ali tem um tremendo futuro, ele tem cancha de campeão!”

Os dirigentes foram unânimes em discordar, ao que Hermínio me disse ter respondido: “Se ele não entrar no Inter, saio eu. E vou para o clube que o aceitar”. O garoto acabou sendo contratado, e não se passaram muitos anos até que o Brasil e o mundo reconhecessem o que Hermínio já havia identificado: a categoria e a raça do craque Paulo Roberto Falcão.

Descanse em paz, grande Hermínio.

16 comentários:

  1. Nossa que texto maravilhoso! Tenho certeza de que TODOS saímos perdendo com sua perda! Muuuitas saudades tio!

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    1. Legal você ter gostado, Marcelle, e é mais legal ainda ele ter sido seu tio! Fico muito feliz com sua visita.

      Abs

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    2. Texto emocionante mesmo, mas tio Hermínio não faleceu em 1988, se não me engano foi em 1998.

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    3. Obrigado pela informação, Fabiana. Como respondi à Susana, é especial ver os sentimentos que minhas lembranças despertaram nos familiares do querido Hermínio.

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    4. Alguém da família pode dar o local de nascimento do Herminio. Ele é natural de onde?

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  2. Obrigada pela linda homenagem. Sou a filha mais nova. Ele faleceu dia 19 Setembro de 1998, após transplante de fígado. Caso queira entrar em contato, meu e-mail é susanarianelli@hotmail.com.

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    1. Obrigado pelos esclarecimentos, Susana. O erro no blog do Milton Neves é provável lapso de digitação. Eu não cheguei a saber que Hermínio tinha tido complicações hepáticas, lembro-me apenas do problema na perna.

      É muito interessante que este meu texto tenha chegado a vocês, familiares do Hermínio. Meus blogs são apenas laboratórios de escrita e reflexão; não faço divulgação do que posto nem tenho interesse em vender anúncios do Google. Assim, é particularmente especial ver os sentimentos que minhas reminiscências despertaram.

      O dia 19 de setembro passa a constar no rol das datas ligadas a pessoas queridas e me fará lembrar, vezes mais, do vozeirão, da simpatia e da risada solta do Hermínio, e do prazer que era partilhar da companhia dele. Obrigado, Susana, mais uma vez.

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  3. Estava pesquisando sobre meu time de coração e, seus grandes ídolos, quando ao consultar Herminio, encontrei esse seu comentario genial sobre aquele que foi um excelente atleta e grande figura humana. Pois o conheci ainda na década de 60, aquí na minha Pelotas e vi quando ele chegou de chinelos e uma sacola com algumas roupas junto ao então presidente do meu clube de coração, o E.C.Pelotas, Edegar de Moura Ronhelt que fora ao Paraná contratar ou recontratar o zagueiro Pinheiro de Londrina e , não conseguindo, foi-lhe oferecido Herminio que aceitou vir para o Sul. Mas isso é uma estória muita longa. Acompanhei toda trajetória do Herminio até onde morava em Pelotas, seu casamento quando aqui jogava e daí em diante.Jogador de raça garra e vergonha na cara, ele honrou nossas cores. Cumprimentos pela crônica e Herminio continua a ser ídolo da torcida mais antiga do lobo da Avenida Bento Gonçalves. RCarvalho

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    1. Desculpe-me pelo meu atraso na moderação. Por alguma razão obscura, não fui notificado da sua postagem.

      De qualquer modo, é sempre um prazer conhecer alguém que tenha privado da companhia do Hermínio, uma pessoa de quem sempre me lembro, e sempre com carinho.

      Obrigado,
      Ricardo

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  4. José Guilherme Schaker14 de agosto de 2017 às 21:59

    Familiares de Hermínio, podem se orgulhar dele. Hoje, dia 14.08.2017, estou pesquisando sobre ídolos do meu timi, Internacional e lembrei de três: Flávio Minuano, Claudiomiro e Hermínio. Também não sabia que ele havia falecido. Ficará para sempre na memória dos colorados que o viram ou ouviram jogar.

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  5. Eu também fui fã do Herminio! Há anos procurava informações sobre ele, até deparar com esse Blog... ótimo zagueiro! Sempre achei interessante o nome dele ser Hermes mas ficou definitivamente conhecido como Herminio. São nomes que mesmo, na época onde só existia jornal e rádio, eram tão reconhecidos que faziam parte do dia a dia da gente!

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  6. Conheci pouco esse pessoa genial pela sua simplicidade em falar. Na verdade ele alugou uma loja a qual pertencia a minha mãe no bairro do santo cristo , expandido um projeto que tinha na epoca de produtos com seu sobrenome Rianelli ,e ao saber através de minha mãe ,que se tratava de um ex jogador fiquei com imensa vontade de conversar com ele ,pois sempre amei futebol. Pessoal realmente maravilhosa toda vez se colocava a disposição para falar de sua vida futebolística . Enfim foi uma pessoa que passou, e deixou muita coisa boa para que pudéssemos aprender.

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  7. Parabéns para quem falou ai que ele jogou no meu pelotas.Eu era guri não perdia nenhum treino nem jogos do pelotas.Herminio baita zagueirão.Seus colegas no pelotas o chamavam de Sarrafo.abcs

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  8. Grande zagueiro. Formou ótima dupla ao lado de Figueroa e também do Pontes. Na final contra o Cruzeiro, em 1975, na minha opinião, fez uma partida fantástica! Descanse em paz!

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  9. Nos treinamentos do plantel do Internacional lá por 74-75-76, me lembro das canelas de alguns jogadores cheia de cicatrizes, Hermínio era o que mais tinha....ai se ficava pensando: Jogar futebol se fica assim? Depois em campo é que fui entender as "lesões" do futebol.....

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