Abomino o copy&paste como forma de jornalismo, apesar de isto ser um lugar comum, nestes tempos em que blogs proliferam como cogumelos após a chuva. Nada contra o blog como ferramenta que sirva a algum propósito, mas tudo contra a publicação de textos do tipo "ouvi dizer que..." ou que sejam apócrifos e desprovidos de citação de fonte.
Se é o caso de se reproduzir algo recebido por e-mail ou lido em um outro blog, que ao menos haja um prudente e responsável trabalho de verificação. Pesquisa e verificação são dois conceitos que devem existir na cabeça do vivente antes mesmo da matrícula em uma faculdade de jornalismo, ou que ao menos sejam absorvidos no decorrer do curso.
O caso aqui é um texto que recebi por e-mail, que chamou minha atenção e me provocou a natural desconfiança quanto à veracidade. Encontrei o mesmo texto - com pequenas variações - em mais de 20 blogs; em nenhum deles há citação de fonte ou outro atributo visível de credibilidade. Todas as ocorrências se iniciam pela frase
"Eu já havia lido sobre a dificuldade de fazer beneficiários do Bolsa Família entrarem no mercado formal de trabalho no Nordeste".
Quem é "Eu"? Talvez eu tenha descoberto; havia uma nota igual, publicada na versão impressa do jornal Diário do Comércio (RS), na edição de 14 de agosto, segundo informa a versão online daquele mesmo jornal. Por estar na coluna Painel Econômico, assinada pelo jornalista Danilo Ucha, considero a nota merecedora de crédito. Fica apenas a dúvida sobre como um jornalista do Rio Grande do Sul teria testemunhado uma reunião da Federação das Indústrias do Estado do Ceará. Mas, ainda acreditando em um jornalista, reproduzo a nota:
"Bolsa Família
Eu já havia lido sobre a dificuldade de fazer beneficiários do Bolsa Família entrarem no mercado formal de trabalho no Nordeste e até achava que havia um pouco de política de oposição na história. Ontem, em reunião na Federação das Indústrias do Estado do Ceará, vi a história, contada e documentada, e bem pior do que eu imaginava. O Sinditêxtil-CE realizou um curso de preparação de mão de obra de 500 costureiras para o setor, onde está faltando gente. Das 500 mulheres que fizeram o curso, nenhuma ficou empregada, para decepção dos organizadores e das empresas que esperavam pelas novas empregadas. “Nenhuma, nenhuma aceitou o emprego porque teria que ter a carteira de trabalho assinada e, assim, perderia o benefício do Bolsa Família”, informou Franze Fontenelle, “foi muito triste para nós.” Todas queriam trabalhar se fosse informalmente, isto é, ficar com dois salários".
fonte: versão online do jornal Diario do Comercio
Então ficamos assim: aparentemente é fato que o Bolsa-Família, ao não prever a situação noticiada, tenha feito jus à pecha de assistencialismo que não raro é atribuída a ele. Mais ainda, o programa também teria servido de alavanca para o desperdício do dinheiro gasto pelo Sindicato com a formação das profissionais que optaram por não trabalhar ao final do treinamento, preferindo receber a esmola oficial.