quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

"False arrests won't stop us covering Israel's occupation"

Ricardo Goldbach

Não gosto de fazer meros copy&paste, muito menos sem comentários meus, mas aqui vai uma importante relato sobre como a liberdade de imprensa está sendo cerceada pelo exército israelense na Cisjordânia.

Antigamente as identificações profissionais de jornalistas israelenses traziam a seguinte frase: "A polícia de Israel deve dar assistência ao portador deste documento."  Não mais. Segue o testemunho do jornalista Gideon Levy, do Haaretz, publicado hoje (25/12) e encerrado com a promessa: "Continuaremos a cobrir a ocupação [da Cisjordânia]."

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On Monday of this week we drove to the village of Artah, south of Tul Karm, to report yet another story of the evil of the occupation, this one particularly infuriating and sad. The photographer Alex Levac and I were in Artah, intending to return home to Tel Aviv. The soldiers at Checkpoint 407 were surprised to see Israeli Jews leaving from the direction of Tul Karm. We showed our press cards and told them that we had been accustomed to going everywhere in the West Bank for more than 25 years.

Thus began an episode in the theater of the absurd that lasted until evening. The Israeli army and the Israel Police kept us in custody for about the next nine hours. The soldiers confiscated our car keys and identity documents lest we run for our lives. We were not allowed to get out of the car, even for a moment. One insolent soldier was insulted on account of nothing and the police were summoned on account of nothing. The police did not even ask us what had happened – and just like that, we were “detained.”

We were put inside a “Caracal” – an armored, reinforced metal monster with barred windows – and we drove for about an hour to the Ariel police station. There we were questioned and fingerprinted. Mug shots were taken of us for the criminals’ photo album, and we were subjected to humiliation. On the way there, I thought about the Palestinian children whom these police arrest and place in this same metal monster and what they endure. The police officers said we were being “detained” – a euphemism for arrest. When we asked to go to the bathroom, the duty officer barked: Not without an escort. The detective said we were endangering national security.

The police station in Ariel is a place to see. There is a photograph of a rabbi on the wall of the interrogation room, and a thick-bearded man walked freely around the station, offering Hanukkah donuts to the police officers and asking if they had put on tefillin that day.

The allegations: violating an emergency order and insulting a soldier. The law books contain no statutes about insulting a journalist. Even as we were on our way to Ariel, we heard the false accusation that came from the army, and then the official statement of the Judea and Samaria District Police: We had spat at the soldiers. First the “murdering” pilots (which I never wrote), and now the “spitting libel” (I never spat on them). If we were suspected of having spat at soldiers, it is easy to imagine the intolerable ease with which the soldiers could say, falsely, that a Palestinian had pulled a knife at a checkpoint or threatened them a moment before they shot him dead.

This could have been a negligible story if it did not signal the ill wind that is blowing in the Israel Police and in the army: journalists are a nuisance (in the best case) and a hostile element (in any other case). Israeli press cards from years ago bore the following sentence: “The Israel Police is asked to assist the bearer of this card.”

It never occurs to the police in the territories to assist journalists; they usually try to sabotage their work, with the army beside them. Even the sanctimonious concern that IDF Spokesman’s Office personnel express for journalists’ safety – the explanation given for why any entry into Area A must be coordinated with that office – is flawed by a basic lack of understanding. Some professions are dangerous, and journalism is not doing its job by “coordinating” with the authorities. The authorities’ intention is clear: to close the West Bank to scrutiny, or at least to make it hard for journalists to work there. Gaza has been closed to Israeli journalists for about eight years – a scandal in itself – and journalists bow their heads in surrender. That must not be allowed to happen in the West Bank too, even if only a tiny group of people still shows the slightest interest in what goes on there.

They let us go in the evening. The Israeli Police’s APC brought us back to the checkpoint. The case awaits a decision. Another decision is obvious: We will keep on covering the occupation.


segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Carta aberta a Dilma Rousseff

ou "Chame o síndico!"

Ricardo Goldbach

É de embasbacar, dona Dilma, mas passados 14 anos desde que o Partido dos Trabalhadores assumiu o poder, Lula descobre que "o povo quer mais ética". É assim que ele classifica em seu blog o recado das eleições de 26 de outubro de 2014.

Dois erros, zero acertos e uma omissão. Em primeiro lugar, é de estranhar que só agora o óbvio seja admitido. Coisas da retórica, é o que pode ser dito em favor dele. E é só o que pode ser dito em favor dele, não mais.

Em segundo, não existe essa coisa de "mais ética", assim como não existe "meia ética"; trata-se de um conceito binário: existe ou não. Há caráter ou não há; existe a enorme necessidade de deturpar o idioma, com a sua asquerosa substituição de "crime" por "malfeito" e outras artimanhas igualmente orwellianas, ou não existe – e Orwell já dava lições de contabilidade criativa; está lá para quem tiver olhos de ver. Você viu, dona Dilma?

A conveniente omissão do seu mentor diz respeito ao fato de no 1º turno o Brasil ter rechaçado o ausente programa de governo do PT, dando ao partido 41,49% dos votos. Não é pouco, mas não é aprovação. Já no 2º turno, foi a baixaria que seus marqueteiros patrocinaram, que sua militância adestrada copiou e que não merece ser dissecada novamente.

Ainda está em meus ouvidos a demagógica fala final do seu discurso de posse em janeiro de 2011: "Agora, com licença, que eu vou cuidar do meu povo". Engano seu, dona Dilma: você não foi eleita nem reeleita para "cuidar do seu povo".

Mal comparando e bem descrevendo, uma chefa de governo – está bem, eu me rendo – não é mais que uma síndica de prédio, que recolhe e administra as taxas que mantêm funcionando um bem comum, ou uma res pública, como é o caso aqui, tudo de acordo com a Convenção do Condomínio. É só isso que o “seu povo” quer, já estará de bom tamanho. Então chega de amenizar seus próprios crimes com o infantojuvenil argumento de que "eles fizeram pior, eles roubaram mais que nós". Roubo, assim como ética, existe ou não existe. Não há doutor sem doutorado, dona Dilma, que me prove o contrário.

Faça então seu papel de síndica: pare de deixar o dinheiro da reforma do elevador ir para o novo carrão do subsíndico, evite que as lâmpadas de iluminação da portaria sejam compradas pelo triplo do preço do bazar da esquina. Explicando melhor: faça o serviço para o qual você foi contratada e é paga para fazer. E isso inclui execrar e perseguir os ladrões de ontem, desde que você, dona Dilma, tenha igual empenho para execrar e perseguir os de agora, desse minuto, desse segundo em que escrevo. Deixe de ser cartola de time de futebol, comece a ser chefa de governo. Ainda dá tempo. Vai começar o 2º tempo.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

O Gerente de Catecismo da Petrobras, esse jabuti

Ricardo Goldbach

Ontem um GE (gerente-executivo) da Petrobras reuniu funcionários para uma palestra. Lá pelas tantas, depois de tentar explicar o inexplicável, a refinaria de Pasadena, passou ao proselitismo político característico de sindicalistas guindados a posições para as quais estão absolutamente despreparados. Como se sabe, sindicalistas são preparados para ser... sindicalistas. Gestão são outros 500, jamais outros 13 ou 171.

Desperdiçando tempo e dinheiro da União, dos acionistas e dos funcionários concursados, ele reproduz diálogo que manteve(?) com um vizinho seu. Segundo minha fonte, foi algo assim:

- Viu que legal? O filho do porteiro entrou para a faculdade X. – diz ele.

- Que absurdo, é a faculdade onde meu filho estuda! Ele vai estudar ao lado de pobre?!  – indigna-se o vizinho.

Ora, esse tipo de doutrinação ideológica, essa incitação a uma pretensa luta de classes, esse diálogo fabricado em escritório de marquetagem, só convence a um indigente intelectual. Somente soa verídico para quem gosta de encarar a arena política como uma arena da Roma antiga, onde valia tudo e de onde apenas um combatente podia sair vivo. É assim que pensa e age a maioria dos militantes dos grandes partidos – sejam os da direita azul, da verde ou da vermelha, dessa ex-querda que envergonha a nação sempre que tem oportunidade.

Houve época em que se dizia, na esquerda (a antecessora da ex-querda), que a solução para o Brasil era minar o sistema por dentro. A saída era fazer parte da máquina e alterá-la aos poucos, uma vez lá dentro.

Mas, como sabiamente lembra Bakunin, trabalhadores despreparados, quando alçados ao poder, deixam de ser trabalhadores e passam automaticamente à condição de elite. E, como insiste a natureza humana, defender os próprios interesses é primordial, é disso que se trata. Essa é a ex-querda, um amálgama de despreparados e alianças pragmaticamente contraditórias.

Não é à toa que o lulopetismo faz tanta questão de execrar as elites (espertamente, sem dizer diretamente a quem se refere); antigamente, o consciente coletivo associava elite a banqueiros, sem um pestanejar que fosse. Hoje em dia o lulopetismo anda de braços dados com os favores dos bancos (vide balanços sempre recordistas), sem falar nas alianças capazes de fazer corar um prostíbulo inteiro, com Katia Abreu, Sarney, Collor et caterva. Como pega mal falar mal do aliado alugado, elite é elite e pronto. Cada um que imagine a elite que quiser.

Minar o sistema por dentro podia ser uma ideia interessante, mais produtiva do que dar tiros de tresoitão em um tanque verde-oliva. Por outro lado, esquecer-se do discurso original ao virar elite e mostrar, à luz do dia, que não há projeto substitutivo algum, só pode dar no que está dando. 

O PT lembra o cão que corre atrás de um carro, esgoelando-se de tanto latir, mas que fica quieto quando o carro para, e abana o rabo, com cara de bobo. O lulopetismo faz pior do que o cão: alcançou o que queria, virou elite e faz de conta que ainda tem vontade de latir. Com isso consegue enganar mais da metade do eleitorado. Só não percebe quem quiser fazer papel de bobo, quem quiser dar ouvidos aos Gerentes de Catecismo da Petrobras e assemelhados  a esses jabutis que aparelham o alto das árvores, lá colocados pelos que desejam o Palácio do Planalto como morada eterna.


terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Da série "tudo já estava escrito" (1)

Posses, prostíbulo 12:veículo 13

E no décimo ano
a maçonaria
de terras do norte
aliou-se ao óleo
de terras do sul.

E todos viram
que era bom
e todos se regozijaram.

E comemoraram
com cânticos de louvor,
vinho, tinta de caneta,
e muitas danças,
as novas e férteis alianças.

Em meio ao clamor
e ao júbilo,
os contratos cresceram,
prosperaram
e se multiplicaram.

E todos viram
que era bom
e todos se regozijaram.


Ricardo Goldbach
(publicado no ex-Facebook em 24/01/2012)

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Dilma não gosta de sinais vermelhos

Ricardo Goldbach

Este post dispensaria palavras, diante das duas emblemáticas imagens publicadas neste dia 04/12. Uma criança pobre refresca-se nas águas de um bueiro, enquanto um bocejante prócer da elite do PT aguarda sua parte do refresco, sob a forma de dinheiro público, para isentar a arrogante monarca presidente Dilma Youssef Rousseff do crime de responsabilidade que cometeu (leis 1.079/1950 e 12.952/2014) ao gastar demais e planejar de menos durante o exercício desenvolvimentista-populista-eleitoreiro-fiscal de 2014:

Foto: Givaldo Barbosa
Foto: Marcelo Piu




O fato é que Dilma gosta da cor vermelha, mas não gosta de parar em sinais vermelhos. Nada mais lógico então, segundo a lógica mafiosa adotada aqui no Venezuéxico, do que mandar seus bem pagos capos arrancarem da frente dela todos os sinais de trânsito. Pronto, ela fugiu do indiciamento e do processo. Outra criminosa malfeitora à solta.

Parafraseio o que creio ser de Luiz Almeida Marins:
"Não existe um país chamado Brasil; o que existe é um país chamado Brasília, e o resto é território de exploração."
E depois me pergunto: por que não colocarmos Luis Fernando Costa (a.k.a. Fernandinho Beira-Mar) na presidência da república e acabarmos, de uma vez por todas, com esses intermediários avermelhados (por interesse) e despreparados (por natureza)?