sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

O Gerente de Catecismo da Petrobras, esse jabuti

Ricardo Goldbach

Ontem um GE (gerente-executivo) da Petrobras reuniu funcionários para uma palestra. Lá pelas tantas, depois de tentar explicar o inexplicável, a refinaria de Pasadena, passou ao proselitismo político característico de sindicalistas guindados a posições para as quais estão absolutamente despreparados. Como se sabe, sindicalistas são preparados para ser... sindicalistas. Gestão são outros 500, jamais outros 13 ou 171.

Desperdiçando tempo e dinheiro da União, dos acionistas e dos funcionários concursados, ele reproduz diálogo que manteve(?) com um vizinho seu. Segundo minha fonte, foi algo assim:

- Viu que legal? O filho do porteiro entrou para a faculdade X. – diz ele.

- Que absurdo, é a faculdade onde meu filho estuda! Ele vai estudar ao lado de pobre?!  – indigna-se o vizinho.

Ora, esse tipo de doutrinação ideológica, essa incitação a uma pretensa luta de classes, esse diálogo fabricado em escritório de marquetagem, só convence a um indigente intelectual. Somente soa verídico para quem gosta de encarar a arena política como uma arena da Roma antiga, onde valia tudo e de onde apenas um combatente podia sair vivo. É assim que pensa e age a maioria dos militantes dos grandes partidos – sejam os da direita azul, da verde ou da vermelha, dessa ex-querda que envergonha a nação sempre que tem oportunidade.

Houve época em que se dizia, na esquerda (a antecessora da ex-querda), que a solução para o Brasil era minar o sistema por dentro. A saída era fazer parte da máquina e alterá-la aos poucos, uma vez lá dentro.

Mas, como sabiamente lembra Bakunin, trabalhadores despreparados, quando alçados ao poder, deixam de ser trabalhadores e passam automaticamente à condição de elite. E, como insiste a natureza humana, defender os próprios interesses é primordial, é disso que se trata. Essa é a ex-querda, um amálgama de despreparados e alianças pragmaticamente contraditórias.

Não é à toa que o lulopetismo faz tanta questão de execrar as elites (espertamente, sem dizer diretamente a quem se refere); antigamente, o consciente coletivo associava elite a banqueiros, sem um pestanejar que fosse. Hoje em dia o lulopetismo anda de braços dados com os favores dos bancos (vide balanços sempre recordistas), sem falar nas alianças capazes de fazer corar um prostíbulo inteiro, com Katia Abreu, Sarney, Collor et caterva. Como pega mal falar mal do aliado alugado, elite é elite e pronto. Cada um que imagine a elite que quiser.

Minar o sistema por dentro podia ser uma ideia interessante, mais produtiva do que dar tiros de tresoitão em um tanque verde-oliva. Por outro lado, esquecer-se do discurso original ao virar elite e mostrar, à luz do dia, que não há projeto substitutivo algum, só pode dar no que está dando. 

O PT lembra o cão que corre atrás de um carro, esgoelando-se de tanto latir, mas que fica quieto quando o carro para, e abana o rabo, com cara de bobo. O lulopetismo faz pior do que o cão: alcançou o que queria, virou elite e faz de conta que ainda tem vontade de latir. Com isso consegue enganar mais da metade do eleitorado. Só não percebe quem quiser fazer papel de bobo, quem quiser dar ouvidos aos Gerentes de Catecismo da Petrobras e assemelhados  a esses jabutis que aparelham o alto das árvores, lá colocados pelos que desejam o Palácio do Planalto como morada eterna.


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