ou "Chame o síndico!"
Ricardo Goldbach
É de embasbacar, dona Dilma, mas passados 14 anos desde que o Partido dos Trabalhadores assumiu o poder, Lula descobre que "o povo quer mais ética". É assim que ele classifica em seu blog o recado das eleições de 26 de outubro de 2014.
Dois erros, zero acertos e uma omissão. Em primeiro lugar, é de estranhar que só agora o óbvio seja admitido. Coisas da retórica, é o que pode ser dito em favor dele. E é só o que pode ser dito em favor dele, não mais.
Em segundo, não existe essa coisa de "mais ética", assim como não existe "meia ética"; trata-se de um conceito binário: existe ou não. Há caráter ou não há; existe a enorme necessidade de deturpar o idioma, com a sua asquerosa substituição de "crime" por "malfeito" e outras artimanhas igualmente orwellianas, ou não existe – e Orwell já dava lições de contabilidade criativa; está lá para quem tiver olhos de ver. Você viu, dona Dilma?
A conveniente omissão do seu mentor diz respeito ao fato de no 1º turno o Brasil ter rechaçado o ausente programa de governo do PT, dando ao partido 41,49% dos votos. Não é pouco, mas não é aprovação. Já no 2º turno, foi a baixaria que seus marqueteiros patrocinaram, que sua militância adestrada copiou e que não merece ser dissecada novamente.
Ainda está em meus ouvidos a demagógica fala final do seu discurso de posse em janeiro de 2011: "Agora, com licença, que eu vou cuidar do meu povo". Engano seu, dona Dilma: você não foi eleita nem reeleita para "cuidar do seu povo".
Mal comparando e bem descrevendo, uma chefa de governo – está bem, eu me rendo – não é mais que uma síndica de prédio, que recolhe e administra as taxas que mantêm funcionando um bem comum, ou uma res pública, como é o caso aqui, tudo de acordo com a Convenção do Condomínio. É só isso que o “seu povo” quer, já estará de bom tamanho. Então chega de amenizar seus próprios crimes com o infantojuvenil argumento de que "eles fizeram pior, eles roubaram mais que nós". Roubo, assim como ética, existe ou não existe. Não há doutor sem doutorado, dona Dilma, que me prove o contrário.
Faça então seu papel de síndica: pare de deixar o dinheiro da reforma do elevador ir para o novo carrão do subsíndico, evite que as lâmpadas de iluminação da portaria sejam compradas pelo triplo do preço do bazar da esquina. Explicando melhor: faça o serviço para o qual você foi contratada e é paga para fazer. E isso inclui execrar e perseguir os ladrões de ontem, desde que você, dona Dilma, tenha igual empenho para execrar e perseguir os de agora, desse minuto, desse segundo em que escrevo. Deixe de ser cartola de time de futebol, comece a ser chefa de governo. Ainda dá tempo. Vai começar o 2º tempo.
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