Ricardo Goldbach
Das descobertas serendípticas aos resultados obtidos pela perseverança que contorna obstáculos, a história da caminhada humana na face da Terra registra achados movidos tanto pelos ditames da macroeconomia quanto pelo lampejo nascido de necessidade imediata de resultado. Mas a Ciência vive de alimento - tanto espiritual quanto material - para existir e permanecer. Em troca, novos achados realimentam a possibilidade de novas conquistas. Não à toa, justamente na mais antiga universidade ainda em funcionamento no mundo ocidental, a Universidade de Bologna, foi estabelecida a conotação acadêmica para alma mater (do latim, "mãe que nutre") já em sua fundação, em 1088. A Universidade é uma nutriz.
Em 2008, gravei entrevista com o Chefe do Laboratório de Entomologia do Instituto Oswaldo Cruz e Pós-Doutor em Entomologia Médica pela University of Massachusetts Medical School, Anthony Érico da Gama Guimarães. O gancho era a grande escala atingida pela epidemia de dengue no Brasil e cuja intensidade oscilava entre os períodos de pico, apesar de existir permanente latência da ameaça. Mas a dengue é na realidade uma endemia, como a Secretaria Municipal de Saúde de Campinas (SP) já alertava em 2000, em Boletim Epidemiológico: "Há uma expansão contínua da endemia de dengue no planeta".
Dez anos mais tarde, onde estamos? Num quadro de recrudescimento da expansão da endemia e do aumento do número de notificações e dos óbvios impactos na sociedade, para além dos aspectos da Saúde. Segundo a Agência Brasil, por exemplo, o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, seção Rio de Janeiro (AbihRJ), Alfredo Lopes de Souza Júnior, informou que, em março de 2009, mais de 1.500 sites registravam "em todo o mundo, o nome dengue vinculado ao Rio de Janeiro". Neste mesmo ano de 2009, assistimos o nascimento de uma hecatombe sanitária conhecida como "gripe suína" - novas ameaças surgem, sem que as antigas tenham sido neutralizadas.
Enquanto isso, no Instituto Oswaldo Cruz, o cientista Anthony Érico prossegue em suas pesquisas no sentido de lapidar uma descoberta sua: o efeito biocida de determinadas plantas da Mata Atlântica sobre as larvas do Aedes Egypti, sem quaisquer efeitos nocivos para seres humano ou animais. Há na flora brasileira um insumo para a produção de importante coadjuvante no combate à dengue, cuja fabricação e uso dispensam pagamento de royalties às farmacêuticas multinacionais...
Maior do que o alto custo do combate aos efeitos das doenças, é o preço pago por não se alocar generosamente os recursos de que a Ciência precisa para assentar mais tijolos na construção de conhecimento no Brasil. Tais recursos seriam - suponho - muito menores do que, por exemplo, os custos burocráticos consumidos apenas nas meras atividades administrativas de registro e divulgação das baixas e fatalidades desta guerra sem fim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário