Ricardo Goldbach
Foto: Michel Filho / Agência O Globo |
Assim, em prol do "uso da tecnologia para ampliar as capacidades humanas" (sic), os jornalistas de comportamento têm uma pauta a mais. Por até dois dias, talvez. Já no Youtube, prevejo o surgimento de mais de cem protovirais. Por semana.
Contei ao Mike sobre a novidade, e ele me perguntou: "Como assim, ampliar capacidades humanas? Já não existe desbloqueio de celular por reconhecimento facial, de impressão digital, de íris e de voz?" Mike acha que no fundo, lá no fundão, esse povo quer posar no panteão que perpetua os próceres da promoção do progresso, ao lado dos inventores da roda, da alavanca, do binóculo, da penicilina e das próteses -- estas sim, inteligentes -- que nascem nos laboratórios de bioengenharia.
Mike olha para a foto do sujeito com pequenas esferas de metal penduradas na ponta do dedo e pergunta candidamente: "Não seria mais eficaz implantar uma semente de melancia no pescoço e aguardar que a Natureza fizesse a sua parte?" É, pode ser, como diz o outro.
Mike analisa outra imagem -- um disco que gira magicamente, pendurado em um dedo -- e diz, pensativo: "Esse cara nunca mais poderá encostar em disquete, pendrive ou cartão de crédito..." Reflete mais um pouco, em silêncio, e em seguida pondera: "Mas o efeito manada vai ajeitar as finanças dos estúdios de piercing e tatuagem. Isso é muito bom, nestes tempos de malfeitos crimes acobertados contabilidade criativa maquiagem de balanços irresponsabilidade fiscal recessão desemprego em massa." Não posso deixar de concordar. Há um inegável efeito positivo no PIB.
Em outra matéria da mesma edição, leio que o "México tenta bater recorde de maior ‘selfie’ do mundo". Tudo a ver com tudo. Decididamente, a Humanidade avança a passos largos e inexoráveis -- para trás.
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